sol

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Ah, Ícaro, você tem tantos pensamentos
Enquanto sobrevoa os labirintos de sua alma
Enquanto os dias passam sob ti, tão infinitos mas não tão longos

Ah, Ícaro, você tem um belo coração
Desejoso e em chamas, tentado a perseguir o que pode ser teu fim
Sem medo da queda, do arco a percorrer no céu

Mas será que me vês, herói?
Será que vê a pétala amarela flutuando até as nuvens
Num vento antigo e invernal, sem piedade?

As minhas labaredas criadoras das luzes do destino
Devoradoras de universos inteiros
Com asas tão grandes quanto as suas

Elas dançam e chiam e se projetam pelo firmamento
E todo o universo além canta o coro de sete mares
De sal, de águas doces, plácidas e tormenta

E seu rosto é o que vejo, seus olhos é que me encaram
Tão longe, tão perto, em um mosaico de pensamentos
As eras passam por tua face serena

A vida te acertou, suave como a luz do sol
Ela te puxou pelos tornozelos e manchou teus olhos
Com o azul do profundo oceano

Bate tuas asas, de cera e penas douradas
Em mármore esculpidas e em cores de pérolas
Enquanto espirala pelas nuvens

E me reflete na própria alma
Arriscando-se e com tudo a perder
Me vendo dentro de teus pensamentos

Sentindo o mesmo Sol que você
E a mesma angústia passageira
Sendo eu também um ser não destinado a ter asas

Alguém que as construiu da cera e do fruto dos ventos
Pronta para partir ou cair

Quando diz a mim, serenamente:
"Deixa-me ser teu Sol".



Consonância (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora