Minha Pessoa Comum - Livro 1 - Série Encantadores

Capítulo 9

Passo a noite inteira acordada com o celular na mão. Por volta das 5 da manhã, mando uma mensagem para Mrs. Ghorbani dizendo que vou embarcar perto da hora do almoço e que quero me despedir de sua família antes de partir. Só a ideia de abandonar as meninas dois meses antes do necessário já deixa o meu peito apertado. Eu sabia que essa despedida aconteceria mais cedo ou mais tarde, mas eu preferia que fosse mais tarde. E definitivamente não por uma ameaça Heller.

Eu queria ir para Ottawa de carro, carregando as minhas coisas, e com a possibilidade de voltar para Calgary também de carro nas datas comemorativas para ver a minha mãe e os Ghorbani. Para ver a bebê Haley crescendo de tempos em tempos. Mas, pelo que me parece, Calgary não será mais um lugar para o qual poderei voltar se Hellers realmente puderem me localizar por proximidade.

Gasto algumas horas da minha madrugada, enquanto Shane dorme na cama de cima, pensando no motivo para um Heller ter me atacado. Presumo que ele tenha o feito por saber que sou uma Encantadora Mijin, mas não faço ideia do que me denunciou.

Tudo bem, eu pareço esperta, mas não sou tão esperta assim. Faço diversos encantos durante o dia, dentro e fora de casa e se esse Heller me viu praticando na rua, ele pode ter conectado os pontos. Mas como eu iria imaginar que existe uma classe de não-Encantadores que poderia me atacar? Ainda mais num lugar com tanta gente como o auditório no dia da formatura? Não teria sido mais fácil me emboscar e me atacar sozinha?

Começo a pensar que talvez os Hellers que me acertaram não saibam quem eu sou, porque essa estratégia deles não faz sentido. Eles não teriam matado dezenas de pessoas inocentes se o objetivo fosse apenas me atingir.

Droga, acho que vou ter que conversar com o meu pai sobre o assunto. E só de pensar nele, eu já sinto o peso da mágoa.

O sol nasce por trás das cortinas azuis de Shane e sei que o seu despertador vai tocar às 8:30 porque foi a hora que ele o programou. Pedi para que Shane nos acordasse neste horário para podermos ligar para Jake e ainda correr até a casa dele caso Jake diga que precisa de nós.

Shane perdeu o seu celular na confusão de ontem à noite, então acho que teremos que ligar para Jake pelo telefone da casa. Não sei se Jake tem o telefone da casa de Shane registrado em seu celular, mas se tiver, espero que não evite atender a ligação por saber que é o nosso amigo ligando. Não sei se consigo entrar no avião sem ouvir a voz de Jake e saber como ele está. Este pensamento está acabando com a minha paz. Ainda mais porque prometi a ele no meu sonho que faria tudo o que estivesse ao meu alcance para que voltássemos a ficar juntos e vou cumprir.

Eu vou cumprir, nem que seja a última coisa que eu faça.

8:30 o despertador toca e Shane quase o lança contra a parede. Nos deitamos depois das 4 e eu sei como Shane fica quando não dorme direito. Enquanto ele vai lavar o rosto, desço as escadas para buscar o telefone da casa. Shane ainda demora um pouco para retornar ao quarto com a cara lavada e os dentes escovados.

– Você liga – digo a ele, entregando o telefone sem fio em suas mãos.

– Ok. Me dá o número.

Mostro a ele o celular de Jake no meu aparelho e ele digita os números lentamente. Não sei se o seu cérebro está devagar e por isso ele está levando tanto tempo para apertar o botão de discar ou se é porque ele está ansioso para falar com Jake. Bem, eu estou. Acho que ele está também.

– Jake? – Shane diz ao telefone e eu imploro para que ele coloque no viva-voz.

Quando Shane o faz, ouço a voz embargada de Jake do outro lado da linha. Ele começa a chorar de um jeito contido enquanto fala com Shane no telefone.