Capítulo 22

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É claro que as minhas corridas ao ar livre com Dean acabaram no instante em que a temperatura ficou negativa, lá pro começo de novembro. Para quem está acostumado a ir para a academia – e veio de Vancouver ainda por cima – , é impensável correr no frio. E confesso que uma parte de mim ficou preocupada com Dean correndo no frio sem estar acostumado por causa do seu histórico de saúde. Sei que ele já saiu daquela fase há 10 anos, mas é melhor não arriscar.

Tenho me sentido muito bem correndo toda manhã com ele, depois indo para a aula e terminando o meu dia trabalhando no bar ou trabalhando com Cass ou fazendo os exercícios que meu pai me ensinou para produzir mais Enon.

É sensacional ter 350 pontos de Enon, mesmo que 100 deles estejam sendo usados com os meus constantes. É uma sensação de equilíbrio, foco e tranquilidade que eu nunca pensei que fosse sentir antes. Apesar da marca pulsar de vez em quando nas minhas costas, eu não tenho deixado a energia Heller me dominar e muito menos os meus pensamentos.

Devo admitir que esta rotina intensa me faz voltar cansada para casa, mas faz parte. Às vezes fico no bar até 2 da manhã, às vezes fico até esse horário entoando encantos e flexibilizando o meu Enon, às vezes estou tão exausta que mal termino as minhas tarefas diárias e caio na cama. Outro dia dormi no sofá enquanto aguardava Cass terminar a sua sessão sozinha. Dean quase teve que me levar no colo até o meu quarto porque eu meio que dormi no ombro dele. Mas fora isso, as aulas têm sido incríveis e a minha relação com o meu pai mudou um pouco.

Ele disse que desde o começo das aulas, dois meses e meio atrás, a nossa compatibilidade aumentou e eu tenho percebido isso também. Sinto aquela empolgação em ir para a faculdade aprender com ele, como eu sentia quando era pequena e ele dizia que me mostraria algo novo.

Porém, ainda não consigo tratá-lo como tratava antes dos 12 anos de idade. Acho que porque tenho medo de me magoar de novo. Deve ser isso.

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7:12 p.m.

Cass entra no bar com um sorriso estampado no rosto. Ela pintou o cabelo de turquesa ontem de tarde e ficou lindíssima. Não que não estivesse bonita antes. Eu a considero atraente, pelo menos para os meus padrões. Tenho certeza de que Shane pensa o mesmo.

Ela carrega consigo uma bolsa com a sua câmera profissional e logo se senta no bar, onde estou preparando alguns drinks para a meia dúzia de clientes que entrou junto com as moscas no bar hoje. Desde que o frio começou, o movimento caiu bastante. Fora que estamos na iminência de uma tempestade de neve esta noite, então acho que ninguém está muito animado para vir jantar no bar, não.

– Bonjour – minha amiga diz.

Temos conversado entre nós em francês para eu desenferrujar as minhas habilidades com a língua. Achei que fosse utilizá-la mais aqui em Ottawa, mas ainda existe uma preferência quanto ao inglês que me obriga a praticar em casa.

– Você precisa ver as fotos que eu tirei do Shane no trabalho hoje – ela diz.

Shane está trabalhando em uma oficina mecânica. Como ele gosta de carros, logo se encontrou nesse novo trabalho. Novo porque já é o quinto desde que ele se mudou para Ottawa. Este está durando mais tempo, mas também não sei se ele vai conseguir fechar um mês inteiro por lá.

– Por que você foi até o trabalho dele para tirar fotos do Shane? – pergunto confusa.

– Então, eu tenho dois grandes projetos por semestre e se eu me der bem nestes projetos, eu posso participar da exposição que vai ter no final do ano na faculdade. Desta vez eu decidi tirar fotos de pessoas trabalhando.

Minha Pessoa Comum - Livro 1 - Série EncantadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora