O dia amanheceu com clima agradável, em mais uma manhã atípica de fim de inverno, sustentando a mudança gradual da temperatura que prometia uma primavera abrasadora e colorida. A luz que vinha de fora, aquecendo e iluminando a grandiosa sala onde o desjejum estava sendo servido, para a duquesa que acordara de ânimos renovados, era extremamente animadora.Ela riu, feliz pela caminhada que a esperava e recordações da noite passada, embora Robert se mantivesse em silêncio, dando mais atenção a fazer uma refeição tranquila em detrimento de iniciar e retomar a conversa interrompida pelo cansaço na noite anterior.
Pela serenidade que o Duque esbanjava, porém, ela não esperava. Especialmente naquela manhã, poderia jurar que encontraria o marido altivo e insinuante, devido às declarações e o beijo na noite passada. Sabia que tudo havia sido fruto do vinho, mesmo assim, desejou ter uma conversa amigável ou que se divertissem juntos do estado de espírito em que ele caia quando embriagado. O que desejava, em si, eram as frivolidades do matrimônio e cotidiano pacato. Estava disposta a amenizar as circunstâncias em que viviam e iniciar uma relação terna e amigável, tanto por amá-lo e se dispor a dar uma nova chance a ambos, quando já perdera muito devido ao orgulho; quanto por terem apenas um ao outro.
Passou então a pensar sobre como abordá-lo e o arrancar daquela quietação. Cogitou convidá-lo para um passeio vespertino, e chegou a ensaiar mentalmente como sugeriria para que lhe apresentasse uma trilha nova ou um provável lago secreto na região. No entanto, quando estava prestes a engajar o assunto com as exatas palavras que considerou plausíveis e altamente instigantes, a Sra. Jones entrou e parou ao lado do Duque; depois de reverenciar a ambos com respeito e um constrangido pedido de desculpas, entregou uma carta a ele.
Audrey o observou abrir o envelope selado e correr os olhos pelo papel amarelado. Notou, em consequência, que conforme ele avançava na leitura, uma linha dura de expressão o marcou a testa e atenuou um semblante preocupado. A alteração de semblante não seria facilmente observada por qualquer um, mas apesar de sutil, o detalhe não passou despercebido pelos olhos verdes. Assim como, quando ele virou o papel, ela teve certeza: a letra bem desenhada e espaçosa era feminina. E para sua completa agitação e desconforto, Robert, antes mesmo de terminar a leitura, levantou-se.
— Do que se trata... a carta?
Ele parou no meio do caminho para murmurar “Negócios”, mas sequer virou-se para olhá-la. Saiu de forma insultante, abandonando-a na mesa.
O desconforto atingiu a jovem senhora com grande intensidade, devido aos criados ali presentes, cujo olhares a observavam penosos, evidentemente lamentando a rudeza e modos do Duque ao deixar a esposa. No entanto, fingindo igual indiferença, ela tornou a comer. Não gostava de ser motivo de pena, bastava-lhe a autodepreciação.
A situação era estranha para todos. Mesmo a menos mexeriqueira das criadas, não conseguia compreender e deixar de especular o motivo de um cavalheiro viril e no auge dos 28 anos, como o Duque Campbell, não dormir no mesmo leito que a esposa durante a viagem de lua de mel, uma jovem de beleza exótica e bastante espirituosa.
O fato de o jovem casal não compartilhar do mesmo aposento, bem como a forma de se tratarem na maior parte do tempo, que o faziam parecer completos desconhecidos ou detestáveis inimigos, era motivo de sussurros pela casa. Contudo, Audrey fingia não os ouvir, acreditava ser melhor assim. Manteve-se alheia então, e terminou a refeição sem demonstrar a tristeza em que imergiu. Mas, tão logo deixou o cômodo, apressou-se a procurar Robert, antes de a coragem abandoná-la.
Para evitar a hesitação e o temor a esfriar a barriga com a possibilidade de ele recusar o passeio, foi direto a biblioteca, pois sabia que era onde o marido passava a maior parte do tempo. Encontrá-lo-ia rapidamente, antes de se acovardar pelos próprios sentimentos. E assim, tão logo se entendessem, teriam uma manhã bastante agradável.
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O Duque Campbell
Любовные романыÓrfã de pai e mãe, e após sentir muitos dos dissabores da fatalidade de uma vida de privações e solidão, Audrey Morse está decidida a se tornar preceptora e encontrar no trabalho a liberdade do espírito e o conforto de uma existência com propósito...