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O apartamento fica no bairro Pinheiros, exatamente na Rua Arthur de Azevedo, uma rua perto de tudo o que poderiam precisar. Era perfeito para eles. Três quartos com banheiro, armários embutidos, lavanderia, sala grande, copa e cozinha. Havia duas vagas na garagem, mas como nenhum possuía carro e usariam o transporte público, poderiam ser alugadas, o que poderia ser abatido no valor do aluguel do apartamento. Era mobiliado com móveis simples, mas bonitos e estava tudo arrumado e muito limpo. 

Os três novos amigos, ao terminarem de vê-lo, decidiram ficar com ele.

Márcio disse:

___ É muito bom!

___ Concordo. - respondeu Marcos.

Ambos se viraram para Maurício, que afirmou categoricamente:

___ Vamos ficar com ele!

Assim, mudaram-se para o apartamento naquele mesma tarde e o zelador os ajudou a carregar as bagagens e lhes passou todas as informações sobre o prédio e as redondezas.

Ao terminar de carregar a última caixa, o zelador perguntou:

___ Vão trabalhar onde? São amigos?

No que Marcos respondeu:

___ Somos médicos. Vamos trabalhar no Hospital Público MS.

___ Médicos? - questionou o zelador meio assustado. - Tão novinhos assim?

Maurício o fitou com olhar zombeteiro e respondeu:

___ Não vou me esquecer disse se o senhor precisar do meu cuidado.

O zelador mais que depressa saiu, deixando-os sozinhos pela primeira vez no novo lar.

Assim, cada um escolheu seu quarto sem discussão e começaram a arrumar suas coisas durante toda a tarde até à noite. Maurício tirou de sua mala um porta-retrato de um homem com uns trinta e poucos anos, que era atraente e usava óculos, o que o deixava com um ar todo intelectual. Ele o pôs no criado-mudo ao lado da sua cama. Marcos e Márcio entraram no quarto.

___ Vamos sair para jantar? 

___ Estou pronto. - respondeu Maurício.

Marcos viu a fotografia e perguntou:

___ Quem é ele? Algum parente?

Maurício sorriu, olhando a foto atentamente, virando-se para os novos amigos respondeu calmamente:

___ Não. É o homem com quem quero passar o resto dos meus dias. Ele também é médico, trabalha no Médico Sem Fronteiras e no momento está em algum país da África. Seu nome é Paulo. Mas ainda virá para cá para ficarmos juntos.

___ Sorte sua. - respondeu Marcos.

Maurício o olhou e questionou:

___ E você? Está envolvido com alguém?

___ Não. Infelizmente, não tenho muita sorte com homens.

___ Eu também não tenho... - disse tristemente Márcio.

___ Talvez a sorte de vocês mude tabalhando no hospital!

Os dois fizeram figa com as mãos e os três sorriram muito um para o outro.

Os três eram gays. Não precisaram falar isso logo de cara. O assunto surgiu trivialmente e pronto. Melhor assim. Sem questionamentos, sem olhares tortos. E, graças a Deus, tiveram sorte de dividirem um apartamento sendo todos gays. Seria complicado morar com alguém que não o fosse e se mostrasse preconceituoso.

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