A senhorita Audrey Morse possuía brilhantes e encantadores olhos verdes que contrastavam muitíssimo bem com a pele clara, o cabelo de tom castanho e as bochechas frequentemente coradas. Não era uma dama qualquer. Não almejava um casamento grandioso com um cavalheiro rico, sequer pensava casar. Preferia observar as coisas ao seu redor e alimentar a alma com as mais variadas leituras. Morreria feliz sozinha, se este fosse o destino reservado para si; da vida exigia apenas que o espírito fosse preenchido por sentimentos intensos. Ao seu modo, era apaixonada, amava paisagens e todas as formas de arte. Era dona de um espírito feroz, embora a personalidade forte talvez a tornasse um pouco excêntrica.
Havia perdido os pais há pouco tempo e agora morava com os tios, no vilarejo de Sprilow em Derbyshire, um lugar simpático e com trilhas que a deixavam extremamente animada e empolgada. Afinal, dois dos seus grandes prazeres eram caminhar e cavalgar. Adorava sentir o vento contra o rosto. Na brisa da manhã e entre as árvores, sentia-se confortável; feliz, por assim dizer.
Gostava do tio, Charlie Hall, também do primo, o constantemente risonho Hazel. Os considerava bons homens. No entanto, precisava de um pouco de autocontrole para conviver com a tia Elizabeth e a prima Caroline; eram elas que, agora mesmo, tiravam a concentração de Audrey.
Tinha em mãos o livro A política de Aristóteles. Uma leitura difícil e que exigia muito dela. Seria tudo mais fácil se as outras duas mulheres não estivessem andando de um lado para o outro, dando ordem aos criados que arrastavam os caixotes, suspirando com a chegada da viagem a Northumberland e arquitetando planos de sedução.
O convite de Robert Campbell aos Hall para que passassem uma temporada em sua residência, o castelo de Alnwick, foi visto por Caroline como uma clara demonstração de interesse da parte do Duque. Elizabeth, por sua vez, já cogitava um casamento e não se preocupava somente com os preparativos da viagem, mas também com o possível enxoval da filha, a festa de casamento, a viagem de núpcias... Coisas que deixavam a Srta. Morse entediada. Ela olhava para o livro e fingia ler, quando na verdade lamentava em silêncio por tudo que ouvia.
O senhor e a senhora Hall haviam declinado da proposta do Duque Campbell, visto que há tempos planejavam uma viagem a Londres no verão; coube a Audrey, portanto, o encargo de ser a companhia e razão de Caroline em Alnwick, e isso era o que mais a deixara cabisbaixa.
Viajar agora, quando secretamente estava negociando ser preceptora na casa dos Morris, seria um grande empecilho para os planos de se tornar independente. Desejava conseguir rendimentos para manter o próprio sustento, não gostava de se imaginar morando com os tios para sempre, era orgulhosa demais para isso. Compreendia que, se o Sr. Hall descobrisse suas intenções, seria rechaçada por ele, pois apesar de ser amável, Charlie consideraria humilhante ter uma mulher na família trabalhando.
No mesmo momento em que pensava nele, Audrey viu o tio passar às pressas pelo corredor. Com toda a graça e delicadeza que conseguiu reunir, fechou o livro, levantou-se da cadeira onde estava sentada e foi atrás dele. Rapidamente a noite chegaria ao fim, e partiria logo pela manhã para Northumberland; portanto, essa seria sua última chance de escapar da longa viagem.
Tentaria convencer o Sr. Hall a deixá-la ficar.
—Tio — chamou sem forçar a voz. Precisava ser discreta. Para sua sorte, ele ouviu.
— Sim?
Ela se aproximou de punhos fechados, ansiando em silêncio conseguir uma resposta positiva.
— Estive pensando e... — Hesitou ao cogitar se deveria seguir, os olhos dele esperaram ansiosos e com certa frenesia. Audrey engoliu em seco. Decidiu que sim, estava no direito de fazer o pedido e não poderia ser vista como uma ingrata por isso. — Acredito não ter o dever de acompanhar minha prima amanhã.
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O Duque Campbell
RomanceÓrfã de pai e mãe, e após sentir muitos dos dissabores da fatalidade de uma vida de privações e solidão, Audrey Morse está decidida a se tornar preceptora e encontrar no trabalho a liberdade do espírito e o conforto de uma existência com propósito...