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O doutor Cristian não conseguira dormir mais que poucas horas durante a noite, pois estava sempre saindo com a família Matias e sendo apresentado a creme de la creme da sociedade paulistana. Ficara encantado quando o levaram a ópera Rigoletto no teatro Municipal, onde assistira a belíssima peça no camarote do seu namorado. Durante o intervalo, no saguão, conhecera mais amigos da senhora Alexandra que fazia questão de frisar que ele era namorado do filho dela.

___ Este é meu futuro genro, um brilhante médico.

Após a ópera, Cristian, Lourenço e Alexandra, juntamente com alguns convidados, foram jantar no restaurante Fasano, onde o preço médio por pessoa ficava em aproximadamente quinhentos e sessenta e cinco reais, fora a bebida. Ao chegarem lá, observou como sua futura sogra foi saudade pelo maitre antes de conduzi-los a uma mesa lindamente decorada. Feitos os pedidos, Lourenço lhe disse:

___ Querido... que tal fazermos aqui nossa festa de noivado?

___ Perfeito, querido... ideia maravilhosa a sua, não é mesmo, Cristian? – quis saber Alexandra.

Cristian sorriu, mas estava preocupado, pois um noivado em um local daqueles e como as pessoas como as que estava rodeado teria muita publicidade e, certamente, Marcos ficaria sabendo e aí...

___ Uma festa parece uma ideia realmente maravilhosa!

Lourenço arrematou todo feliz:

___ Ótimo! Então começarei a tomar as providências.

Alexandra complementou olhando diretamente para Cristian:

___ Já comecei a movimentar as coisas para você, querido!

___ Para mim? Como assim?

___ Um amigo que também é médico estava querendo vender sua clínica no Morumbi, pois ele vai se mudar com a família para os Estados Unidos. Conversei com ele e ele nos espera sexta-feira para que você conheça seu futuro local de trabalho. E, você gostando, já será sua!

Cristian não conseguia controlar sua alegria.

___ Nossa... mas isso é sensacional!

___ E tem mais... ele já possui uma clientela enorme, com vários conhecidos meus e com certeza indicará você como médico particular deles.

___ Seria ótimo, senhora Alexandra!

___ Senhora? – gargalhou a mulher. – Daqui a pouco tempo seremos mais que parentes, não é mesmo? E o que você fez por mim não tem dinheiro no mundo que lhe pague.

Cristian já fazia planos em sua mente... e foi interrompido para mais uma notícia maravilhosa.

___ Temos uma "casinha" de praia em Angra dos Reis... temos também um iate que raramente é utilizado, não é Lourenço? Acredito que seria o local ideal para a lua de mel de vocês... o que me diz?

___ Eu passaria a lua de mel com Lourenço em qualquer lugar, Alexandra... ele é tudo para mim! – respondeu Cristian, segurando a mão de Lourenço que não cabia em si de tanta felicidade.

___ Bom... então parece que tudo está se encaminhando! Fico muito feliz com isso! Mas sentirei saudade do meu filho...

___ Mamãe... a senhora não vai me perder! A senhora ganhará outro filho, o Cristian!

___ Com certeza! Tudo o que você está fazendo por mim...

___ Oh, que tolice! Você fez muito mais por mim!

Ao final do refinado jantar, Alexandra, Lourenço e Cristian partiram no belíssimo Jaguar XJ, conduzido pelo motorista particular da família. Após rodarem um pouco, Alexandra perguntou:

___ Gostaria que o deixássemos onde, querido?

___ No hospital. Preciso ver alguns dos meus pacientes.

Não havia paciente algum para ver, mas Cristian sabia que Marcos estava de plantão e queria colocar um ponto final na relação deles de uma vez por todas.

___ Meu pobre querido... trabalhar uma hora dessas? Isso mostra sua preocupação e competência profissional. – exclamou Lourenço olhando apaixonadamente para Cristian.

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Marcos estava na enfermaria um, atendente um paciente que havia sido operado de manhã e reclamava de dores.

___ Olá, Marcos. – chegou dizendo Cristian.

O jovem e belo médico negro virou-se zangado.

___ Olá nada... tínhamos um encontro ontem e você não foi e nem deu satisfação...

___ Desculpe-me! Não consegui sair daqui do hospital a tempo.

___ Mas terceira vez em uma semana que você não consegue sair a tempo? E nem atende celular e nem responde minhas mensagens? – Marcos respondeu e questionou bufando.

E, para Cristian, ele estava cada vez mais enjoativo e chato.

___ Venha... precisamos conversar. – apenas disse Cristian pegando Marcos pelo braço e levando-o à sala de descanso dos médicos que estava vazia.

Lá, Marcos sentou-se na cama e ficou olhando-o.

___ Marcos... acho que fomos precipitados.

___ Como assim? Não estou entendendo...

___ Bem... somos médicos, e todos gostam de nós e sabem que somos profissionais competentes.

___ Sim, e daí?

___ E daí que pode ficar ruim tanto para mim quanto para você que tenhamos um relacionamento trabalhando no mesmo lugar. Principalmente aqui, um hospital público.

___ O quê? Espero que não esteja querendo dizer o que estou pensando... – disse em voz alta Marcos já se levantando.

Cristian ficou sério e respondeu:

___ Sim... acredito que deveríamos dar um tempo.

___ Tempo? Tenho cara de relógio para dar tempo, Cristian?

___ Não... você não entendeu! Daríamos um tempo enquanto estivermos aqui. Assim que terminarmos nossas especializações e formos trabalhar em outro lugar, reatamos e moraremos juntos. O que você acha?

___ O que eu acho? – já gritava Marcos. – Acho que você perdeu o juízo! Primeiro faz uma aposta ridícula usando meu nome e sem me consultar, depois me usa, eu me entrego para você de corpo e alma, pois confiava em ti. Você jurando me amar para todo o sempre, dizendo o quanto eu era especial e agora... agora você quer dar um tempo?

Cristian ficou desconfortável e preocupado com a reação agressiva de Marcos. Já imaginava se isso viesse à tona e a família Matias ficasse sabendo... seus sonhos iriam por água abaixo.

___ Não dou tempo coisa nenhuma!

___ Marcos, por favor...

___ Por favor nada! Estamos juntos! Enfrentamos essa maldita aposta juntos! E seu amor por mim não acabaria de uma hora para outra!

E Marcos saiu da sala batendo a porta com força, ferindo os ouvidos de Cristian.

Então, com o olhar perdido e rosto se transforando em uma máscara raivosa, o médico sentou-se na cadeira desconfortável, ficou olhando para o vazio e tomou uma decisão... nada nem ninguém afetaria seu futuro promissor, nem que para isso precisasse matar.

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