Capítulo 10

90 11 0
                                    

6:40 p.m.

– Obrigada, Professor Montgomery – digo.

Meu pai fecha o sorriso com a frieza da minha resposta e tratamento a ele e em seguida o abre de novo para cumprimentar Shane, que aperta a sua mão com uma empolgação que o meu pai nunca vai conseguir arrancar de mim.

– Shane, né? É um prazer finalmente te conhecer – meu pai diz. – Ouvi muitas histórias sobre você.

– Ouviu? – pergunto confusa.

– Sim. – Meu pai nos guia em direção ao estacionamento do aeroporto após pegar uma das minhas malas e carregá-la para mim. – A Lucy sempre me conta sobre você e os seus amigos.

Não sei se o meu pai está mentindo, mas até esta madrugada, eu sequer sabia que a minha mãe tinha o telefone dele. Ela nunca fala sobre ele. Do tipo, nunca mesmo. E eu tampouco. É o assunto proibido da casa. Pelo menos, era.

– Eu também ouvi coisas incríveis sobre o senhor – Shane diz. – Tudo o que eu sei hoje foi a Haley que me ensinou e sei que foi o senhor que ensinou a ela.

– Oh – meu pai soa surpreso. – Eu não sabia que você esteve praticando nos últimos anos – ele se dirige a mim.

Não preciso dar satisfações da minha vida a ele. Se ele quisesse saber sobre mim, teria me ligado nos últimos 5 anos, o que ele não fez. Preferiu ligar para a minha mãe escondido e evitar falar comigo durante todo esse tempo.

Não respondo. Só continuo seguindo em direção a um carro que meu pai demonstra ser o dele. Quando ele desliga o alarme, vejo o carro piscando e me mantenho em silêncio por todo o caminho até lá. Colocamos nossas bagagens na mala e eu me sento no banco de trás porque sei que Shane precisa de um espaço grande para as suas pernas e só o banco da frente vai oferecer isso a ele. A decepção no rosto do meu pai é notória quando me sento exatamente atrás de sua cadeira, impedindo que faça contato visual comigo.

– Bem, tem algum lugar que vocês queiram passar antes de irmos para casa? – meu pai pergunta. – Farmácia? Mercado?

– Ah, acho que podemos ir ao mercado depois sozinhos – Shane diz. – Estamos bem cansados, a noite foi um bocado turbulenta.

– A Lucy me contou – meu pai comenta.

Ele ajusta o retrovisor para conseguir me ver e assim que noto isso, encaro o lado de fora da janela. Sei que cortar o nosso contato visual não o impede de estar no mesmo lugar que eu e muito menos evita que eu vá parar na sua casa dentro de alguns minutos, mas não quero ser obrigada a interagir com ele mais do que já serei em uma sala de aula a partir de setembro.

Se ele acha que agora vai conseguir passar por cima dos 5 anos que ignorou a minha existência dizendo "bem vinda de novo, FILHA", ele está redondamente enganado.

– Sua mãe me disse que você foi infectada por um Heller – meu pai puxa assunto. – Você está se sentindo bem?

– Ótima – respondo, seca.

Me sinto uma criança me comportando desse jeito. Mas a mágoa está vibrando dentro do meu corpo e eu não consigo evitar.

– Ela disse que está se sentindo bem e com os pensamentos claros, mas eu acho que a energia Heller dentro dela está a deixando confusa – Shane diz.

– Shane – chamo a atenção dele.

– Me desculpa, Haley, mas a sua mãe disse que era para você conversar com o seu pai sobre isso e, se você não quer saber o que a energia Heller faz dentro do seu corpo, eu quero. Daqui a pouco você se desintegra sozinha e eu não vou saber nem explicar para a sua mãe o que aconteceu.

Minha Pessoa Comum - Livro 1 - Série EncantadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora