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Quando a reunião do conselho terminou, Chaol fez o possível para não olhar para o pai, que o
observava tão cuidadosamente enquanto o capitão anunciava os planos ao rei, ou para Dorian, cujo
senso de traição irrompeu conforme a reunião prosseguiu. Ele tentou correr de volta para o quartel,
mas não ficou tão surpreso quando a mão de alguém o agarrou pelo ombro e o virou.
— Wendlyn? — grunhiu Dorian.
Chaol manteve o rosto impassível.
— Se ela é capaz de abrir um portal como fez na noite passada, acho que precisa sair do castelo
por um tempo. Pelo bem de todos nós. — O príncipe não podia saber a verdade.
— Ela jamais o perdoará por mandá-la embora assim, para conquistar um país inteiro. E de
uma forma tão pública, fazendo um espetáculo da situação. Está maluco?
— Não preciso do perdão dela. E não quero me preocupar com Celaena permitindo a entrada
de uma horda de criaturas de outro mundo apenas porque sente saudades da amiga.
Chaol odiava cada mentira que saía de sua boca, mas Dorian as aceitou, os olhos pareciam
brilhar com ódio. Aquele era o outro sacrifício que o capitão precisaria fazer; porque se Dorian não
o odiasse, se não quisesse Chaol longe, partir para Anielle seria muito mais difícil.
— Se algo acontecer com ela em Wendlyn — rosnou Dorian, recusando-se a recuar —, vou
fazer com que você se arrependa do dia em que nasceu.
Se algo acontecesse com ela, Chaol tinha quase certeza de que se arrependeria desse dia
também.
Mas o capitão apenas disse:
— Um de nós precisa começar a liderar, Dorian. — Então ele saiu pisando duro.
O príncipe não o seguiu.
O dia amanhecia quando Celaena chegou ao túmulo de Nehemia. A última neve do inverno havia
derretido, deixando o mundo estéril e marrom, esperando pela primavera.
Em algumas horas, ela partiria pelo oceano.
Celaena se ajoelhou no chão úmido e fez uma reverência com a cabeça diante do túmulo.
Então disse as palavras que queria dizer à princesa na noite anterior. As palavras que deveria
ter dito desde o início. Palavras que não mudariam, não importava o que descobrisse sobre a morte
dela.
— Quero que saiba — sussurrou Celaena para o vento, para a terra, para o corpo bem abaixo
— que estava certa. Estava certa. Sou uma covarde. E tenho fugido há tanto tempo que esqueci o
que significa ficar e lutar.
Ela fez uma reverência mais acentuada, apoiando a testa na terra.
— Mas prometo — sussurrou Celaena para o solo —, prometo que vou impedi-lo. Prometo
que jamais perdoarei, jamais esquecerei o que fizeram com você. Prometo que libertarei Eyllwe.
Prometo que verei a coroa de seu pai devolvida à cabeça dele.
A jovem se levantou, sacando uma adaga do bolso, então fez um corte na palma da mão
esquerda. Sangue se acumulou, forte como rubi, contra o amanhecer dourado, escorrendo pela
lateral da mão antes que ela pressionasse a palma da mão na terra.
— Prometo — sussurrou Celaena de novo. — Por meu nome, por minha vida, mesmo que
isso tome meu último suspiro, prometo que verei Eyllwe libertada.
Ela deixou o sangue penetrar na terra, desejando que carregasse as palavras do juramento para
o outro mundo, no qual Nehemia estava a salvo por fim. Dali em diante, não haveria mais
juramentos além daquele, nenhum contrato, nenhuma obrigação. Jamais perdoar, jamais esquecer.
E Celaena não sabia como faria aquilo, ou quanto tempo levaria, mas cumpriria o juramento.
Porque Nehemia não podia.
Porque estava na hora.

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