9 ♻ loft ♻

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"O que você está dizendo?" Yugyeom perguntou-me, as sobrancelhas franzidas, antes de se virar para Taehyung, sentado ao seu lado, os dois em frente de mim. "Você sabia disso?"

Se calhar ele sabia, de certeza que sabia. Taehyung sabia de muitas coisas ultimamente. 

''E o que você disse?'' De novo para mim, Yugyeom parecia tão chocado quanto era para alguém que estava em cima do acontecimento estar. 

''Nada.'' E sacudi os ombros, como se aquilo não me matasse por dentro, assim como o que proferi a seguir. ''É só mais uma mentira de Jimin.'' 

''Você está sendo injusto.''  Taehyung se intrometeu então, e eu podia ver que ele não queria, não queria nada mesmo, mas ele e Jimin eram amigos, era isso que ele faria, defendê-lo. 

''Diz alguma coisa, por favor.'' Yugyeom pediu-lhe, porque assim como Taehyung estava prezando pelo bem de Jimin, Yugyeom estava prezando o meu. 

''Jimin quer ser seu amigo, e honestamente ele não queria que você carregasse algum tipo de culpa.'' Foi o que ele nos disse, contragosto, suspirando derrotado, e um riso irónico deixou os meus lábios, levando o loiro a revirar o olhar. 

''Perfeito.'' Eu proferi, levantando-me e deixando o restaurante. 

E aquilo era demais para mim, porque durante todos aqueles meses eu não achei que não ter Jimin por perto fosse uma bênção, mas as coisas com ele eram assim, sempre foram, assim que ele pisava perto da linha que era a minha vida a mesma se transformava numa daquelas montanhas russas que você não ousa andar até ter um amor fraco pela vida. 

''Jungkook.'' Taehyung me chamou, na calçada em frente de minha casa, e eu relutei em me virar e ouvir o que ele tinha para dizer. 

''O que foi?'' Eu perguntei, as mãos enfiadas nos bolsos das calças, a feição séria contra o medo de Taehyung de dizer mais, o ar preso. ''O que você poderá dizer que irá remotamente melhorar as coisas?'' 

''Eu só queria te pedir... para ter cuidado.'' Ele finalmente disse e parecia arrependido à medida que proferia cada palavra. ''Cuidado com Jimin, ele... Eu sei o que você passou, Jungkook e-'' 

''Não sabe.'' O interrompi momentaneamente. 

''Ok, não sei!'' Exclamou, todo atrapalhado, abanando as mãos e depois empurrando os cabelos para trás. ''Mas é uma fase difícil para ele. Pense bem sobre isso. Ele perdeu alguém importante para ele, ele perdeu o que mais o mantinha na linha, Jungkook, e no meio de tudo isso ele ainda perdeu você.'' 

E eu ri, cheguei a gargalhar, a mão passando quase com raiva pelos lábios. 

''Você não precisa de me dizer.'' 

E pela segunda vez naquele dia eu voltei a virar as costas ao meu amigo. 

E aquilo não era o que eu devia fazer, não era decerto o que eu queria fazer, ou pelo menos achava que não queria, mas quanto mais eu pensava mais o meu passo se apressava, maior era o arrasto dos meus pés contra o chão de cimento, e o dia acima de mim não se fazia bonito, não tinha um grande sol iluminando o meu caminho e certamente não aquecia a minha pele. Não. Eu estava sendo avisado. Avisado que era um caminho sem volta, mas também não era a primeira vez que eu tomava um desses. 

Ao bater na porta de madeira que eu conhecia bem, mas para a qual não costumava ser preciso bater, eu encarei aquela cor castanha como se eu fosse um lunático qualquer até que ela deixou a minha visão de forma rápida, substituída por algo que eu considerava bem mais bonito do que a cor. 

E não importava se Jimin estava com roupas velhas vestidas, os cabelos despenteados ou a face suja no canto do maxilar. Nada disso me impediu de me desembrulhar ali, como se aquele fosse um poço de segredos e eu me pudesse afundar nele. 

''Eu quero te dizer, Jimin, que nós podemos ser amigos, e não precisamos de nos lamentar, nenhum de nós precisa de sentir culpa pelas coisas do passado, e, honestamente, eu não quero sentir culpa, e se você quiser chorar nós podemos chorar, se você quiser esquecer de tudo e rir, ou dormir, ou chorar também, não importa, porque eu posso estar aqui para isso se quiser, nós podemos fazer isso, nós dois, nós podemos ser amigos, podemos ser normais, não precisamos de nos agarrar a coisas que nos fazem mal.''

Eu tinha mais o que dizer, e se ele não me parasse, eu podia ficar ali a tarde toda e descoser-me, mas o seu corpo chocando contra o meu foi mais do que suficiente para me parar e os braços em volta de mim chegaram para me cortar a respiração em questão de segundos. 

''Você quer entrar e me ajudar?'' 

Aquilo seria a deixa perfeita para largarmos um ao outro, mas ao invés, Jimin subiu em seus pés, assim como os seus braços em mim, rodeando o meu pescoço, e ele me abraçou mais. 

''Você finalmente teve uma ideia boa, biscoito.'' 

E então o ar saiu todo de mim em forma de um suspiro aliviado, fazendo-o rir baixinho e me largar, puxando-me para dentro mesmo sem ter uma resposta da minha parte.  

Foi então que eu percebi que essa coisa de culpa, mesmo que nós dois estivéssemos alinhando, não iria sumir tão depressa assim.

O loft de Jimin estava diferente, e ele já tinha aparecido diferente para mim imensas vezes, mas daquela vez parecia algo que não teria volta, não, não teria. 

''Você... Você está remodelando?'' O meu lado otimista questionou, e Jimin agradeceu por isso, um sorriso escasso mas negando. 

''Não consigo mais pagar por isso.'' Explicou então, sentando-se no braço do sofá e olhando em volta. ''E também não tem mais um porquê, eu não preciso mais de ensaiar, então...'' 

Então você é obrigado a largar os seus sonhos e quaisquer chances de os recuperar. 

''Jimin...'' 

''O que faremos para nos despedir-nos do lugar?'' Ele perguntou, levantando-se dali e olhando em volta. ''Quer dizer, eu já arrumei tudo nas caixas, mas ainda temos o sofá e a televisão ainda está ligada.'' 

''O que está sugerindo?'' 

Os dois sabíamos que aquilo não era despedida alguma, não uma digna, porque Jimin e eu já podíamos ter feito muita coisa naquele lugar, mas ver televisão não fora uma delas, em nenhuma das vezes, então sim, sabíamos que era apenas uma desculpa para ficarmos juntos, como se adorássemos a ideia de sermos amigos agora, ou de pelo menos termos decidido tentar ser. 

As coisas pareciam simples vistas dali, porque não estavam todos os elementos que deviam estar naquela equação, aqueles que estávamos ignorando. E, um deles, o mais certeiro e indispensável, era o que sentíamos um pelo outro, não importa o quanto nos tenhamos magoado antes. 

E isso... Isso não se podia esquecer. 

Vol, tas. ]JIKOOK/KOOKMIN[Onde histórias criam vida. Descubra agora