Observação: Fentanilé um analgésico opioide que se caracteriza pelas seguintes propriedades: rápida ação, curta duração e elevada potência (100 vezes maior do que a da morfina). A duração de ação comum do efeito analgésico é de aproximadamente 30 minutos após dose única intravenosa (IV) de até 100 mcg.
Todo hospital possui em sua farmácia medicamentos que, usados de maneira errônea, transformam-se em drogas poderosíssimas e desejadas. Assim, em todos a vigilância sobre esse esses remédios é rigorosa. Legalmente, todo narcótico retirado da farmácia hospitalar precisa ter uma assinatura da pessoa a qual fez a retirada. Porém, por mais que a segurança seja rígida, os viciados sempre encontram meios de driblá-la. Infelizmente, no Hospital Público MS esse tipo de medicamento controlado estava sumindo misteriosamente, estava sendo roubado. E isso acarretava em um grande problema.
A enfermeira chefe, Mirian Oliveira, foi conversar com o doutor Pedro Munhoz logo no início de uma manhã.
___ Não sei mais o que fazer, que atitudes tomar, doutor. Nosso suprimento de Fentanil continua a sumir, a desaparecer sem deixar pistas.
O rosto do chefe do hospital endureceu rapidamente.
___ Qual a quantidade desaparecida?
___ Uma grande quantidade, bem grande. Caso fossem poucos frascos, uma explicação plausível solucionaria esse problema. Mas não é o caso. E está acontecendo regularmente, mais de uma dez frascos por semana!
Pensativo, o doutor questionou:
___ E a senhora tem ideia ou suspeita de alguém?
___ Infelizmente, não. O pessoal da segurança também está de mãos atadas, pois anestesistas, vários cirurgiões e enfermeiras possuem acesso à farmácia.
___ Entendo... – respondeu pensativo o doutor Pedro pensativo.
___ E o que faremos, doutor?
___ Obrigado por ter vindo me avisar, Mirian. Tomarei as providências legais necessárias para acabar com isso.
A enfermeira saiu da sala e o doutor ficou só com seus pensamentos:
"Meu Deus... o que faço agora?"
"Não preciso de mais esse problema e bem nesse momento..."
"Quem pode estar roubando?"
O conselho de administração do hospital teria reunião brevemente e o tanto de problemas que teriam que resolver eram muitos, e agora, mais esse e tão sério.
O doutor Pedro Munhoz sabia das estatísticas de médicos e enfermeiros viciados em drogas e álcool... tudo por causa da pressão sofrida constantemente e, logicamente, pelo fácil acesso às drogas presentes nos hospitais em forma de remédio. Era bem simples para um médico o acesso a elas, além disso, todos sabiam como aplicá-las mesmo sozinhos.
E hoje, recebera essa notícia devastadora, que acabara com seu dia e o deixava em uma situação complicada, pois não podia perguntar para qualquer pessoa sobre isso, teria que ter muito cuidado e saber com quem e como iniciar uma investigação sigilosa.
Sinceramente, não sabia em quem realmente confiar. Começou a repassar em sua mente todos os médicos, enfermeiros, mas nenhum deles, aparentemente, poderia estar envolvido. De repente, uma luz ao fim do túnel acendeu... doutor Maurício! Tinha certeza de que ele não estava envolvido nesse problema. Mandou chamá-lo.
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___Bom dia, doutor Maurício. Preciso de um grande e sério favor seu. – e narrou o que estava acontecendo. – Gostaria muito que você ficasse atento com quem trabalha. Observe se algum médico ou enfermeiro sai durante a sala de operações ou apresenta comportamento estranho, ou qualquer outro sinal de vício, de mudança de atitude, de personalidade... depressão, oscilação de humor, desânimo, atrasos, confusões... agradeceria muito se mantivesse isso estritamente confidencial.
___ Sim, doutor Pedro. Pode contar comigo. – disse Maurício saindo da sala.
Ao fechar a porta, encostou-se nela e pensou "'Já sei quem é."
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A doutora Marilúcia Gomes era um dos cirurgiões preferidos de Maurício. Ela era simpática, educada, simples. Estava na casa dos cinquenta e cinco anos mais ou menos. Estava sempre bem humorada, tratava todos com educação e respeito. Porém, Maurício havia percebido que ela sempre chegava alguns minutos atrasada para as operações e passara a ter um tremor nas mãos... leve, mas um tremor. Ela sempre usava Maurício para assisti-la e, geralmente, deixava uma grande parte da cirurgia em suas mãos, pois no meio do procedimento suas mãos começavam a tremer e, assim, ela entregava o bisturi para Maurício e dizia:
___ Não estou me sentindo muito bem. Pode assumir terminar tudo? – e deixava o centro cirúrgico apressadamente.
Maurício estava preocupado com ela. Agora sabia. Pensou muito sobre o que poderia fazer. Se informasse o doutor Pedro tinha certeza de que a doutora Marilúcia seria demitida imediatamente e, assim, sua carreira estaria destruída. Por outro lado, se não fizesse nada colocaria em risco a vida de pacientes inocentes. Pensou em conversar seriamente com ela, orientá-la para que buscasse tratamento. E assim o fez.
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Maurício tinha uma cirurgia marcada com a doutora Marilúcia na manhã seguinte. Ao dirigir-se para o centro cirúrgico, desejou que estivesse errado e que nada do que estava acontecendo se repetisse. Mas não...ela chegou atrasada novamente e, no meio da operação, pediu que ele assumisse, saindo da sala, como das outras vezes...
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No outro dia, ao chegar ao hospital, Maurício e Marcos viram o doutor Luís Henrique estacionar sua Ferrari vermelha.
___ Amo seu carro! É belo demais! – exclamou sorridente Marcos.
___ Quanto custa um desses? – quis saber Maurício.
Luís Henrique sorriu enquanto respondia e acionava o alarme.
___ Se você precisa perguntar, é porque não tem condições de comprar um.
Maurício não estava mais ali, escutando... olhava o carro, lembrou-se do belíssimo apartamento do colega, do iate, das festas que ele sempre dava... mesmo tendo tanto dinheiro, o doutor Luís Henrique trabalhava em um hospital público?
Meia hora depois, Maurício entrou no departamento pessoal e falou com Luciano, o responsável por esse setor.
___ Bom dia, preciso de um favor seu. O doutor Luís Henrique quer me vender seu apartamento, fiquei de ir ver agora, mas não consigo localizá-lo para me passar o endereço. Você poderia ver para mim, por favor?
___ Claro. – respondeu o sempre solícito Luciano. – levantando-se, foi até um armário onde havia muitos prontuários, passou por alguns deles, pegou um e o entregou a Maurício. – Aqui está. Veja rapidinho, caso contrário estou ferrado!
Maurício abriu a pasta e leu as informações ali presentes: os registros indicavam que o doutor Luís Henrique estudara em uma pequena faculdade do interior do Mato Grosso do Sul e que tivera que trabalhar enquanto fazia o curso. E, o mais chocante, ele era anestesista, seu pai um barbeiro e sua mãe professora primária.
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Médicos
RomanceO que três rapazes de diferentes cidades do país poderiam ter um comum? Apenas o mesmo sonho de serem médicos e utilizarem seus conhecimentos para ajudar os outros. Porém, nem sempre os desejos são tão fáceis de se tornarem realidade, pois a mentira...