Capítulo XII - Toques e Desejos

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Viver entre o ódio e o amor se tornou uma constância em minha vida, tão real e cruel que chega a ferir-me, e tudo isso se deu depois do primeiro instante em que meus olhos contemplaram suas palavras e por fim meus lábios as pronunciaram, sentenciando-me a esse martírio eterno, como pagamento de um crime que jamais cheguei a cometer.

Por que me feres, se tanto te amo? Por que me fazes esperar, se sabes o que tanto desejo?

És cruel em tua inocência, descreves lentamente os detalhes para que eu espere a palavra seguinte, na esperança febril de encontrar tudo que busco, apenas suspirando resignado, quando mais uma vez não encontro.

Eu busco, caso não saibas, todos os toques e desejos.

Busco, em vez de mentiras e faces desesperadas, uma pintura que retrate todo amor que creio fielmente existir.

Andressa Panagio

*

O céu estava anilado; a temperatura, agradável. A manhã poderia facilmente ser considerada um recorte de um belo dia veranil. O lago, especialmente naquele horário, refletia a paisagem diante de si: árvores de galhos sinuosos e cúpulas densas, com folhas cobertas por uma paupérrima camada de geada, mais resultante do sereno da madrugada, não do clima propriamente dito.

A trilha bem definida e livre de qualquer óbice não entrava na encantadora miragem sobre a água límpida, no entanto, cortava a floresta de forma ainda mais encantadora e apreciativa. Um dia atípico para os últimos momentos do inverno, sem dúvidas; e a duquesa certamente adoraria apreciá-lo com maior atenção, mas não se encontrava capaz de notar seriamente o mundo externo. No momento, as pernas apenas a guiavam conforme comandos inconscientes.

Gostava de contar os passos, no entanto, perdera a conta deles. Não percebeu a mudança brusca de pensamentos, e quando se desse conta do incontrolável fato, a chateação por esquecer da tarefa que arduamente fazia todas as manhãs, não mais faria sentido. Também trazia consigo um livro, como era do costume dela, porém, igualmente obedecendo à regra a reger a caminhada, não chegou a lê-lo.

Os pensamentos agitavam-se na cabeça de Audrey, com a mesma intensidade que a atingiu durante toda a noite e deixou-a sem dormir.

O rumo de toda e qualquer divagação era o mesmo, o que se opunha e feria a própria definição de divagar. O Duque e seu respectivo comportamento, assim como tudo o que o rodeava: a dual existência moral e libertina, sombria e caçoadora, taciturna e provocadora, a solitária existência e a conduta dele que o fazia parecer indiferente a própria solitude... Todos os detalhes captados pela percepção e olhos ora atentos, colocavam-na na incessante procura de um meio termo, ou, no mínimo, explicações compreensíveis e plausíveis.

Mas plausíveis para quem? Se sempre estava suscetível a julgá-lo até por respirar, embora soubesse que seu coração, desenfreado e confuso, amava aquele homem detestável. E talvez o fizesse apenas por isso, para fugir de todo amor que mantinha consigo, no íntimo do ser e distante de qualquer demonstração que o fizesse entender como realmente se sentia.

Todo o medo e orgulho que se enraizara na sua conduta como características irrefutáveis na luta contra a paixão pelo homem que jurou odiar, ela pensava com seus botões - enquanto as pernas a guiavam sobre uma considerável poça de lama que lhe sujava a barra do vestido -, estavam tornando-a amarga e cruel.

- Tem somente a mim - murmurou, embora não notasse falar sozinha. Temia ser injusta mais do que temia a própria promessa de uma vida feliz, caso realmente estivesse agindo com improbidade e demasiada intolerância.

O Duque CampbellOnde histórias criam vida. Descubra agora