Médicos

10 - Márcio

Maurício encontrou Márcio em um dos intermináveis corredores. O último estava meio apavorado e parecia muito preocupado.

___ Oi! Está tudo bem contigo? – perguntou Maurício.

___ Tudo bem. – sorriu apreensivo Márcio.

E se afastou apressado.

Márcio fora designado para trabalhar com um médico chamado Clodoaldo Pereira, que todos conheciam como ser muito rigoroso, principalmente com os residentes. Logo no primeiro dia de ronda, ele dissera perante todos:

___ Estava ansioso por conhecê-lo e trabalhar com você, doutor Márcio. Informaram-se que o senhor foi brilhante na faculdade de medicina. Soube, também, que pretende se especializar em medicina interna.

___ Isso mesmo. É o meu sonho. – respondeu Márcio acanhado.

___ Ótimo. Portanto, nós o teremos aqui por mais ou menos três anos.

E assim iniciaram a ronda.

Já no primeiro paciente, que era um menino de onze anos, o doutor Clodoaldo virou-se para Márcio e perguntou:

___ Acredito que o senhor achará esse caso muito diferente, doutor. Esse menino tem todos os sinais clássicos: anorexia, gosto metálico na boca, fadiga excessiva, anemia, descoordenação. Como o senhor diagnosticaria?

O médico parecia ansioso pela resposta.

___ Bem... podem ser várias coisas, não é? – respondera Márcio hesitante.

O doutor Clodoaldo ficara surpreso e não escondeu isso.

___ Ora... é um caso inconfundível de envenenamento por chumbo!

Márcio sorrira fracamente.

___ Claro! Envenenamento por chumbo.

___ E como o trataria? – quis saber o médico.

___ Há diferentes métodos de tratamento, não é?

O doutor Clodoaldo não estava acreditando naquilo...

___ Se o paciente teve longo período de exposição, deverá ser tratado como um caso em potencial de encefalopatia. Deverão ser corrigidas a desidratação e os distúrbios eletrolíticos, além da terapia de quelação.

Márcio apenas balançara a cabeça concordando com tudo.

O próximo paciente era uma senhora na casa dos setenta anos e estava com os olhos avermelhados e as pálpebras praticamente grudadas. Ao se aproximarem, o doutor Clodoaldo disse gentilmente à paciente:

___ Vamos cuidar dos seus olhos! A senhora ficará bem. Como está se sentindo hoje?

___ Muito mal, doutor.

O doutor Clodoaldo puxar o lençol e os residentes viram os joelhos e os tornozelos inchados da paciente, também havia lesões nas solas dos pés, então, ele virou-se para os seus acompanhantes e informou:

___ O inchaço é causado pela artrite. – virou-se para Márcio e questionou: __ Combinada com as lesões e a conjuntivite, tenho certeza de que o senhor sabe o diagnóstico, doutor Márcio.

Márcio responde vagarosamente:

___ Bom... sabe... pode ser...

___ É a Síndrome de Reiter – respondera outro residente imediatamente. – E a causa ainda é desconhecida. Normalmente, o paciente também apresenta febre baixa.

___ Isso mesmo – respondera doutor Clodoaldo – tornou a fitar Márcio e perguntou: __ E qual é o prognóstico?

___ O prognóstico? – questionou ele.