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Surpreendentemente, alguns residentes simplesmente desapareceram do hospital e das rondas devido à pressão exercida pelo local de trabalho e pelos plantões exaustivos. Tanto Márcio, quanto Marcos e Maurício pensaram quase que simultaneamente "Isso não acontecerá comigo."

Realmente, a pressão era grande e diária!

Certo dia, ao final de um dos plantões de trinta e seis horas consecutivas, Maurício sentia-se tão cansado que não tinha a menor ideia de onde estava. Foi andando tropegamente até o elevador e ficou ali, parado, em frente à porta que abria e fechava, abria e fechava. Um outro residente, Rian Oliveira, aproximou-se com o semblante preocupado e disse:

___ Você está bem, Maurício?

___ Estou ótimo! – brincou Maurício fazendo o outro sorrir.

___ Realmente, parece ótimo!

___ Muito obrigado! – fechou os olhos, massageou as têmporas e completou – Por que fazem isso conosco?

___ Dizem que tudo isso, essa pressão e a correria diária fazem com que conheçamos a fundo os pacientes, suas doenças, o funcionamento do hospital. Pensam que se formos para casa todos os dias, deixando tudo isso para traz, não saberemos o que acontece durante a nossa ausência aqui.

___ Faz sentido... ou não faz? – respondeu Maurício – Mas como vamos cuidar adequadamente deles se estamos sempre dormindo ou cansados ou estressados? Assim, é muito mais fácil cometer erros!

___ Vai saber... infelizmente, não sou eu quem faço as regras. Pelo jeito é assim em todos os hospitais. Você tem certeza de que está bem? Conseguirá chegar em casa com segurança?

___ Claro!

___ Bom... cuide-se! Não quero que seja meu paciente. – respondeu Rian sorrindo e afastando-se pelo comprido corredor.

Maurício entrou no elevador e foi acordado por outro residente ao chegarem ao térreo.

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Havia diariamente todos os tipos de pacientes! Eles apareciam, parecia, que aos bandos. Alguns corajosos, outros medrosos e agressivos, outros resignados com suas moléstias. Mas todos tinham algo em comum: era seres humanos que sofriam e, na maioria das vezes, estavam sozinhos, abandonados à própria sorte pela família, pelo marido, pela esposa, pelo namorado ou namorada. Amigos? Esses sumiam e, raramente, visitavam algum enfermo.

Também, com o passar dos dias e semanas, Márcio, Marcos e Maurício perceberam e comentavam entre si quando se encontravam, sobre os funcionários do hospital. Havia médicos, enfermeiras, residentes e pessoal do administrativo excelentes profissionais, porém, havia também aqueles que estavam ali apenas pelo dinheiro e executavam muito mal sua função, prejudicando os colegas e, o pior, os pacientes que deles necessitavam.

Todos perceberam que os três amigos residentes eram gays. Não que fossem afeminados, afetados ou tivessem falado abertamente isso, mas também não escondiam sua preferência sexual, ignorando abertamente as cantadas que surgiam de colegas de serviço e até de pacientes. Algumas cantadas eram sutis, indiretas suaves, já outras eram bem diretas e beiravam a grosseria. E partia tanto de homens quanto de mulheres.

___ Nunca se sente solitário à noite durante os plantões? Poderíamos...

___ Esses plantões são horríveis, não é? Sabe o que proporciona energia extra? Uma boa foda...

___ Minha mulher viajou por uns dias. Moramos apenas eu e ela. Você não gostaria de conhecer minha casa?

Já os pacientes:

___ Então é meu médico! Sabe que tenho um fetiche com médicos?

___ Chegue mais perto da cama... encoste seu pau no meu braço pra eu ver o tamanho...

Maurício ficava nervoso com essas cantadas. Procurava ignorar, mas, às vezes, respondia sorrindo (com vontade de matar):

___ Sou casado. Meu marido mede dois metros de altura, pesa cem quilos e luta judô, karatê e tae-kwon-do. Quer conhecê-lo?

E, a cada cantada, ele se lembrava do amor da sua vida, Paulo, que estava na África servindo à OMS. Só assim sentia-se animado e procurava não se importar com as cantadas. Também pensava seriamente que logo ele voltaria, estariam juntos. Muito, muito em breve.

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