Azul. Branco. Cinzento.
Há quem fosse dizer que, naquele dia, o céu não estava especialmente bonito, ou o tempo. Há quem fosse dizer que as nuvens podiam estragar a fotografia, que eram um mau presságio. Há quem fosse dizer tanta coisa e não só do céu.
Se calhar a casa atrás de nós cheia de pó também não era das melhores vistas para os olhos de alguém que não conhece a história por trás dela, aos olhos de alguém que não sabe que viveu alguém ali que era e é tão especial, na memória. A água da piscina que tinha folhas de árvores que o vento trouxera e agora estavam ali, flutuando sem nunca ceder à pressão. E, por fim, o coração que bate dentro do peito que, para ver tudo aquilo, precisou de cruzar tantos limites e barreiras que antes achava serem impossíveis de cruzar.
Eu sabia que, o que quer que fosse que Jimin tivesse para dizer era importante e especial, ou então, não estaríamos ali, sentados na borda da piscina com os pés dentro de água e as costas contra o gramado, lado a lado, a olhar aquele mesmo céu que, apenas para nós, era bonito e alcançava a perfeição.
''Porque está me olhando como se não me conhecesse?''
Eu engoli em seco, sem saber que ele sabia que eu estava o olhando e não ao céu, como eu tinha prometido. Os nossos dedos tocavam-se, entrelaçados entre a distância dos nossos corpos, que não era muita no final.
''Me diz quem você é.'' Eu pedi, quase em silêncio, com medo de tudo. ''Como se... Como se eu não te reconhecesse mais.''
Jimin finalmente virou o rosto para mim, os lábios partidos em dois e o olhar quebrado em mil. Aquela era uma pergunta para o qual Jimin não tinha a resposta na ponta da língua. Quem era Park Jimin? O que o definia naquele exato momento?
''Alguém que está cansado de não te ter.''
Eu virei o rosto para cima de novo, sem largar a sua mão ou deixá-lo perder a confiança de alguma forma. O meu coração tinha, naquele momento, força o suficiente para ir, em um pulo, até o espaço e, doido como era, ainda voltar.
''Isso combina com alguém que sente o mesmo?'' Eu questionei, a voz de repente rouca e frágil. ''Ou é demasiado em comum?''
Tantas vezes tínhamos começado conversas que vinham com um mas. Sinto a sua falta, mas. Gosto de você, mas. Podemos resolver isto, mas. É sobre nós, mas.
Os seus pés mexeram-se contra a água e eu voltei a virar o rosto, o vendo sorrir para o céu e o braço incrédulo tapando-lhe os olhos.
''Jimin.'' Eu chamei, pegando a sua atenção. ''Quero ficar com você. Mesmo.'' Com mágoa na voz, eu decidi que se havia algo que dizer, tinha que ser dito ali e agora. ''Mas também quero que fique comigo. Só comigo.''
''Dói um pouco saber que você não consegue ver que eu estou mudando, que estou tentando.''
O que doía era saber que as minhas palavras o magoavam, a ele, que não merecia. A ele, que já era tão doído.
''O que você quer que eu diga? Eu estou sendo honesto.'' Respondi eu, puxando as nossas mãos unidas em um para cima da minha própria barriga. ''Estou tentando te dizer todas as coisas que quase saíram da minha boca naquele dia.''
Eu o vi fechar os olhos, como se quisesse impedir a memória, como se quisesse esquecer que, quando meses antes ele estava pronto e precisava de alguém, eu o tinha mandado embora, como um convidado indesejado em nossa casa.
''Então diga.''
E se doerem? Você foge ou fica?
''Desde o ínicio que... Bem, desde que eu sei que sinto coisas por você que eu nunca vi as coisas indo da forma que foram, tão... complicadas.'' Eu suspirei, sem coragem de o olhar agora, sem coragem de ver o destroço de alguém que esperava tanto. ''Jimin, nós literalmente destruímos um ao outro. Eu... Eu fiquei bagunçado. Você já ouviu aquela canção? Eu vou deixar crescer o meu cabelo, vou beijar todos os seus amigos, inventar uma história, beber demais? Eu me senti assim, mas com coisas mais dramáticas tipo... Riscar o seu carro. Não usar as camisetas que você me deu porque elas me davam agonia.''
''Jun... Você acha que eu fazia isso com todos os meus amigos?'' Ele riu, quase de uma forma sádica e masoquista, mas nunca sem largar seus dedos dos meus. ''Você provavelmente acha que eu deixo qualquer pessoa me beijar em frente dos meus amigos, conhecer eles, conhecer a minha família. Quantas pessoas você acha que conhecem aqui? Porque é só você, tudo isso é só você. Comprar camisetas, ficar no loft comigo, conduzir o meu carro. Ninguém mais... Ninguém mais toca em mim do jeito que você faz.''
''Porque... Porque você nunca me disse isso antes?''
Eu mesmo podia responder àquilo. Eu mesmo podia ditar os motivos, dizer que o meu amor por Jimin nunca fora contínuo para ele. Eu nunca tinha dito a Jimin tudo o que eu sentia e, se eu dizia, eu dizia por meias palavras e, como tudo entre nós, passados dias tudo mudava. Eu sabia e ele sabia, por isso, o que ele disse a seguir não me surpreendeu.
''Quando eu te perguntei se tinha se apaixonado por mim, você disse que não.'' Relembrou ele, puxando agora as nossas mãos para cima da sua barriga. ''Você disse que não e dias depois disse que sim. Eu te disse que era ruim, Jun, e você me disse que sabia. Você disse todas essas coisas e depois foi e beijou uma garota qualquer.''
Eu quis rir. Quis realmente rir, porque... era isso? Jimin não sabia que essa garota era tão parecida com ele?
''Você não... Você não acreditou em mim?''
''E você pode me julgar?'' Ele me encarou, as sobrancelhas sobrepostas. ''Eu estou te dizendo aqui e agora que eu te amo e você parece não acreditar também.''
Eu arregalei o olhar, engolindo em seco e desviando o olhar.
''Eu não sei como... Não sei como fazer isso.'' Confessei de uma vez, desesperado por tirar toda a culpa de cima de mim, de cima de nós. Queria aniquilar aquela nuvem de más memórias, queria seguir em frente. ''Não sei como esquecer o seu rosto e a sua voz me dizendo que me odeia.''
''O quê?'' Jimin ergueu o tronco, os cabelos despenteados cobrindo a sua testa e as sobrancelhas sobrepostas, parecendo desacreditado naquilo.
''Você disse isso...'' Eu sorri de lado. ''Quando você beijou Yugyeom... Você disse que me odiava, disse que tudo o que eu era... era um sexo bom. E eu não quero isso, não quero isso para nós.''
''Foda-se.'' Ele suspirou, soltando a minha mão e virando-se para a piscina, apoiando os cotovelos nas coxas e curvando-se para esfregar a face.
''Ei...'' Eu ergui o tronco também, ficando sentado do seu lado e pousando a bochecha contra o seu ombro. ''O que você disse era verdade?''
''Não, Jungkook! Eu estav-'' Ele se virou, me puxando para cima pelas bochechas e espremendo-as entre as palmas das suas mãos, tendo a certeza de que eu levava as suas palavras a sério.
''Não isso...'' Eu ri baixinho, a voz saindo engonhada por ter os lábios separados involuntariamente. ''Você disse que jogou limonada em mim porque... porque não queria se apaixonar.''
''Oh, eu disse?'' Ele acabou me soltando, coçando os cabelos da nuca e ficando envergonhado de repente. ''Isso é fodido, não é?''
''Muito.'' Eu sustentei o meu corpo para trás com o auxilio das mãos contra a grama que circulava a piscina, o sol batendo nos nossos rosto e, de repente, convencido e brincalhão, disse: ''Saber que se você não fosse um fodido nós podíamos estar juntos desde então.''
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Vol, tas. ]JIKOOK/KOOKMIN[
FanficPor tantas vezes, a vida parece dar voltas nas voltas que a vida dá e nesta reviravolta a história de Jeon Jungkook e Park Jimin parece não estar terminada. Jungkook sente agora o sabor de liberdade como quem sente a falta de peso nos ossos, mas não...