aqueronte

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E você, moça dos cabelos negros
Na beira desta água que corre
Deixada no Aqueronte dos pesadelos
Onde toda ilusão afoga e morre

De teus lábios sai um suspiro
E desabrocha o último lírio
Os pés descalços sobre rosas
Enroscam nas sedas formosas

E agora, o que direis
Por bochechas rosadas e febris
Queridas pelos reis
Olhos de avelã grandes e senis

Vistes o belo e o imutável
De prazer inabalável
Bebestes do néctar sedutor
Veneno delicioso, arrebatador

E nos prados tens cantado
Por entre anjos e fadas
Doces lábios tens beijado
Com guirlandas encantadas

Eis uma ilusão obtida
No limiar entre morte e vida
Onde sonatas tocam lúgubres
Em paixões e belezas fúnebres

Esta rosa que em suas mãos
Carrega lágrimas e desilusão
Se abre e fecha eternamente
Exala perfume entorpecente

Quem foi, moça dos cabelos negros
Bela no afluente do submundo
Que tirou a paz deste rosto magro
Agora em desespero profundo?

Você viu os elfos da floresta
E a rainha do mundo inferior?
Os espíritos por uma fresta
Da porta, presos no interior

E esta sombra, minha dama
Que cobre teu corpo inerte
Nas margens derrama
Estrelas e escuridão que se diverte

Você, moça dos cabelos negros
Na beira desta água que corre
Deixada no Aqueronte dos pesadelos
Onde toda ilusão afoga e morre



Consonância (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora