Sob a brisa aconchegante do início da tarde, os olhos verdes corriam maravilhados pelas letras bem desenhadas do Sr. Hall.
Audrey analisava cada palavra, cada sentimento exposto, e enquanto se deixava entorpecer pelas sutilezas dos detalhes de como tudo se deu e com qual ferocidade o coração foi atingido; Hazel andava de um lado para o outro, esperando um parecer, nervoso por saber que logo o cocheiro passaria e a carta seria enviada.
Não podendo conter em si toda a ansiedade, ele parou diante da prima, exasperado demais para esperar ela refletir. Os olhos azuis vidrados no rosto corado, esperando por atenção.
Pigarreou, conseguindo assim que Audrey o direcionasse um olhar sincero.
— No caso de tio Charlie responder negativamente, desfará a proposta de casamento e abandonará Catherine?
— Não. — A reposta foi imediata. Esperou dela um retorno. A postura um pouco curvada e a mão correndo pelo cabelo denunciavam seu estado de nervosismo.
Sua confidente, no entanto, pacientemente colocou a carta sobre a mesinha redonda de jardim, e nada mais disse. Dando por encerrado o assunto, pegou os pincéis e voltou a pintar a paisagem do corredor de flores logo a frente. Havia flores vermelhas, amarelas e brancas, que contrastavam perfeitamente com o verde das folhas e a grama bem aparada. Uma tela bonita, que quando emoldurada se transformaria no presente de casamento perfeito. Tinha certeza disso.
— Não vai me dizer nada? Não percebe que estou esperando uma opinião? — indagou, parando as mãos sobre a cintura e observando com indignação a moça que fazia descaso da situação. Começava a se irritar com todas aquelas cores e pincéis, pois certamente Audrey estava dando mais atenção ao exercício da arte, do que a aflição de um condenado ansiando por afirmação.
— Está bem escrita, digna de um cavalheiro que estudou no melhor colégio da Inglaterra. As palavras foram bem colocadas e os sentimentos perfeitamente descritos. Existe até, mesmo que singelo, um toque poético. — Foi sincera, procurando analisar criticamente as palavras lidas, enquanto tentava dar a pintura um tom menos sombrio: retratando um dia ensolarado, quando na verdade, nuvens negras mostravam o oposto.
— Ora, não brinque comigo, sabe que não é isso o que espero ouvir.
— Bem, pelo que entendi, em qualquer dos casos, a conclusão será a mesma. Irá casar-se com Catherine independente da resposta que receber dos seus pais, pois bem, não entendo o motivo da carta, assim como não entendo sua preocupação. Pede permissão, mas agirá mesmo sem ela. Se deseja minha ajuda, então seja sincero e me diga o que, de fato, o está deixando assim: impaciente e...
Foi severamente interrompida:
— Temo que, de alguma forma, minha mãe padeça de um mal súbito ao descobrir que estou noivo de uma criada.
Ela riu, ainda assim, não parando em nenhum momento o que fazia, as mãos ágeis e determinadas a entregar um serviço bem-feito. Mas apesar de realmente distraída, aquela não era a resposta que esperava ouvir, tinha mais, podia facilmente ver nos gestos de Hazel e na voz pesarosa que escondia algo.
Ouviu um novo murmúrio exasperado dele e resolveu, finalmente, embora considerasse desnecessário, fazer algo a respeito.
— Não há motivos para continuar preocupado. Vou lhe dizer o que fazer: conclua a carta informando que o Duque fez o pedido, conte com detalhes que foi uma cena digna, Caroline recebeu uma declaração no jardim! Escreva de forma exaltada, com algumas exclamações, da mesma forma que soe como agora enfatizei o caso. Ressalte também, dado o tempo passado até receberem a carta, que Caroline está oficialmente noiva, pois o pedido oficial será feito em duas noites, durante o baile no castelo. Tia Elizabeth ficará tão feliz, que instantaneamente se esquecerá do real motivo que o fez escrever. O casamento mais vantajoso, que certamente não é o seu, tomará toda a atenção dela. Tio Charlie, por outro lado, não fará objeções, tenho certeza que depois até lhe agradecerá por ter sido cauteloso em suas palavras. E então, receberá uma resposta assertiva.
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O Duque Campbell
RomanceÓrfã de pai e mãe, e após sentir muitos dos dissabores da fatalidade de uma vida de privações e solidão, Audrey Morse está decidida a se tornar preceptora e encontrar no trabalho a liberdade do espírito e o conforto de uma existência com propósito...