Capítulo X - O Casamento

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Audrey deixara Northumberland com a promessa de nunca amar Robert. Agora, seis meses depois, estava de volta, não como uma visitante, mas na iminência de se tornar duquesa. Durante o período em Derbyshire, na casa dos tios, não recebeu visitas do noivo, não houve um cortejo, e isso a manteve firme na decisão de odiá-lo. Ele não escreveu uma carta sequer, permaneceu distante em corpo e alma, como ficara subentendido que deveria ser. No retorno ao Castelo de Alnwick, foi ela quem o evitou, decidida a não encontrá-lo caso não fosse estritamente necessário. Esta decisão de chofre lhe pareceu inconsequente, porque tornar a vê-lo apenas no altar, provocou-lhe sensações para as quais não estava preparada.

O tempo é algo completamente estranho e impiedoso, pensava consigo, pois o tinha, naquele momento, como o mais terrível e temido inimigo. Quão genuínos eram os seus sentimentos em relação ao inescrupuloso passar dos dias, sentia como se toda a angústia que ainda habitava o coração, tivesse selado um trato cruel com aquele que regia os homens.

Tudo aquilo que ainda lhe feria com a força de inúmeras flechas, muito tinha a ver com a agonia de presenciar cada novo amanhecer. Seu desejo mais sincero, ainda que soubesse o quanto era inalcançável, resumia-se, de forma ambígua, a grandiosa vontade de se sobrepor a natureza.

Que Deus não ouvisse seus pensamentos, pois poderia pensar que ela, em sua vida fadada a todas as desgraças, insurgira num mar de desalento, e em meio a todo o tumulto, ousara desafiá-lo em um último suspiro de liberdade, clamando e desejando ser mais do que ele, para assim voltar a infância de ignorante felicidade e repetir aqueles dias alegres pela infinidade que durasse sua vida. Sabia que isso estava fora de alcance, mesmo assim, ainda pecava, pois em segredo duvidava se até mesmo Deus era capaz de brincar com o tempo, pois este, mais do que seu próprio senhor, sempre se mostrava absoluto.

Era uma pecadora e ouvira muito falar do lugar para onde iam os maus de coração. A tia, durante os velozes meses que se passaram desde o fim do verão, não cansou de lembrá-la. Todos os sermões para moças e também para pecadores, foram lidos e repetidos arduamente, durante todas as noites, sempre na presença dela. A essa altura, então, tinha a impressão que os conhecia tão bem quanto qualquer presbítero. Poderia facilmente recitá-los diante de qualquer um que se dispusesse a ouvi-la.

Ainda assim, conhecendo o destino, não fora capaz de sentir um mísero trisco de culpa. Em seu coração habitavam muitos sentimentos, mas a misericórdia por aqueles que a condenaram e tentaram humilhar, não era um deles. Poderia dizer que, pelo menos desse tormento, estava livre. E quão feliz se sentiria se estivesse se unindo ao Duque por pura maldade para com a prima, pois desse modo Deus poderia facilmente perdoá-la, tendo em vista que, casando-se por amor, apenas fazia mal a alguém tão cruel quanto ela. No peito uma leve satisfação fadava ao escárnio, tendo tirado de Caroline o homem que ela dizia amar; mas, maior era o tormento que implicava o matrimônio, esse qual a entristecia e torturava.

Estava realmente triste, sentia-se assim, e embora nenhuma lágrima ameaçasse lhe embaçar os olhos ou um tom pálido tentasse dar a face a mesma morbidez de uma manhã perdida em névoa, as feições dela não eram de uma noiva feliz. Os convidados, porém, manter-se-iam alheios a evidente infelicidade, enquanto o véu cobrisse o rosto da infelicidade.

Por baixo do fino tecido, já era capaz de ver o Duque, esperando-a, como se seu desejo fosse ir de encontro a ele. Quando, na verdade, cada parte de si ansiava fugir.

Mediante todos os esforços, de fato não o vira desde a noite das verdades reveladas, quando o verão ainda ditava os dias e os sinais do outono não eram claros. Agora outra estação regia o clima e, como naquele dia, o coração dela estava igualmente inquieto, mas já não sabia se pelos efeitos do inverno ou se por aquele reencontro.

O Duque CampbellOnde histórias criam vida. Descubra agora