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Ao iniciar o quarto ano de residência, Maurício já assistira em dezenas de cirurgias. Era como se fosse algo natural para ele, inerente ao seu ser, à sua natureza. Sabia todos os procedimentos de cor e salteado para vesícula, baço, fígado, apêndice e, o que mais o emocionava, o coração! Mas, como nada era como idealizara um dia, sentia-se frustrado já que não realizara nenhuma operação ainda. Lembrava-se pensativo das palavras do doutor Munhoz no primeiro dia de residente "Assista uma, faça uma e ensine uma"...

Mais rápido do que esperava, a resposta para suas indagações veio quando o doutor Éverton Rodrigues, chefe da cirurgia, convocou sua presença na sala dele.

___ Doutor Maurício, bom dia. Há uma operação de hérnia marcada para amanhã, às 7h30, na Sala de Operações 3.

Maurício anotou tudo e perguntou?

___ Tudo bem. A quem vou assistir?

___ Você mesmo.

___ Ok. Eu... Eu?

___ Sim. Algo errado?

O sorriso de Maurício iluminava a sala toda.

___ N-não senhor... obrigado pela confiança!

___ Você está mais que pronto para esse e outros procedimentos. A paciente tem muita sorte por ter você no comando. O nome dela é senhora Maria das Graças Siva, e está internada no apartamento 110.

___ Tudo bem. – respondeu Maurício e saiu feliz e excitado como nunca havia se sentido em toda a sua vida...

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A senhora Maria das Graças estava com sessenta anos, era meio gorda, bonachona e estava nervosa, deitada na cama olhando tudo ao redor. Quando Maurício chegou ao apartamento 110, trazia em suas mãos em buquê de flores para sua paciente. Ao recebe-lo, ela o fitou:

___ Para mim? Obrigada. Por favor, enfermeiro, chame o médico que vai me operar? Quero conhece-lo e conversar com ele.

Maurício ficou assustado e triste.

___ Dona Maria das Graças, sou seu médico. Vou operá-la.

Ela o fitou surpresa.

___ Você? Mas é muito novo! E por que me trouxe essas flores? Para meu enterro?

Maurício, mais surpreso ainda, olhou-a e respondeu:

___ Não, claro que não! A senhora está em boas mãos. – disse, pegando a ficha da paciente e lendo-a.

___ O que está escrito aí? – quis saber a senhora cada vez mais aflita.

___ Que a senhora vai ficar bem.

Ela engoliu em seco.

___ É você mesmo que vai me operar?

___ Sim, com certeza. – respondeu sorrindo jovialmente, Maurício.

___ É muito jovem para isso... – disse a senhora.

Ele pegou na mão da paciente, apertando-a e respondeu calmamente:

___ Nunca perdi nenhum paciente! A senhora está confortável? Quer que eu peça a alguma enfermeira para que lhe traga uma revista ou algo que deseja?

Ela o escutava e observava atentamente ficando nervosa cada vez mais...

___ Não... estou bem... acho...

___ Tudo bem. Nos veremos amanhã de manhã, então. – informou-a – Aqui está o meu telefone pessoal – disse entregando-lhe um cartão. – Se precisar, pode ligar, pois estarei de prontidão.

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