Naquela tarde, a Srta. Morse estava elegantemente vestida em seda. Isso porque, Edward Turner permanecia em Alnwick. A razão, todos tinham conhecimento.
O baile não havia sido o principal motivo da visita do príncipe, tudo se tratava de política. Ele estava ali para consultar a opinião do Sr.Campbell a respeito do julgamento de Henry Wood.
Audrey sabia, através de burburinhos que se seguiram pelo dia inteiro, que uma respeitada senhorita havia sido violentamente abusada por um dos amigos do príncipe, durante uma passagem na corte. E o pai, o Sr. Moore, um homem muitíssimo poderoso, dono de terras vastas e um ilustre comerciante, pelo que tudo indicava, culpava Turner por tudo.
Tratava-se de uma história medonha. Quieta num canto, Audrey ouvia a tudo atentamente com o estômago embrulhado. Vez ou outra, remexia-se por sentir os olhos negros do Duque sobre si. O dia inteiro, agiu conforme as indicações dele, não se aproximou, pelo contrário, sempre que o via, desviava e fugia. Não o direcionando sequer um olhar.
Distante de abster-se da conversa dos cavalheiros, que seguia enquanto ela fingia bordar uma almofada, sentia-se nauseada. A cabeça doía e dava voltas. Perplexa, ouviu o príncipe dizer que recompensaria o Sr. Moore, pela ofensa contra a filha, dando-lhe terras.
— Um homem importante não costuma esquecer as ofensas proferidas contra si, mesmo depois de novas adulações. Ainda que o opressor não tenha sido o senhor, o agravo será lembrando como se o fosse. — Opinou, não conseguindo mais permanecer calada diante de tudo que ouvia.
Em consequência, conquistou toda atenção para si. Os três homens a olharam gravemente, cada um a sua maneira. O Duque permanecia taciturno, Hazel pareceu preocupado e o Príncipe, curioso.
— O que me recomenda fazer, senhorita? — Ele perguntou.
Finalmente, como ansiava, ela largou as agulhas e a almofada. Esperava uma oportunidade, por isso, mais cedo, não se retirou da sala junto de Caroline. Convicta de si e tendo ouvido o suficiente a respeito de tudo, respondeu firme:
— Deverá defender a execução do agressor. Somente dessa forma, vossos súditos o respeitarão. Ficará claro que o senhor não tolera tais condutas. Será amado e, ao mesmo tempo, temido, exatamente como um príncipe deve ser. Amado pelo povo, por fazer justiça a lancinação sofrida; e temido por se mostrar cruel, mesmo com aqueles que lhe são próximos.
— É desconfortante admitir, senhorita, mas não tenho olhado a questão por essa perspectiva. Henry é um amigo de longa data, sem meu apoio, estará condenado... Temo ser duramente punido por qualquer uma de minhas decisões.
—Então pretende fechar os olhos para os crimes de vossos amigos? Não considera mais importante fazer o que é certo? Opiniões não devem amedrontar um homem justo. Condene-o ao destino que merece, contra isso não há argumento capaz de ferir sua decisão.
O Príncipe se remexeu, lançou ao Duque um olhar curioso, mas ele também parecia desconfortável com a situação.
O Sr. Hall, por sua vez, de cabeça baixa apertava a têmpora, conhecia as ideias de Audrey; no entanto, agora temia pela forma exigente com que ela tentava ditar os próximos passos de Edward, este, até então, não parecia levar tudo como uma ofensa, estava evidentemente constrangido por receber conselhos de uma mulher; mas não irritado, e ouvira a tudo atentamente.
Ainda assim, Hazel temia e estava pronto a tentar defendê-la, caso algo saísse errado. Diria imediatamente, tendo o pior ocorrido, que Audrey, por viver reclusa da sociedade e entre pais estudiosos, não entendia muito de como respeitar os superiores ou se portar.
— Parece interessante e muito plausível — o Príncipe retornou a conversa, após refletir por alguns instantes. Fitou-a interessado, então continuou: — No entanto, começou por dizer que as ofensas não serão esquecidas, mesmo diante dos benefícios que oferecerei, e termina por afirmar que serei admirado? E não é só isso, enquanto expunha suas ideias, e nesses momentos em que meditei em suas palavras, conclui, caso aja conforme me instiga, que o povo, tendo em vista as acusações a respeito da conduta de Henry ao longo dos anos, pensará que agi agora apenas por se tratar da filha de um comerciante poderoso, mas os abusos cometidos anteriormente sobre as senhoritas menos afortunadas, foram negligenciados por mim.
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O Duque Campbell
RomanceÓrfã de pai e mãe, e após sentir muitos dos dissabores da fatalidade de uma vida de privações e solidão, Audrey Morse está decidida a se tornar preceptora e encontrar no trabalho a liberdade do espírito e o conforto de uma existência com propósito...