2:46 a.m.
Acordo de um pesadelo com Jake. Costumo sonhar com ele pelo menos uma vez por semana, mas esta é a primeira vez que desperto assustada. E, para piorar, minha marca pulsa como um alien esperneando nas minhas costas. Não vou conseguir dormir de novo desse jeito, ainda mais impressionada com o meu pesadelo.
Nele, Jake se despediu de mim, entrou em sua caminhonete e rumou para longe. Mais longe do que Calgary e de forma definitiva. Lembro da angústia e das lágrimas que brotaram no meu rosto ao vê-lo partir. Sei que este pesadelo só veio até mim porque meu pai me disse que era melhor parar de fazer os exercícios que me ajudaram a produzir mais Enon e agora me vejo sem alternativas para o meu plano de quebrar o encanto de Jake. E o inferno do alien nas minhas costas também deu o ar da graça para demonstrar a sua insatisfação com a situação. Ainda mais após ver a foto que Cassandra tirou.
As trevas brotando das minhas costas e envolvendo todo o meu dorso, além de parecerem me abraçar enquanto eu tombava no chão, me deixaram nauseada. Me pergunto se durante o meu encanto eu fiz a máquina captar informações extra sensoriais e por isso a imagem ficou alterada. Pode ter sido alguma intenção errada também, já que perdi Enon imediatamente depois.
Ou pode não ter sido nada disso.
Cass pode saber mais do que realmente está me dizendo. Ela pode ser uma Heller e ao me ver perdendo Enon, resolveu brincar comigo.
Puta que pariu.
Me levanto da cama e saio do quarto. Sei, ou acho que sei, que Cass jamais faria algo para me prejudicar, mas se ela for uma Heller, esse discurso cai por terra e eu corro sérios riscos dormindo ao seu lado todas as noites.
Desço para o porão e me sento na cadeira da cozinha. Preciso pensar em algo rápido e que me ajude a decidir se devo ou não confiar nela. A única coisa na qual consigo pensar envolve encantos e perder Enon pelas pontas dos meus dedos.
Mando uma mensagem de texto para Shane, torcendo para que ele esteja acordado agora, mas eu duvido muito. Com esse emprego novo, Shane às vezes chega tão esgotado em casa que sequer toma banho antes de apagar no sofá. Minha ideia é perguntar se ele já viu a assinatura de Cass, torcendo muito para que sim. Digo, além da assinatura do meu pai, eu nunca busquei ver a assinatura de mais ninguém. Acho invasivo e desrespeitoso. Não me senti à vontade quando o meu pai expôs aos meus colegas todas as minhas interações mais fortes e tenho certeza de que não sou a única a pensar desta forma.
Baixo a cabeça contra a mesa porque preciso cessar essa confusão que acabou com minha tranquilidade. Respiro algumas vezes. 4, 7, 8, 4, 7, 8. Não sei em quanto tempo me sinto mais calma para raciocinar com clareza, mas após alguns ciclos respiratórios estou pronta para me aproveitar da minha lógica inata e aplicá-la ao meu dilema.
Se Cass fosse uma Heller, ela teria ficado diferente comigo ao saber sobre o creme. Afinal, creme nenhum faz milagre e só uma mente comum não assumiria que a resposta óbvia para os poderes sobrenaturais de um creme tem origem em um encanto.
Se Cass fosse uma Heller, ela não gastaria seu tempo me pregando uma peça. Ela esperaria o momento mais oportuno para abrir um canal e me desintegrar, pois com todas as nossas interações, a minha energia está em sua assinatura e vice-versa.
Se Cass fosse uma Heller, eu tenho certeza de que a minha infecção teria me feito intuir, perceber, notar, desconfiar de algo. Esse bicho nas minhas costas, que às vezes se apossa sem autorização dos meus pensamentos e atos, não está comigo só para me enlouquecer. Às vezes ele é legal. Tão legal que sinto até vontade de dar um nome para ele algum dia.
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Minha Pessoa Comum - Livro 1 - Série Encantadores
Fiksi RemajaHaley vive o romance perfeito com Jake, seu namorado há 3 anos. Apesar de namorarem escondido, tudo sempre foi ótimo entre os dois. Até o dia em que eles quase são pegos em seu quarto e ela precisa tomar uma decisão que faz o seu namoro ir por água...