Não importou o quanto Audrey pediu e se lamentou, Robert mostrou-se irredutível. Havia no coração dele um sentimento ruim a exigir aniquilação daqueles que o trouxeram sofrimento. Agia como se o extermínio dos inimigos pudesse dizimar o objeto de martírio. Acreditava no sabor da vingança para livrá-lo da angústia deixada pela perda da família.
O Duque partiu numa jornada própria, lutava uma batalha individual, e Audrey não havia de se preocupar com isso: pelo menos era o que estava escrito na correspondência. Segundo essa mesma carta, cujo conteúdo foi lido pela duquesa enquanto caminhava de um lado para o outro no quarto, tudo estava ocorrendo conforme o esperado; ele passava bem e, inclusive, encontrara os documentos. Agora, então, bastava resolver mais alguns negócios inacabados em Alnwick; os quais pretendia finalizar rapidamente, pois desejava voltar depressa. A saudade o estava matando aos poucos. “Uma semana”, as palavras ressaltavam acompanhadas de exclamações, mais uma semana e estaria de volta.
As notícias deveriam tê-la deixado feliz, mas em verdade vinha contando os dias para o retorno do marido, portanto não foi difícil concluir: a viagem não estava de fato ocorrendo como o previsto, ele não cumpriria a promessa de ficar longe por apenas 15 dias, pois já haviam se passado 12 desde a partida.
Antes de sair para visitar a Srta. Wilson, um convite inesperado aliás, Audrey pensou em não escrever de volta. Em deixar o Duque sem resposta, apenas para evidenciar que permanecia contrária àquela decisão, e agora estava intensamente aborrecida por ele ficar fora por mais tempo além do programado.
No entanto, seria muito cruel da parte dela fazer isso: ignorá-lo por completo, quando também padecia de saudades. Há 5 dias comia muito pouco, tudo a deixava enjoada. Acordava assim: nauseada e sem forças para sair da cama. Sem contar as tonturas e o cansaço a privá-la até das caminhadas matinais.
Definitivamente estava morrendo de saudades. Cria piamente que ficara enferma devido a ausência de Robert. E cogitou escrever tudo isso, para ver se ele se apressava a retornar; porém, maior era o desejo de castigá-lo por tamanha deslealdade. Prometera-lhe algo que não podia cumprir. “Não ficará sozinha por tempo suficiente para sentir a minha falta”, ela riu dessa lembrança, das palavras reafirmadas após o beijo de despedida.
Bem, decidiu-se então por primeiro escrever para Hazel e depois, apenas depois, respondeu o marido, mas fez questão de encher uma folha inteira de inúmeras lamentações. Também, quase ousou dizer a ele que estava prestes a encontrar Harriet Wilson, pois aceitara um convite para um chá da tarde. Mas caso o revelasse tais circunstâncias, estaria comprando uma briga sem voltas. A própria Sra. Jones quase a impediu de sair, repetindo o quanto seria mal vista por tal encontro. A governanta ainda falava “Mulher de caráter duvidoso”, como se Audrey não soubesse em que se baseavam as dúvidas a respeito da honra de referida dama.
Via agora com os próprios olhos: certamente não deveria estar ali, e não estaria, caso não houvesse verdadeira necessidade. A mulher de longos cabelos negros, olhos insinuantes e postura dissimulada a observava com ares arrogantes, enquanto cortava o resistente cacho de uva com uma pequena adaga. O nariz erguido e um sorriso misterioso no rosto corado. Harriet era realmente muito bonita, a Duquesa não pôde deixar de confessar para si.
A mesa estava farta; a comida, no entanto, pouco apetecível, mas isso talvez não tivesse a ver com o cheiro dos bolos e pãezinhos, o problema decerto estava em Audrey. Ela não suportaria se servir e comer alguma coisa, além de tomar o chá.
— Sim — respondeu, terminando de bebericar, enfim retomando a conversa que haviam iniciado. — Tem me enviado notícias. Hoje pela manhã, aliás, recebi uma carta. O Duque faz questão de escrever, simplesmente para dizer o quanto sente minha falta.
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O Duque Campbell
RomanceÓrfã de pai e mãe, e após sentir muitos dos dissabores da fatalidade de uma vida de privações e solidão, Audrey Morse está decidida a se tornar preceptora e encontrar no trabalho a liberdade do espírito e o conforto de uma existência com propósito...