Capítulo 24

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4:45 p.m.

Desde que meu pai começou a nos ensinar sobre Hellers, tenho me sentido um pouco triste. Acho que tem a ver com a ideia de deixar as minhas pimpolhinhas órfãs. Pensei em perguntar ao meu pai se, como filha de Hellers, as meninas também precisariam ser desintegradas, mas acho que prefiro morrer a desintegrar duas crianças inocentes e fofas como elas.

Pela primeira vez em toda a minha vida eu desejei não ser uma Encantadora e confesso que senti até um pouco de vergonha da nossa missão. Shane disse que esses sentimentos e pensamentos recorrentes que tenho tido a este respeito são por culpa de Marvin, mas caramba, quem com um mínimo de amor ao próximo ficaria bem ao saber que precisa matar pessoas tão queridas?

Estou inconformada com este assunto e agora tudo o que eu quero é chegar logo em casa, aproveitar o meu dia de folga para me distrair com qualquer coisa que não envolva a minha vida como Encantadora.

Ser uma pessoa comum deve ser uma benção.

Pena que não existe essa opção para mim. Nem perdendo todo o meu Enon. Perdê-lo só iria me matar, na verdade, o que não me ajuda em nada.

Caminho lentamente em direção à minha casa após deixar Shane em seu apartamento. Hoje ele completa um mês no seu novo trabalho e está adorando. Fico feliz em vê-lo curtindo o que o sustenta porque em todos os seus outros empregos, Shane ficava se lamuriando de ter que sair para trabalhar. Este não.

Faço a curva para entrar no jardim da minha casa, mas ouço o meu nome sendo chamado na rua. Me deparo com Dean saindo de seu carro preto com alguma coisa na mão e um sorriso tímido no rosto.

Não entendo esse sorriso tímido e por que ele ainda é tímido. Nos vemos praticamente todo dia por pelo menos 1 hora e meia há um mês e meio e ele continua sorrindo para mim um pouco sem jeito.

– Hey, Cowboy – digo cansada. Forço um sorriso para quebrar o meu desânimo.

– Hey... Hoje é seu dia de folga, né? – ele me pergunta.

– Você anda monitorando as minhas folgas? – pergunto com um falso semblante bravo enquanto apoio as mãos nos meus quadris. Espero que ele tenha se tocado de que estou brincando.

– É que são 4:50 e em vez de você estar no trabalho, está aqui, então achei que fosse a sua folga.

– Sim, é a minha folga – digo enquanto vejo ele se aproximando devagar de mim.

Ele enfia as mãos dentro dos bolsos do casaco, me parecendo um pouco envergonhado. Até coçar a cabeça e olhar ao redor ele faz.

Dean é uma gracinha, assim com esse jeito de menino.

– Você tem planos pra hoje? – ele me pergunta.

– Eu pretendia ficar em casa. Como sempre. Por quê?

Dean puxa novamente o objeto de suas mãos para fora do bolso do casaco e me mostra dois papéis retangulares e pequenos ali.

– Eu ganhei esses ingressos de aniversário. Pra assistir um jogo de basquete e eu queria chamar você pra ir comigo – ele diz. – Não é um jogo grande, é só um clássico daqui da cidade mesmo. Carleton x UOttawa.

Calma, muita informação ao mesmo tempo.

– Seu aniversário? – pergunto confusa e ele assente com a cabeça. – Parabéns!

Vou até Dean e dou um abraço bem apertado nele. Mas me afasto no instante em que sinto algo estranho e me lembro de um fato mais estranho ainda.

Minha Pessoa Comum - Livro 1 - Série EncantadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora