Evangeline

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Passei ontem na calçada
Que eu me equilibrava na beira
Todos os dias, todas as noites

E o coração voava pra onde
Não conseguia alcançar
Pequena e boba, sim, sem planos

Nenhum para aquele momento
Somente para o futuro tão longe
Sorrindo com um doce ruim

Correndo pela avenida entre carros
Não parando para ver as estrelas
Rindo como se estivesse no apogeu

Pintando o que sonhava
Buscando nomes desconhecidos
Abraçando e acariciando e amando

Dançando na grama e no tapete
Como algo seria melhor que isso?
Ver o futuro rodopiar entre as mãos

Angelical e sonhadora
Agarrando os últimos fiapos
Daquele êxtase infantil e bonito

Lugares em que comia e bebia
Pessoas com quem não combinava
Mas acabara de conhecer e era tudo

Era tudo que poderia pedir
Ainda que com o vazio se escondendo
Alguém tinha quebrado um quadro

Alguém tinha jogado água
Na garagem suja da poeira
Das viagens alheias

Era só mais um jeito de cantar
Para mim mesma e sussurrar
Algum nome de novo

De novo
De novo
De novo

Éramos só crianças brincando
De ter fardos difíceis e flores
Para ficar regando todo dia

Empenhada no que acostumara
No que achava que faria diferença
O que eu sabia, então, do mundo?

Eu vi esse futuro correr comigo
Olhando pelas nuvens de onde nasci
O céu ainda parece o mesmo

De formas tão distintas ainda
Mas não é como se fosse
Uma especialista nos efêmeros

Porque eu sabia de tanta coisa
Que agora não sei mais
E me sentia tão bem atuando

Era só outra forma de pintar
Miragens e fantasias
Mas quem poderia reclamar

Quem pode me culpar?

Não sei realmente de muita coisa
E nunca controlei o grande espírito
Nem vivi sob margaridas e flocos de neve

Sou uma farsa tão verdadeira
Sempre com sono e ideias
E não tem problema

Nunca prometi solução
Ou sabedoria universal
Muito menos deixar os sonhos para trás

🦋

Consonância (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora