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Sob o telhado de uma parte muito chique e respeitável de Forte da Fenda, Celaena se agachava à
sombra de uma chaminé e franzia a testa para o vento gélido que soprava do rio Avery. Verificou o
relógio de bolso pela terceira vez. Os dois compromissos anteriores de Archer Finn tinham levado
apenas uma hora cada. Fazia quase duas que ele estava na casa do outro lado da rua.
Não havia nada interessante a respeito da elegante mansão urbana, de telhado verde, e Celaena
não descobrira nada sobre quem morava ali, além do nome da cliente — uma tal de Lady
Balanchine. Celaena usara o mesmo truque que tinha feito nas duas casas anteriores para obter
essa informação: havia se passado por uma mensageira com um pacote para o Lorde Fulano. E
quando o mordomo ou a empregada disseram que aquela não era a casa do Lorde Fulano, Celaena
fingira vergonha, perguntara de quem era a casa, conversara um pouco com o criado e então
retomara seu caminho.
Ela ajustou a posição das pernas e alongou o pescoço. O sol estava quase se pondo, a
temperatura baixava a cada minuto. A não ser que conseguisse entrar nas casas, não descobriria
muito mais. E, considerando a possibilidade de Archer estar, de fato, fazendo o que era pago para
fazer, Celaena não tinha pressa de entrar. Era melhor aprender aonde ele ia, quem visitava e então
dar o passo seguinte.
Havia tanto tempo desde que Celaena fizera algo como aquilo em Forte da Fenda — desde
que se agachara nos telhados verde-esmeralda para descobrir sobre a presa tudo o que fosse
possível. Era diferente de quando o rei a mandava para Enseada do Sino ou para a propriedade de
algum lorde. Ali, agora, em Forte da Fenda, parecia...

Parecia que ela jamais tinha partido. Como se pudesse olhar por cima do ombro e encontrar
Sam Cortland agachado atrás de si. Como se pudesse voltar no fim da noite para o Forte dos
Assassinos, do outro lado da cidade, e não para o castelo de vidro.
Celaena suspirou, enfiando as mãos embaixo dos braços para manter os dedos quentes e ágeis.
Fazia mais de um ano e meio desde a noite em que perdera a liberdade; um ano e meio desde
que perdera Sam. E, em algum lugar daquela cidade, estavam as respostas para como aquilo tinha
acontecido. Se ousasse procurar, sabia que as encontraria. E que a destruiriam de novo.
A porta da frente da mansão se abriu, e Archer desceu os degraus, cambaleando, direto para a
carruagem que o esperava. Celaena mal viu os cabelos castanho-dourados e as roupas elegantes de
Archer antes que ele fosse levado embora.
Resmungando, ela ficou de pé e desceu correndo o telhado. Uma escalada chata e alguns saltos
logo a levariam de volta para as ruas de paralelepípedo.
Celaena seguiu a carruagem de Archer, entrando e saindo das sombras conforme o veículo
cruzava a cidade, uma jornada lenta graças ao trânsito. Embora não tivesse pressa para descobrir a
verdade por trás da própria captura e da morte de Sam, e embora tivesse quase certeza de que o rei
estava errado a respeito de Archer, parte de Celaena se perguntava se a verdade que desvendasse
sobre aquele movimento rebelde e sobre os planos do rei a destruiria.
E não apenas ela — mas também tudo de que ela havia passado a gostar.
Aproveitando o calor do fogo que estalava, Celaena apoiou a cabeça no encosto e as pernas no
braço acolchoado de um pequeno sofá. As linhas no papel que segurava diante de si começavam a
ficar embaçadas, o que não era surpresa, considerando que já passava — e muito — das 23 horas, e
ela tinha acordado antes do alvorecer.
Chaol estava jogado sobre o tapete vermelho gasto diante dela, a caneta de vidro que segurava
refletia a luz da fogueira enquanto o capitão verificava documentos, assinava coisas e rabiscava
bilhetes. Dando um leve suspiro pelo nariz, Celaena abaixou as mãos com o papel.
Diferentemente da suíte espaçosa da assassina, o quarto de Chaol era um grande aposento,
mobiliado apenas com uma mesa perto da janela solitária e o velho sofá diante da lareira de pedra.
Algumas tapeçarias pendiam das paredes de pedra cinza, um armário alto de carvalho ficava em
um canto e a cama com dossel estava decorada com um edredom carmesim bem velho e desbotado.
Havia uma sala de banho anexa — não tão grande quanto a de Celaena, mas ainda espaçosa o
bastante para acomodar a própria piscina e a latrina. Chaol tinha apenas uma estante de livros

coroa da meia noite Onde histórias criam vida. Descubra agora