. . . c o n t i n u a
''O quê?''
''Algum problema, Jungkook?'' Ele perguntou, parando na calçada e me olhando, os lábios contraídos. ''Você não sabia?''
''Não.'' Eu respondi, quase na defensiva, mas o pior só veio depois.
''Eu achei que soubesse... Jimin me fez crer que era para si que... bom... Ele estava recorrendo? Não quero te objetificar...''
''Quanto...'' Eu acabei me parando, engolindo em seco, e isso o fez continuar a andar, o contratempo esclarecido. ''Quanto tempo faz?''
''Ah...'' Ele coçou a cabeça, pensativo, uma mão sempre no bolso da calça social. ''Faz uns meses, se a minha memória não me falha foi em Fevereiro ou Março.''
Eu então parei, porque Março era o exato mês em que eu tinha visto Jimin pela última vez, fora a vez.
Em resposta eu não pude dizer nada, porque a possibilidade de Jimin ter vindo até mim devido ao que acontecera com a sua avó estava mais perto do que longe, e saber disso não ia nunca me deixar perdoar a mim mesmo. Engoli em seco e o pai de Jimin ouviu, me olhando e sorrindo de canto.
''Os meus pêsames.'' Eu disse, sem muita intenção, porque não era nisso que eu pensava, não era em mostrar os sentimentos para um ser tão frio quanto eu achava que aquele era, embora a empatia recente, não era para ele.
''Bom, Jimin ignorou isso por uns tempos. Não sei como ele fez, não entendo como funciona a cabeça dele, mas sei que não está em um bom lugar agora.'' Prosseguiu então com o seu objetivo inicial, mas quando eu travei os meus pés o homem parou de falar, olhando-me, já descontente com o que estava por vir.
''Perdão, senhor Park, mas não posso ajudá-lo.'' Eu disse rápido, coçando os cabelos da minha nuca com cuidado, sem saber o que fazer ou se isso era o certo. ''Jimin e eu não somos mais amigos, não tem realmente como eu ser uma ajuda.''
''Amigos?'' Ele repetiu, risonho, e a mão subiu, tocando o meu ombro e o apertando. ''Não precisa me mentir, rapaz.''
''Não entendo.'' Eu proferi, mesmo que arrependido, e logo depois eu franzi as sobrancelhas, porque afinal eu realmente não entendia. ''Não entendo.''
''A velhinha não era cega e Jimin não mentiria para a avó. Está tudo bem, Jungkook, se vocês foram namorados e não resultou. É normal que não queira vê-lo de novo.''
Aquilo era mentira, pura, nua e crua, mas também era a minha saída. Deixá-lo pensar numa coisa a qual eu não parecia ter o poder para dissuadir não era crime, então eu acenei, limitando-me àquilo e depois recuei um passo, com medo de me desfazer ali.
''Preciso de ir agora, senhor Park.'' Eu murmurei, já a virar costas.
O homem ainda disse algo, mas eu não compreendi, continuando a caminhar, cada vez mais aumentando o ritmo. O meu celular vibrava no bolso, o nome de Yugyeom aparecia no ecrã e a minha casa parecia longe demais. As mensagens de Taehyung estava em stand-by, mas foi nelas que carreguei quando as minhas costas bateram numa das ruelas interditas a veículos, os tijolos velhos presos contra mim, como se fossemos um só, e apressado eu carreguei no pequeno telefone na minha tela, sem espanto quando fui rapidamente atendido.
''Porque...'' Eu murmurei, e era para sair tudo de uma vez, mas a aparente falta de ar nos meus pulmões não o permitiu. ''Jimin. Aquela vez. Porquê?''
''O quê, Jungkook?'' Ele perguntou, o tom parecia preocupado, mas eu neguei para mim mesmo, olhando o céu escurecido e os dedos trémulos apertando o celular. ''Você está bem?''
''Caralho, Taehyung, eu fiz uma pergunta.'' Resmunguei, estalando os dedos da minha mão livre, pressionando-os até que realmente se ouvisse um estalido.
''Não... Jungkook, por favor, isso é entre vocês e já passou tanto tempo.''
''Me diz porque porra Jimin apareceu aquele dia.''
Aquele dia.
Quando a minha mãe fizera anos, quando eu vira Jimin pela última vez, ele realmente tentara fingir que podíamos começar de novo, ele realmente tentou fingir que nada tinha acontecido, que nada tinha sido dito ou feito, mas depois de dois minutos de conversa fiada, cornettos nas mãos, soubemos, pelo menos eu soube, que as coisas não resultariam, que apesar de eu ter cometido erros, Jimin tinha causado danos irreparáveis e não havia volta.
''Ele queria falar com você.'' Foi o que o Kim respondeu, depois de um longo suspiro, e eu acenei para mim mesmo, tentando não perder o controle.
''Sobre o quê?''
''Não me lembro.''
''Taehyung...'' Eu insisti e depois bufei, porque aquilo não chegaria. ''Sabe como é maçador? Me disse tantas vezes para que tirasse Jimin da minha cabeça, mas nunca me disse o porquê. Me diga a porra do porquê, porque eu quero esquecer esse cara.''
Aquilo também era uma mentira, porque já não se tratavam de quereres e sim de necessidades.
Precisava esquecer Jimin.
''A avó de-''
A verdade era aquela.
Jimin não me dissera, mas agora eu sabia que, naquele dia, era de mim que ele precisava, fora para mim que correra, mas agora eu também sabia que fora eu quem lhe tinha negado isso, mesmo sem saber na altura, e o arrependimento nunca correra tanto entre as partículas do meu sangue, corroendo todas as minhas células. O que tinha feito eu?
O arrependimento não é uma coisa boa de se sentir e não é fácil de se ignorar.
Soubesse o que sabia, o que quer que fosse, e de volta a casa, eu sabia que, no dia seguinte, acontecesse o que acontecesse, eu iria ver Park Jimin, fosse por querer ou necessidade.
Ver Park Jimin. Ver Park Jimin e pedir perdão.
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]n/a[
esse capítulo ficou assim meio nhe porque eu queria separar os jikook se encontrando de outro capítulo qualquer... perdãozinho :(
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Vol, tas. ]JIKOOK/KOOKMIN[
FanficPor tantas vezes, a vida parece dar voltas nas voltas que a vida dá e nesta reviravolta a história de Jeon Jungkook e Park Jimin parece não estar terminada. Jungkook sente agora o sabor de liberdade como quem sente a falta de peso nos ossos, mas não...