Capítulo XV - Frutas Suculentas

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O corpo de curvas sinuosas e pele pálida, com algumas regiões em tom de vermelho, encontrava-se sob ação de êxtase. Audrey estava embevecida. Era capaz de sentir todos os membros que a compunham, no entanto, tinha a impressão de não poder movê-los. Não estava definitivamente dolorida ou enferma; sentia-se bem e em estado de elevação, no entanto, os músculos fatigados a condenavam a exaustão. Embora completamente extasiada e em plena alegria, julgava-se exausta. Parecia que inúmeras carruagens haviam passado por cima dela durante toda noite, impedindo-a agora de sequer ter forças para mover as pálpebras.

Não havia sido uma carruagem a condená-la àquele estado, ou qualquer outra coisa de peso considerável. O Duque, e apenas ele, era o culpado por deixá-la em tal situação de mútuo arrebatamento e cansaço.

Devido ao esgotamento, acordou quando o sol já estava a pico; pelo menos, era o que anunciavam as frestas de luz a adentrar pela janela recém aberta, dando ao cômodo um novo tom e temperatura.

Ela se remexeu sobre a cama e entre os lençóis, esfregando os olhos e recobrando a memória aos poucos. Tentou acostumar-se com a claridade, enquanto a Sra. Mitchell seguia abrindo as demais cortinas e janelas.

Ao retomar a consciência após um longo espreguiço, foi inundada pelas lembranças, consequentemente esbanjou um longo sorriso. Ergueu-se sobre a cama, trazendo os lençóis consigo para esconder a completa nudez. Repousando as costas sobre a cabeceira, fitou a outra senhora em atividades costumeiras. Lilly sempre a despertava abrindo as janelas no primeiro horário do dia, a diferença, porém, era que o dia já correra bastante.

— Bom dia, senhora! — a Sra. Mitchell rompeu o silêncio com exaltação e animação. Apesar de buscar conter-se, sorriu descaradamente.

— Bom dia... — Os pensamentos seguiam em certa confusão, mas logo, ao longe, pôde ouvir o som do piano. — As crianças já estão de pé?

— Sim. Jane treina as lições que a senhora passou, George está no jardim, e Anne com a ama de leite.

Audrey assentiu, meneando a cabeça no ar.

— E o Duque... sabe dele? — Perguntou, corrigindo a postura. Apesar de esbanjar feições alegres e um estado de espírito elevadíssimo, teve receio da resposta; da ausência do marido que dormira ao seu lado, mas já não estava ali.

Lilly continuou nos sorrisos contidos, demonstrando achar graça de uma piada que apenas ela tinha conhecimento.

— Levantou-se cedo, pois o cocheiro, com o qual ele negociou a viagem, amanheceu em Summedise Hall, ansiando partir o mais breve possível, para evitar qualquer mudança do clima.

— Ele havia negociado a viagem, quando temos dois cocheiros aqui?

— Não chegou a lhe dizer que deixaria os dois ao seu dispor?

— Não...

— Pois deixaria — respondeu de forma indiferente, enquanto seguia com as obrigações.

— E o que eu faria com dois cocheiros?

Não houve resposta, Sra. Mitchell apenas deu de ombros, pegando uma bandeja sobre a mesinha e levando até Audrey que, observando o que lhe estava sendo servido como desjejum, resmungou ao vento:

— Deixar-me dois cocheiros! Robert é realmente um homem extravagante e por demais exagerado. — Seguiu com um leve sorriso, fazendo a outra não se conter em animação. — O que vê em mim, Lilly? Há algo no meu rosto ou corpo que a deixa assim: escarnecendo do meu semblante? Desde que acordei e a vi, notei-a agindo dessa forma zombeteira, obviamente troçando de mim ou de algo que não vejo.

O Duque CampbellOnde histórias criam vida. Descubra agora