O que três rapazes de diferentes cidades do país poderiam ter um comum? Apenas o mesmo sonho de serem médicos e utilizarem seus conhecimentos para ajudar os outros.
Porém, nem sempre os desejos são tão fáceis de se tornarem realidade, pois a mentira...
Em todas as rondas em um hospital, há uma formação meio que tradicional e raramente varia. O médico responsável sempre vai na frente, seguido pelo residente sênior, depois os outros residentes e, raramente, um ou outro estudante de medicina (normalmente, os mais esforçados). O médico responsável pelo qual Maurício fora designado era o doutor Wilson Foz. Assim, Maurício e mais seis residentes reuniram-se no corredor, esperando-o. Dentre os outros, havia um médico muito lindo e simpático, que rapidamente estendeu a mão e cumprimentou-o:
___ João Marcos. Espero que você esteja se sentindo tão ansioso e nervoso quanto eu.
Maurício gostou dele de imediato. Porém, nem deu tempo de responder ao cumprimento, pois um homem aproximou-se deles.
___ Bom dia, novos médicos. Sou o doutor Wilson Foz.
Ele aparentava ser bem calmo, educado e gentil, falando baixo e seus olhos negros penetravam a íris de cada um que ali se encontrava enquanto se apresentavam.
___ Este é o primeiro dia de ronda de vocês. Quero que prestem muita, mas muita atenção a tudo o que ouvirem e virem, porém, é importantíssimo que pareçam calmos e relaxados diante dos pacientes.
Maurício guardou na memória "prestar o máximo de atenção e parecer calmo"
___ Se qualquer paciente perceber que um de vocês está nervoso, consequentemente ele também ficará e pensará que está morrendo e você não saberá salvá-lo.
"Evitar deixar os doentes tensos"
___ Não se esqueçam: daqui por diante vocês que serão os responsáveis pelas vidas de outras pessoas.
"Meu Deus... responsável por outras pessoas, pelas suas vidas!"
Quanto mais o médico responsável os orientava, mais nervoso Maurício ficava e após o término da sua pequena palestra informativa, toda a autoconfiança de Maurício tinha ido por água abaixo.
"Não estou preparado para isso... por que estudei Medicina? Não saberei o que fazer em uma emergência! Por que estudei Medicina? E se eu matar alguém?"
O doutor Wilson finalizou sua fala com uma última orientação:
___ Quero anotações detalhadas sobre cada um dos pacientes que atenderem ou ficarem responsáveis. Exames laboratoriais, qualquer anomalia, tudo, tudo... entendido?
Todos responderam afirmativamente.
___ Aqui sempre tem entre vinte a quarenta pacientes cirúrgicos ao mesmo tempo. Assim, a função de vocês é providenciar para que tudo seja organizado direito e com eficiência para eles. Iniciaremos nossa ronda agora de manha e à tarde repetiremos todo o procedimento.
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Na faculdade de Medicina tudo aparentemente era fácil!
Maurício lembrou dos cinco anos que havia passado lá. Eram cinquenta alunos e apenas dois gays. Jamais esqueceria o primeiro dia do curso de anatomia, quando ele e os demais estudantes entraram em uma sala grande, toda branca, com trinta mesas em fileiras, cada uma coberta com um lençol azul claro. Separam-se em grupos de três ou quatro e o professor pedira que retirassem os lençóis. Assim, Maurício estava diante de seu primeiro cadáver. Achara que desmaiaria ou vomitaria, mas acaba se sentindo calmo, muito calmo. O cadáver fora preservado e, de certa forma, era "humano".
