Capítulo XX - Reconciliação

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Estou grávida...

Eram as únicas palavras das quais se recordava, junto delas uma sensação boa tomava o corpo. Ainda era capaz de sentir a mão trêmula e quente do marido junto a sua, esse mesmo toque caloroso a seguiu por muito tempo, mesmo enquanto dormia; agora permanecia sobre a pele, como se de tão intenso estivesse marcado no corpo, permanecendo ali num eterno afago. No entanto, as mãos dela não eram tomadas por ninguém, jaziam pálidas sobre o corpo. A temperatura acalentadora e a sensação de proteção eram apenas fruto da memória impregnada na carne e nos pensamentos, recordações dos momentos em que esteve desacordada.

Estou grávida, Robert, grávida... E as feições dele bruscamente amenizaram sobre o rosto, antes enrijecido pelos piores temores. A boca se moveu, em vão ele tentou materializar qualquer sensação e reação, mas parecia extasiado e impossibilitado de organizar os próprios pensamentos e sentimentos. Como se o próprio mundo agora girasse de forma diferente sob seus pés, e fosse hora de refazer os planos ou recalcular a direção e intensidade dos passos.

Por mais que se esforçasse, estas eram as últimas coisas que as lembranças de Audrey traziam, porque naquele momento, enquanto o Duque parecia imerso e perdido no que acabara de ouvir, ela igualmente sentiu a perda da consciência e da noção do entorno. O mundo também girou diferente sob seus pés. Novamente tudo ficara escuro e confuso, ainda trazia os resquícios do mal-estar experimentado durante a caminhada. O corpo não havia se recuperado por completo. Não foi capaz de se apegar ao real, imergiu num tempo longínquo e fantasioso.

Desmaiou, como até já pressentia, e durante toda a noite teve delírios, de forma que agora já não sabia se Robert realmente chegara a lhe servir de sopa e passou todo o tempo ao seu lado, agarrando-lhe a mão e beijando a face sempre que podia, fazendo juras e promessas que talvez não pudesse cumprir.

A mente estava confusa, duvidava se as coisas quais aos poucos se recordava retratavam a realidade ou eram apenas frutos de visões febris.

Partículas embaladas pela luz da manhã dançaram diante dos olhos que ainda piscavam e tentavam suportar a carga enfadonha dos cílios pesados pelo sono. A duquesa não sabia se as circunferências resplandecentes e fragmentos esvoaçantes se tratavam da poeira que potencialmente entrara pela janela ou eram apenas os fios soltos dos lençóis brancos. Decerto fossem simplesmente criações de sua cabeça embaralhada ou efeitos da súbita claridade. Talvez fossem ambas as coisas: um pouco da fina poeira levantada do solo sobre ações das intempéries do fim da temporada e também fios de seda arrancados por seus movimentos bruscos sobre a cama. As bolhas translúcidas, inclusive, estavam mais para reflexos da luz em seus olhos sensíveis, meras e quase insignificantes visões das pupilas embargadas e ainda em dilatação.

— Corra, Hazel, chame-o — ouviu uma voz doce ordenar em urgência. Mas embora suave, o som martelou em sua cabeça dolorida.

— É dia? — perguntou num murmúrio, a consciência ainda vaga. A claridade no quarto era intensa e agressiva, diferente da escuridão que engolia a noite quando vislumbrava o jardim e o início da chuva pela janela antes de tudo ocorrer.

— Sim, é dia — Catherine respondeu sorridente, as preocupações se esvaíram ao ver os olhos verdes abertos e recuperando a altivez. Confortou-se, tanto pela melhora e recuperação da amiga, quanto pelo fato de que a feliz notícia impediria o Sr. Campbell de continuar a descontar as frustrações e temores naqueles que lhe cruzavam o caminho. Mais do que agitado e aflito, o homem estava insuportável, nem mesmo Hazel escapara da frustração dele. E a cada segundo que se passava sem Audrey acordar definitivamente, a situação ganhava contornos piores e assustadores. Mas agora tudo ficaria bem, ela pensou, por isso sorriu. — É dia, querida.

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⏰ Última atualização: Mar 29, 2021 ⏰

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