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  O doutor Pedro Munhoz estava atônito e muito, mas muito nervoso.

___ Como assim... C-Ó-L-E-R-A???

___ Sim.

___ Mas como um paciente desse hospital está com cólera e ninguém sabia disso?

___ Doutor Pedro, não há dúvidas de que é cólera. Além dos outros sintomas, as fezes da paciente está cheia de embriões, ela tem baixo PH arterial, hipotensão, taquicardia e cianose.

Legalmente, todos os casos de cólera e outras doenças contagiosas devem ser imediatamente informados à secretaria estadual de doenças e ao centro de controle de doenças.

___ Precisamos informar às autoridades, doutor Pedro. Não há outro jeito. O hospital será fechado.

___ Não podemos permitir isso! Não deixarei que todos os outros pacientes sejam postos sob quarentena. Além de médicos, enfermeiros e os outros funcionários que tiveram contato com a paciente. Será um caos!

O chefe do hospital parou de andar e disse:

___ A paciente já sabe o que tem?

___ Não. Ela não fala português, é uma imigrante. Veio da Índia.

___ Quem teve contato próximo com ela?

___ Próximo, próximo apenas duas enfermeiras, eu e o doutor Márcio.

___ E quem a diagnosticou?

___ Diagnosticou certo ou errado, o senhor quer dizer?

___ Quem a diagnosticou primeiro.

___ O doutor Márcio. Espero que dispense esse médico incompetente.

___ Não. Qualquer pessoa pode cometer erros. Não podemos nos precipitar. A ficha da paciente indica disenteria?

___ Isso.

___ Então, vamos deixar assim. Aqui está o que quero que você faça: inicie a reidratação intravenosa, use a solução de Ringer lactada, dê também tetraciclina. Se conseguirmos restaurar o volume de sangue e líquido imediatamente, ela ficará próximo do normal em poucas horas.

___ Não comunicaremos, então?

___ Um caso de disenteria?

___ E as enfermeiras, eu e o doutor Márcio?

___ Mediquem-se com tetraciclina também. E coloque a paciente sob quarentena. Ao final, ela estará curada ou morta... e, se Deus nos abençoar, estará viva.

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O doutor Márcio estava praticamente louco... em pânico. Procurou o amigo Maurício e o encontrou saindo da enfermaria dois.

___ Maurício... preciso muito da sua ajuda.

___ Nossa... o que aconteceu?

Márcio relatou tudo.

___ Por favor... converse com a paciente! Ela não fala português, só fala indiano.

___ Hindi, você quer dizer. – respondeu Maurício.

___ Qualquer coisa. Converse com ela, por favor! – suplicou Márcio.

___ Lógico. Vamos lá.

Quinze minutos após essa conversa, Maurício e Márcio estavam no quarto da paciente e o primeiro se comunicava em hindi com a mulher.

Márcio apenas apertava as mãos, nervoso, e acompanha tudo de perto. Sua expressão era de terror, medo e pânico.

Após o fim do diálogo, ele perguntou ao amigo:

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