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O Hospital Público MS, na cidade de São Paulo, era o hospital mais antigo da capital e do país. Durante todas as catástrofes (incêndios, enchentes, epidemias, endemias) era nele que os pacientes eram levados e tratados, bem ou mal. 

É um prédio enorme, mal cuidado, ocupando mais de quatro quarteirões, com prédios interligados por passarelas suspensas, com as paredes já sujas de fuligem acumulada ao longo dos anos.

Nesse hospital há mais de três mil pessoas empregadas, inclusive trezentos médicos da equipe permanente, cinquenta médicos voluntários em horários parciais, cento e dez residentes e mais de setecentos enfermeiros(as), fora o pessoal de assessoria. Nos dois últimos dos sete andares do edifício ficavam as dez salas de cirurgia, banco de órgãos, enfermarias (CTI e UTI). Nos demais, os consultórios, ambulatórios e leitos, que totalizavam quase duas mil vagas.

Logo após a entrada principal, há um grande salão de espera, com bancos de madeira e outros de cimento que foram construídos posteriormente para suprir a demanda dos doentes e seus acompanhantes e lá se encontravam os novos residentes que iniciariam hoje o sonho de trabalhar como médicos.

Agora, no dia da chegada dos novos residentes, em janeiro, o doutor Pedro Munhoz, administrador do hospital, levantou-se para lhes falar. Parecia um político, porte e voz. Era um homem alto, de aparência impressionante, na casa dos 55 anos, com um charme suficiente para se insinuar para os rostos ansiosos que o encaravam.

___ Dou as boas vindas a todos vocês, os novos médicos residentes. Durante os dois primeiros anos da faculdade de medicina, trabalharam com cadáveres. Nos dois últimos, trabalharam com pacientes de hospital, mas sob a supervisão de médicos experientes. Porém, AGORA, vocês é que serão os responsáveis por seus pacientes. É muita responsabilidade e que necessitará de vocês dedicação, discernimento e muita, mas muita habilidade.

Os presentes o olhavam fixamente, absorvendo cada palavra dita. E ele continuou:

___ Alguns de vocês planejam se especializar em cirurgia, outros serão internos. Assim, cada grupo terá como responsável um residente sênior, que lhes explicará a rotina diária. Daqui por diante, tudo o que fizerem poderá acarretar a sobrevivência ou a morte dos seus pacientes.

Parou de falar, tomou um gole de água olhando para todos com seus olhos de águia astuta e continuou:

___ O Hospital Público MS pertence ao povo, atendendo, normalmente, pessoas carentes que não possuem plano de saúde. Isso significa que aqui qualquer pessoa doente que apareça é atendida. Nossas salas de emergência se mantém ocupadas vinte e quatro horas por dia. Vocês terão excesso de trabalho e o salário não é dos mais atraentes. Só para efeito de comparação, em um hospital particular o primeiro ano de vocês consistiria de trabalhos subalternos rotineiros. No segundo ano, teriam permissão para entregar um bisturi ao cirurgião e, no terceiro, poderiam realizar pequenas cirurgias, mas sob supervisão. Esqueçam tudo isso! Aqui, nosso lema é "Observem uma, façam uma, ensinem uma.". Não pessoas suficientes aqui, e quanto mais rápido vocês puderem atender de todas as formas os pacientes, melhor.

Suspirando fundo...

___ Alguma pergunta?

Claro que nenhum dos novos residentes perguntou nada.

___ Ótimo! O primeiro dia oficial de vocês começa amanhã. Deverão se apresentar na recepção principal às quatro horas da manhã. E... boa sorte!

Assim, a reunião terminou. Após a saída do doutor Pedro Munhoz, todos se levantaram e começaram a conversar, dirigindo-se para a saída. Nesse meio tempo, sobraram três rapazes que se olharam e o mais alto deles se apresentou:

___ Oi! Sou Maurício Souza. - disse o mais alto deles, 1,90cm, cabelos loiros curtos e incríveis olhos azuis. Com um ar inteligente e confiante.

___ Muito prazer. Sou Marcos Silva. - respondeu e se apresentou o único negro entre todos os outros residentes. Com mais de 1,85cm, ossatura larga sem ser gordo, dentes perfeitos e sorriso contagiante.

Ambos olharam para o terceiro rapaz, que apressadamente se apresentou:

___ Muito bom conhecê-los. Sou Márcio Santos. - ele falava com sotaque caipira, do interior do estado. Era mais baixo que os outros dois, com cabelos e olhos castanhos, corpo normal (nem magro nem gordo).

___ Sou de Campinas. - disse Maurício.

___ De Ribeirão Preto. - Marcos complementou.

___ Sou o que vim de mais longe. Minha família e eu somos de São José do Rio Preto. - afirmou Márcio.

___ Onde estão hospedados? - questionou Maurício.

___ Eu estou em um hotel aqui perto. - Marcos disse.

___ Ainda não resolvi onde ficarei. Por enquanto, estou em uma pensão. - respondeu Márcio.

Com um belo sorriso no rosto, Maurício disse:

___ Bom... cheguei há uma semana e, por um acaso, vi um anúncio de um apartamento que possui três quartos, mas sozinho não tenho condições de alugá-lo...

Os outros dois se entreolharam.

___ Se nós três o partilhássemos... - sugeriu Maurício.



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