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]c o n t i n u a[

Talvez naquele início de tarde fosse a altura certa para Jimin ser honesto e largar tudo o que tinha preso e eu agora via mais do que nunca que era tanta coisa. No outro lado da moeda, talvez não fosse a altura certa.

"Me diz o que quiser." Eu voltei a dizer, afastando-lhe os cabelos para trás e enterrando mais a bochecha no travesseiro, deixando os lábios dele contra a outra.

"Eu sinto coisas por você e eu sei que fui precipitado, mas..."

"Eu também sinto coisas por você."

"Jungguk." Ele soluçou o pedido, repreendendo-me por o interromper e mostrando que agora não era altura para isso. "Eu quis você para mim e eu quis tanto que não vi que... talvez não fosse o melhor para nós naquele momento. Então nós fomos mais uma vez e nós..." Ele suspirou, esfregando os dedos no olho e continuando. "Nós insistimos em fazer as coisas mal. E o que estou dizendo é que quando me disse que queria que fossemos amigos eu não entendi. Eu fiquei meio... bravo? Eu acho que sim e foi egoísta da minha parte."

Eu o segurei mais perto, porque sem querer falar eu queria que ele soubesse que eu entendia.

"E eu fui convencido, achando que depois de todo aquele tempo você ainda me queria da mesma forma que antes, que você ainda era o mesmo e que nós podíamos funcionar. "

E não podíamos?

Jimin e eu não podíamos funcionar... nunca?

"Jungkook, eu..." Ele puxou outra lufada de ar, como se custasse. "Eu gosto tanto de você e eu..." Ele me apertou mais, os dedos em volta no tecido que cobria as minhas costelas, descendo para encostar a testa no meu peito. "Eu amo você, mesmo, mas eu não te amo como os seus amigos te amam. Eu não te amo como Taehyung te ama, ou Yugyeom. Eu só... Eu te amo da minha maneira e eu não sei como mostrar."

Eu queria dizer tanto, eu queria soltar tanto e eu não fiz. Não era a minha hora e não era o meu momento.

"E por isso, eu... Eu não te quero loge." Começou por concluir. "Por isso, eu acho que consigo ficar e ser seu amigo, porque eu tenho de conseguir. E está tudo bem em sermos amigos se eu ainda poder fazer estas coisas com você, às vezes, não precisa de ser sempre e..."

Ele se calou quando os meus dedos correram pelos cabelos dele, a mão pousando no molde da sua nuca e os meus lábios beijando-lhe a testa.

"É igual e eu..." Eu finalmente respondi, a voz tão baixa e o coração tão mole. "E eu tenho um medo absurdo de te perder."

Faziam quantos meses desde que eu não era honesto sobre o que sentia por Jimin? E quanto mais tempo seria preciso para me aperceber disso se ele não estivesse ali agora, dizendo aquelas coisas? 

"Jungkook." Chamou ele, a mão subindo das minhas roupas para pousar a palma na minha orelha, a ponta dos dedos envolvida nos meus cabelos atrás dela. "Nós nos temos, não é?"

"Sim, eu acho que sim." Eu sorri, quieto, o olhando ali, bem na minha frente, tão propício. "Você me tem."

Ele sorriu da mesma forma que eu, baixando o olhar, a sua mão em mim, passando o polegar com carinho no topo da minha orelha, tentando ficar mais perto, como se desse.

"Sono?"

Ele acenou, esfregando a bochecha contra mim, e eu segurei a sua mão, entrelaçando-a na minha e mantendo-as entre nós.

Quando adormecemos ali não nos demos conta de nada. Não pudemos perceber que éramos dois em volta de algo muito maior do que nós, como planetas em volta do sol. No entanto, ao contrário dos planetas, andávamos às voltas juntos, sempre juntos, mesmo milimetricamente distantes.

Eramos tanto, unidos, ali mesmo, fosse onde fosse, agarrados ou soltos, sozinhos ou com outros, éramos nós e éramos um do outro.

E o que queria isso dizer?

"Vocês são uns fodidos."

Foi o que Kim Yugyeom disse quando eu lhe contara, mais tarde naquele dia, já de noite, que não havia mais como esconder que eu e Jimin eramos apaixonados um pelo outro e era bem mais do que isso.

"Não é mentira." Eu sacudi os ombros, do outro lado do balcão do restaurante já fechado, acabando de passar o pano pelo balcão e depois pousando-o no ombro.

"E depois disso tudo ainda vão continuar com essa idiotice de ficarem amigos?"

"Claro que sim." Eu me virei, desviando o olhar da sua figura ali, sentado nos bancos altos de balcão e vendo a minha mãe no interior da cozinha lavar alguma louça que não coubera na máquina de lavar. "É o lógico, afinal. Você sabe que eu e ele não funcionamos."

"O que eu sei, amigo..." Cantarolou ele, os hábitos de Kim Taehyung na ponta da língua, apontando-me um dedo e a língua contra os lábios. "É que vocês nunca tentaram funcionar, não é verdade? Jimin nunca te disse que gostava de você assim, então vocês só agiam como dois idiotas. Sim, os dois!" Exclamou ele quando o olhei indignado, arrumando copos debaixo do balcão.

"Nós estamos bem assim, Yug, o que quer que eu te diga?"

Ele revirou o olhar, depois colocando um sorriso na face quando a minha mãe se chegou ao pé, esfregando a palma da mão nas minhas costas.

"Acho que acabamos aqui..." Ela suspirou, cansada, passando agora a mão pela testa suada. "Vai ficar hoje, Yugyeom?"

"Não, senhora Jeon..." Ele se levantou, esticando-se por cima do balcão para a abraçar desajeitado. "Mas antes de eu ir, espero que saiba que embora tenha criado o seu filho bem, ele precisa de entender que quando uma pessoa gosta de nós e nós gostamos dessa pessoa então nós simplesmente não a largamos!"

Ele parecia realmente chateado, me fazendo rir, e a minha mãe foi arregalando o olhar, entendendo que aquilo não era sobre ela e esperando ele sair e fazer toda uma cena dramática.

Quando o sininho na porta acalmou o som estridente, ela me olhou com os lábios comprimidos e o olhar materno e acolhedor.

"Ele tem razão, você sabe." Ela declarou a sua posição, a palma subindo e aquecendo a minha bocheha e maxilar. "Eu te vi com Jimin hoje, dormindo, mas eu não precisava disso para saber."

"Mãe, saber o quê? Nós..." Eu fui resmungando, as palavras sem vir.

"Vocês são dois tontos." Ela voltou a sorrir. "E eu sei que vocês vão ficar juntos, Yugyeom sabe que vocês vão ficar juntos, toda a gente sabe disso, Jun, só vocês dois quem estão adiando."

Vol, tas. ]JIKOOK/KOOKMIN[Onde histórias criam vida. Descubra agora