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duas atts para compensar o tempo sem? </3

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A luz que entrava pela janela do loft era tanta quanto a necessária e tanta quanto a que queríamos: nenhuma. 

Às onze horas e trinta e quatro da noite, quando Yugyeom ligou, eu pensei em recusar a ligação, mas dessas coisas eu já me tinha deixado, o que me fez levantar do sofá e ir para a cozinha, o celular contra a orelha. 

''A sua mãe estava preocupada, eu também...'' Yugyeom lamentava, falando em um tom baixo. 

''Está tudo bem.'' Eu suspirei, a mão apoiada no balcão e o braço esticado, olhando para a sala dali, a ausência de portas e paredes ajudando. ''Eu estou com Jimin.'' 

Aquela era uma revelação grande, eu sabia, também sabia que não a devia ter largado tão cedo, e por isso sabia que não podia deixar as coisas por ali. Enquanto Yugyeom dizia alguma coisa, eu segurei o celular na minha mão e passei pela janela do lugar para as escadas de incêndio, sentando-me nelas e voltando a levar o aparelho ao ouvido.

''Yug, eu não quero ouvir sobre o quanto isso é fodido, eu sei, ok? Eu já sei.'' Eu resmunguei, sem sequer ao menos ter ouvido o que ele dissera, e o olhar sempre atento ao interior do apartamento. ''E, honestamente, já deu. Jimin e eu vamos ser amigos.'' 

''Em primeiro lugar, eu não disse nada disso.'' Ele respondeu-me torto, o que era justo, porque eu estava só a supor uma reação da parte dele sem ao menos a ter escutado minimamente. ''Eu sei o que Jimin significa para você e por isso... amigos, você disse?''

''Talvez seja mais complicado do que isso, mas... sim.'' 

Sim, amigos, era o que seríamos por agora. 

Tínhamos sido amigos pela tarde e pela noite Jimin já dormia, tão cansado quanto podia, contra o travesseiro que estava contra mim. E antes disso Jimin tinha falado mais, mais do que o normal, como se estivesse no limite. Tinha falado tanto, mas não tinha dito muito. A história sobre o seu pai já não era um completo branco na minha mente, já era mais esclarecida sobre o que tinha acontecido depois, mas para além disso, eram apenas detalhes mal realçados. 

''Jungkook... Você ficará bem?'' 

Aquela não era uma pergunta adequada e ele sabia-o, obrigando-me a fechar os olhos e respirar fundo antes de responder. 

''Claro que sim.'' 

Claro que não

''Nos vemos amanhã.'' 

E veríamos. 

Mas ali, mais uma vez ali, sentado sobre o metal e dado à luz da noite, não havia nada que me passasse pela mente e era tão... bom. Não tinha nada e quando encostei a cabeça num dos degraus acima, as pernas separadas, ainda teve menos e era melhor.

''Jungkook?'' 

Eu me desencostei dali, a cabeleira loira se realçando debaixo da janela aberta e as mãos pequenas pressionando o parapeito. 

''Oi, eu...'' E não disse nada, mostrando-lhe o celular e levantando-me logo depois, ao que ele se afastou da janela, dando-me espaço para entrar. 

No entanto, ao pisar o chão, depois fechar a janela, e ao tentar andar, o meu pé chocou com algo duro no meio da escuridão, levando-me a um tropeço para a frente e um palavrão saído da minha boca. 

''Ei, idiota.'' Ele chamou, a mão presa na parte superior do meu braço, me guiando pelo escuro até o balcão da cozinha. 

Idiota. Eu era tão idiota.

''Jimin...'' Eu sussurrei, sentindo que não tinha mais por onde ir, totalmente na sua frente, a mão dele ainda em mim e as costas no balcão. ''Eu vou querer te beijar... Não me deixe.'' Avisei, o meu peito subindo em demasia e Jimin erguendo o queixo para me olhar por entre a penumbra. 

''Agora?'' 

Agora. 

''Algum dia.'' 

Como se fosse terreno seguro, Jimin fechou os olhos, a mão deixando o meu braço e pousando sobre o meu peitoral, respirando fundo agora. 

''Obrigado por ter vindo, eu...'' 

E era daquilo que havia, frases por completar que não precisavam de um fim para que o soubéssemos.

Obrigado por ter vindo, Jungkook, eu não sabia que estava precisando de você. 

Poderia ser algo que Jimin dissesse, se Jimin tivesse o costume de dizer as coisas quando não estava bêbado. 

''Você... Você se resolveu com Taehyung?'' Ele quis saber, o meu corpo indo para trás antes que ficasse preso demais, circulando pelo balcão até ao frigorífico. 

''Jimin, não é realmente... um assunto que eu queira conversar.'' 

''Oh, ok.''

Aquilo era compreensivo da parte dele, o que também não era o seu costume, e por isso eu não esperei muito, nem mesmo até acabar o iogurtinho de beber que ele tinha ali e eu não pedi para beber. 

''Mas Taehyung está triste com isso, ele-'' 

Eu bufei, cortando a sua fala, ou talvez fosse o meu corpo se movendo para fora dali até encontrar o sofá mais uma vez, largando o corpo lá, encarando a televisão desligada. 

''Você pode me ouvir? Só um minuto?'' 

''Não quero.'' Eu sacudi os ombros e ele pareceu incrédulo com aquilo depois de me seguir e parar na minha frente. ''Não quero te ouvir dizer que Taehyung estava olhando por você quando ele não olhou por mim.'' 

''Então é sobre isso? É sobre ele ter me escolhido? Jungkook, as coisas não são assim...'' 

''Você está se dando ao trabalho demais.'' Eu tentei largar o assunto antes que desse para algo torto, antes que tudo o que tínhamos feito até ali, que até parecia um progresso grande, fosse por água abaixo. ''Taehyung e eu iremos nos resolver, eventualmente.'' 

''Nós já nos resolvemos por esgotamento e não é legal.'' 

E agora o incrédulo era eu, erguendo o queixo para ele, levemente chocado por ele dizer aquilo tão abertamente, depois se apercebendo. 

''Dissemos que não íamos falar sobre coisas de... antes.'' 

Petulante, ele revirou o olhar, os braços cruzados de repente, lembrado daquilo tanto quanto eu, sentando-se do meu lado e suspirando. 

''Também dissemos que não íamos sentir culpa, e se você continuar assim com Taehyung eu vou me sentir culpado.'' 

''Jimin...'' Eu suspirei, derrotado e com raiva ao mesmo tempo. ''Sabe quantas vezes eu quis saber de você? Consegue imaginar? Porque eu nunca fui tão caidinho assim por alguém, e Taehyung sabia de tudo? E o que eu tive? Nada, zero, nem uma mentira.''  

''A culpa é minha.'' 

E ali estávamos nós, perdidos em todas as coisas que não queríamos, falando do passado, sentindo culpa e falhando miseravelmente como amigos. 

''Taehyung é crescido.'' Foi o que respondi contragosto, engolindo em seco. 

Depois, como se não fosse desistir, eu senti Jimin empurrando uma almofada contra as minhas pernas, a sua cabeça lá pousada logo depois enquanto arranjava uma posição confortável para se deitar no sofá, encolhido. 

''Vamos ser péssimos como amigos.'' Ele declarou ao fim de um tempo de silêncio.

Isso é porque não fomos feitos para ser amigos, Jimin. 

''Eu sei.''

Vol, tas. ]JIKOOK/KOOKMIN[Onde histórias criam vida. Descubra agora