15 ♻ hangover ♻

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A única coisa a que sabia a manhã seguinte era a ressaca. 

Ver a janela do meu quarto foi uma coisa boa, mesmo que não houvesse nem uma única memória da noite passada embaçada e eu sabia tão bem como é que eu chegara ao meu quarto. 

A luz, mesmo que escassa, estava pesando sobre o meu olhar e quando fechei os olhos foi quando um suspiro escapou dentre os meus lábios, tão silencioso quanto podia. O lençol que cobria o corpo dele mal alcançava as minhas partes íntimas, mas isso não importava. 

Só depois percebi o que me tinha despertado, mas a preguiça de me levantar e apanhar o celular que vibrava contra o chão de madeira era demasiada, e por isso a ligação foi para a caixa de mensagens, quem quer que fosse. A breve imagem de Jimin assegurando que ninguém estava na casa era a única coisa que me acalmava, porque... Pelo menos isso. 

Em confissões de cabeça pesada e olhos fechados, a vontade de beijar aquela pele mais sóbrio do que nunca para nunca esquecer era grande, era enorme se formos a ser sinceros, mas a culpa que vinha com ela era do mesmo tamanho. Era uma balança complicada e rígida. E mesmo que eu quisesse reflectir sobre tudo aquilo, sobre como tudo voltaria a ser tão fodido quanto antes, eu não podia, não com aquele íman me colando a ele de uma forma tão junta que é como se fosse inseparável. 

Antes do barulho da chave entrando na porta no piso debaixo chegar aos meus ouvidos, já a voz da minha mãe chegava em primeiro lugar: 

''Jungkook, venha ver como é linda!''

Em primeiro, eu não tentei raciocinar sobre o que ela falava porque a única coisa que veio em minha cabeça, como algo tão tão satisfatório, foi a lembrança de eu e Jimin subindo aquelas escadas no noite anterior, a forma como não ligamos para nada, a forma como as roupas foram ficando pelo caminho. 

Então eu me levantei, mais apressado do que nunca, uma cueca pela perna acima, um pé pisando o celular, e doeu, o baque contra a porta e o corpo descendo para apanhar uma blusa do corredor e no topo das escadas, a calça, onde encontrei a minha mãe, felizmente subindo sozinha, o celular na mão. 

''Oh, Jungkook, olhe como...'' E a voz acabou cessando ao me ver assim, mal eu sabia como, as roupas em frente da boxer mal vestida, e a faceta de quem está tão envergonhado quanto pode em frente da mãe. 

''Oi, eu estava indo tomar banho.'' Eu menti, sem saber como me escapara algo tão elaborado àquela hora da manhã, pelo menos era isso que eu pensava. 

''Oh, querido, você sempre foi tão mau mentindo.'' Ela acabou gargalhando, baixando a tela do celular ligada, e olhando diretamente para as peças de roupa que eu segurava. ''Essa calça não é sua e...'' E o olhar voou para trás dela, encarando a porta entreaberta do meu quarto e vendo os pés de Jimin dali, felizmente unicamente os pés. ''Jimin?'' E ela sorriu de lado a lado da face, embora eu coçasse os meus cabelos, tão confuso com aquilo, fazendo-me acenar uma vez. ''Ufa.'' 

''Me desculpe...'' Eu acabei resmungando, deixando que subisse o último degrau, e felizmente ela seguiu para a cozinha, no final do corredor. 

''Então se divertiu ontem? Teve um bom aniversário?'' 

E eu fui atrás dela, respondendo tudo o que ela queria, mas não quis muito, apenas me explicar de uma vez que na noite passada tinha saído para o hospital, onde uma de minhas primas tinha dado à luz, e por isso eu passei uns bons minutos olhando fotografias de uma recém nascida, mesmo que todas as fotografias fossem cópias umas das outras. E depois ela saiu, embora tivesse dormido pouco, para abrir o restaurante, e mesmo com a minha oferta de descer dali a pouco, a mesma disse-me que não, que o meu pai estava com ela naquele dia. 

De volta no quarto, Jimin ainda dormia, de barriga contra o colchão, as costas descobertas e os braços em volta do travesseiro, o lençol desde o final das suas costas até as panturrilhas. 

E eu não tinha que ficar ali, talvez deixar o quarto e tomar um banho fosse uma melhor ideia, mas aquele quarto nunca parecera tão encantador quanto estava ali, naquele preciso momento, que eu gostava tanto de poder congelar na minha mente. 

Sabia que se voltasse a deitar-me ali, Jimin acordaria, então sentei-me no chão, ao lado da porta, as costas contra a parede, as pernas dobradas e os braços pousados sobre os joelhos. 

Um livro tinha caído da estante na noite anterior, quando embatemos contra ela, e rimo-nos tanto por isso, mas nunca nos largámos, e ali estava ele, tão bonito no chão, amassando umas quantas páginas que não teriam salvação. As roupas pelos cantos, porque tão bêbados mal sabíamos da cama, mal sabíamos se a queríamos. Quisemos, e ali estava ela, tão linda. Não havia sinal dos nossos sapatos, de certeza que estavam no piso debaixo. A carteira de Jimin estava contra a perna da cama, a do fundo, aberta e com dinheiro caindo. Só no fim reparei no celular que antes pisei, esse já não era tão bonito, ali perto de mim, e foi a única coisa que toquei. 

Haviam três ligações perdidas de Yugyeom, uma de Kim Taehyung e outra de Mô. 

Na noite passada nem déramos por ela e quando chamamos um táxi mal nos lembramos que não estávamos sozinhos.

''Jungkook!'' Yugyeom exclamou do outro lado, fazendo-me soltar uma risada seca, a boca tão seca, levando-me a fechar os olhos e pender a cabeça contra um dos joelhos. 

''Estamos em casa...'' Eu resmunguei baixinho e não havia nem uma ponta de arrependimento no que dissera. 

''Mos?'' Ele repetiu, como se não houvesse certeza no tom. ''Então esse fedelho nos deixou para pagar a conta porque foi transar?!'' E aquela era a voz de nada ninguém menos que Kim Taehyung. 

''Ninguém aqui transou, aí é que não sei.'' Eu provoquei, a mentira escapando fácil, observando Jimin ali, ainda dormindo, e neguei para mim mesmo que estava ali, mentindo para os meus amigos com todos os dentes. 

''Ok, chega de conversa. Nós deixamos Aurora em casa, então tchau.'' Disse-me o Kim loiro, e aquela era uma coisa a qual eu tinha perdido a noção. 

Aurora. Mô. 

''Jungguk...'' Jimin resmungou, sem se mexer, o braço pendendo do colchão, falando como se mal sentisse os lábios e eu ri, já me levantando, adiantando-me ao que ele iria dizer. ''Cala a porra da boca, vem pra cá.''

E apesar de tudo, eu fui. 

Vol, tas. ]JIKOOK/KOOKMIN[Onde histórias criam vida. Descubra agora