Naquela manhã, Audrey se sentia pior. As sensações terríveis da enfermidade desconhecida deixavam-na atormentada.
A náusea se tornou uma manifestação imutável do corpo, e isso era angustiante, os enjoos, a tontura, o cansaço... Vinha se alimentando muito mal devido a repulsa desenvolvida em relação ao cheiro dos alimentos, e mesmo quando conseguia comer pelo menos um pouco, o estômago se revirava em ânsias terríveis.
Mas não era apenas isso. Muito do estado decadente devia-se a preocupação extrema. Pior que a doença, era o terror a perturbá-la durante a noite. Não conseguia fechar os olhos sem ter pesadelos com as cenas narradas pelo Príncipe Edward. A tal altura, passara a evitar dormir, por puro pavor do que encontrava no mundo dos sonhos. Durante toda a noite as velas do cômodo ficavam acesas, pois sem Robert ali para acolhê-la e proteger entre os braços, o medo do escuro e das sombras voltou a habitar seu coração e trazer à tona o velho pavor infantil.
Quase duas semanas completas sem se alimentar direito ou dormir o necessário, fizeram-na ganhar um semblante realmente doentio. O rosto, diferente da coloração rosada que frequentemente apresentava, estava pálido; os lábios, ressecados e esbranquiçados. As ires, antes tão brilhantes, afundadas em olheiras escuras, pareciam menos verdes. A preocupação, unida ao lento correr dos dias, roubou-lhe parte da beleza.
Estava pura aflição. O corpo padecia e a mente traia. Não ficava um segundo livre daqueles horrores: o Sr. Campbell sendo arrastado pelas ruas, tendo o ventre dilacerado e as vísceras lançadas ao fogo... Por mais que tentasse, não conseguia fugir dessas ideias. Não tinha controle sobre o rumo dos devaneios, os quais estavam fadados a martirizarem-na. Sentia-se insegura, ansiosa... o corpo doía e o coração estava sempre espremido no peito. O tempo inteiro sentia vontade de chorar, entregar-se finalmente a tragédia e deixar de procurar soluções, no entanto, ainda se obrigava a parecer firme, quando nem mais se aguentava de pé por muito tempo.
Lá fora, o canto dos pássaros começava a virar uma encantada melodia, anunciando o fim do crepúsculo. Eram as primeiras horas do dia, e mais uma vez não conseguira dormir. Naquele momento, apesar de sufocada por todas as preocupações, e finalmente sentindo o sono chegar, deslizava a mão pela barriga. Tinha esperanças quanto às suspeitas da Sra. Jones a respeito dos motivos de sua atual condição, no entanto, parte de si ainda acreditava que todas as reações do corpo eram resultado das tribulações que vinha enfrentando. Também perturbava ainda mais o fato de, mesmo na hipótese de estar grávida, as coisas não ficarem completamente bem, pois conforme a própria Sra. Jones, a qual se dizia bastante experiente no assunto, a intensidade dos sinais apresentados pela duquesa deixava evidente uma gravidez arriscada.
Estava vulnerável, admitia para si em pensamentos, enquanto afagava e observava a barriga, buscando por alterações em sua forma. Se não tivesse sangrado há quatro dias, pelas suas contas, estaria com 8 semanas. As regras duraram apenas um dia, ainda assim, vieram, isso confirmava que definitivamente não estava grávida ou, numa ideia muito preocupante, estava, mas a criança realmente não passava bem.
Chegou a pensar na alegria do Duque, quando contasse que o daria um filho. Porém, como poderia se alegrar e fazer planos? Direcionava todas as esperanças às crenças da Sra. Jones, mas isso a deixava pior, porque era evidente que podia perder o bebê, caso ele realmente estivesse ali, em seu ventre. Atormentava a ideia de ser inóspita, ou de ter se guiado a este caminho, quando infelizmente não conseguia controlar os receios e aflição.
Sobressaltou-se assustada, ao ouvir a porta do quarto ser bruscamente empurrada. Aquietou-se, contudo, ao ver Jane e George entrarem em correria, sendo acompanhados por uma Lilly irritadiça esbravejando palavras de ordem.
— Senhora! Senhora! — Eles gritavam, correndo na direção dela, afoitos e com acessórios presos ao corpo. — Vimos o Duque! Ele está chegando!
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O Duque Campbell
RomanceÓrfã de pai e mãe, e após sentir muitos dos dissabores da fatalidade de uma vida de privações e solidão, Audrey Morse está decidida a se tornar preceptora e encontrar no trabalho a liberdade do espírito e o conforto de uma existência com propósito...