Não sabia se o lugar onde acabara de entrara estava frio como a minha alma parecia querer estar, congelada até ser intocável, ou se era por eu só vestir uma t-shirt e uma jaqueta por cima.
A verdade é que o frio não vinha de nada dessas coisas. Não.
O frio vinha do coração de gelo de Jimin, amolecido agora, porque por algum motivo parecia mais morno, como os cabelos que trazia frisados, no mesmo tom loiro de sempre, e sentado de forma tão desleixada que não era, de certo, costumeira, mas estivera por longe por tanto tempo que não sabia mais o que era costume ou não.
Quando eu cheguei perto dos outros amigos de Hoseok, contando oito cabeças, a minha incluída, as minhas mãos já tinham corrido para os bolsos da jaqueta jeans, nervosas pelos motivos óbvios, mas saíram assim que Hoseok me puxou para um abraço curto.
''Feliz aniversário.'' Eu desejei, honesto, sorrindo curto, os meus olhos correndo subtilmente por todos os outros rapazes, acenando minimamente, quando o meu olhar, inevitavelmente, parou em Jimin, sentando do lado de Taehyung, que me sorria curto, mas o olhar de Jimin não era um qualquer, tão pouco era focado na minha face, mas sim nas minhas roupas.
Confuso, eu olhei por mim abaixo, porque eu era o mesmo, o meu estilo era o mesmo, quando então me apercebi de que ele estava recordado tanto quanto eu, agora, de que quem me dera aquela tshirt fora ele.
Então eu sorri, porque querendo ou não era uma memória boa, do tempo que olharmos um para o outro não arrefecia a alma... Só aquecia.
''Vamos jogar?'' Foi Taehyung quem perguntou, levantando-se de forma rápida, olhando o Jung com um olhar de pânico, e Hoseok acenou apressado.
''Só faltava eu?'' Eu questionei, um resquício de culpa por me atrasar.
''Jimin.'' Taehyung disse então, chamando o outro loiro e ele foi, sem questionar como faria normalmente.
Dois minutos tinham passado e eu já sabia que Jimin não estava mais agindo como o Jimin que eu conheci. Não. Jimin estava literalmente deambulando, atónico a tudo, encarando as coisas demais, como se lhes prestasse atenção e fossem dignas dela.
''As equipas podem ficar assim.'' Yugyeom comentou, sacudindo os ombros, referindo-se aos lados em que estávamos, deixando que eu e ele ficássemos na mesma equipa que Hoseok e Namjoon e os outros dois, Yoongi e Seokjin, com Jimin e Taehyung.
''Ainda bem, assim o aniversariante tem uma chance.'' Eu provoquei, brincalhão, mais para Taehyung, esquecido por uns momentos, porque aquele momento não era sobre nós, ou sobre mim e Jimin. Não. Era o aniversário de Jung Hoseok.
''Pelo menos podemos beber aqui, não é?'' Yoongi perguntou, já ansioso, esfregando as mãos uma na outra, olhando em volta e procurando discretamente qualquer balcão.
''Sim, claro, mas vamos lá pessoal.'' Hoseok, de cabelos pretos, prosseguiu, fazendo gestos com as mãos, chamando-nos assim, em passos lentos e sugestivos até às pistas de bowling.
''Vou no banheiro, Seok, já volto.'' Ele disse, levantando a mão por uns segundos e saindo logo depois.
Ele. Ele disse. Jimin.
Os meus olhos seguiram-no enquanto cruzava o lugar com o andar calmo, ambas as mãos nos bolsos da calça, que ficavam bem assentes e justas nos tornozelos, o que só era de realce porque Jimin estava usando ténis de desporto, com os cordões mal apertados, todos pretos e com uma sola alta. Não era dele, mas, mais uma vez, o quê que eu sabia dele agora?
No entanto, não foram apenas os meus olhos que o seguiram.
Mal o meu corpo girou, ao vê-lo empurrar a porta do banheiro com o corpo, e mal eu me movi para alcançá-lo, ciente de tudo, eu fui interrompido por uma barreira sónica.
''Jungkook.'' E era Taehyung, o qual eu olhei, mas ele não disse nada, porque não tinha nada para dizer e quando eu tornei a me virar, sem desistir de mim mesmo, ou de Jimin, que fosse, eu o percebi tentando me parar, pronto para me seguir, foi Yugyeom quem o parou, tocando o seu ombro levemente.
Então eu o segui, mais rápido do que ele, abrindo a porta do banheiro com calma, sem nenhuma palavra nem na ponta da língua nem na mente.
E lá estava ele, em frente dos lavabos, iluminado pelas lâmpadas nas periferias dos espelhos. Ajeitava a camisola na cintura, presa dentro do cós das calças, e depois apoiou os braços nas bermas do balcão, cabeça baixa.
Eu entrei, porque não me restava mais nada, mesmo que ainda não tivesse sido notado. Não havia ninguém ali, para além de nós, pelo menos parecia não haver, e eu tinha as mãos fora dos bolsos, ao lado de minhas coxas, indecisas se formavam punhos ou se descansavam. Era difícil de escolher.
''Jungkook...'' Ele murmurou, a cabeça agora subida, vendo-me atrás dele através do espelho, e eu tinha o lábio entre os dentes, porque era inocente, soava e era para ser inocente, não provocar nada, mas o que trespassou o meu peito não foi inocência.
''Me desculpe, eu-''
O choque do seu corpo com o meu poderia ter sido momentâneo, mas não foi. O que foi momentâneo foi a aspereza do meu pensamento, que o quis mandar embora, que lhe quis dizer que me largasse e virasse costas, como sempre fizera.
Estava em mim, abraçado em mim, as suas mãos até tinham passado a minha jaqueta e rodeavam agora toda a minha cintura, por cima do tecido da blusa, e eu nos segurei ali, sem me deixar ir com o impacto e me segurando nele também.
Eu nos olhei no espelho na minha frente, me perguntando se aqueles poderíamos ser realmente nós. Podíamos? Ou não tinha volta?
''Eu lamento...'' Eu murmurei, finalmente erguendo os braços e o abraçando de volta, pousando o meu queixo sob os cabelos macios dele, sentindo o seu aroma. ''Lamento não estar lá.''
E no momento que o disse, como alívio, Jimin me apertou mais, sem nada para dizer, que fosse adequado pelo menos. Desse modo, nada dissemos.
Éramos nós ou não éramos?
''Podemos conversar depois?'' Eu perguntei, ansioso, sem saber o que eu queria tanto dizer mas tendo a necessidade de o fazer. ''Depois disto.''
Jimin então se afastou, já com saudade predita, objetificada no cuidado que tivera, como se eu não pudesse me mover, nem eu nem ele. Ele sorriu de canto, a mão subiu até tocar a minha pele, diretamente na lateral do meu pescoço, a palma primeiro, depois fechou a mão e encostou os dedos. Eu sorri de canto, mas ele retirou o gesto e negou com a cabeça, os olhos aguados e em mim.
Olhos em mim... Até se ir embora.
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Vol, tas. ]JIKOOK/KOOKMIN[
FanficPor tantas vezes, a vida parece dar voltas nas voltas que a vida dá e nesta reviravolta a história de Jeon Jungkook e Park Jimin parece não estar terminada. Jungkook sente agora o sabor de liberdade como quem sente a falta de peso nos ossos, mas não...