15 - CONTE A ELA

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Deise soltou Bruno e ele se levantou agitado e apressado sacudindo os braços, pernas e pescoço enquanto a sua oponente ainda estava no chão com os braços cruzados segurando os joelhos e recuperando o fôlego. Ao perceber que eles tinham ganhado alguns expectadores, Bruno fez o gesto que todo bom atleta faz, deu a mão à Deise e a ajudou levantar-se.

"Mulher, tu é boa demais!" Ele estava impressionado de verdade. "Olha, eu realmente fui um babaca e quero me desculpar com vocês." Falou sincero.

"Desculpas aceitas, Bruno. Fico feliz em saber que você tem um pouco de bom censo." Deise disse.

"É que eu não quero apanhar mais não." O rapaz fazia graça com sua própria desgraça. "Mas como é que eu nunca soube que você era tão incrível nas artes maciais, doutora? Qual o seu segredo?"

"Amanhã à noite é meu aniversário, vamos receber alguns amigos, dê uma passadinha lá que eu te conto." Marjorie ouviu aquilo e quis protestar, ainda chegou a abrir a boca algumas vezes, mas resolveu dar um crédito à cunhada, ela provavelmente sabia o que estava fazendo.

"Maravilha, festa na casa da doutora! Pode deixar que eu vou aparecer, obrigado pelo convite. Até mais." falou batendo umas palminhas. "Ah, e não se preocupe, pode não parecer, mas sou um cavalheiro." Saiu animado.

"Você tem certeza que quer chamá-lo?" Marjorie perguntou preocupada. "Talvez Clara não goste da ideia, ela realmente não gosta nenhum pouco dele."

"Tenho sim, conheço gente igual ao Bruno, ele é inofensivo, além disso, é muito divertido, vai ser legal tê-lo lá."

"Tá bom então."

"Você ainda quer fazer exercícios?" Deise perguntou.

"Ah não, por favor. Eu fiquei tão nervosa com tudo isso, que perdi todas as calorias somente suando." respondeu e sua cunhada caiu na risada.

"Estamos precisando de banho então." falou ainda sorrindo.

"Disso sim, com certeza."

"Então vamos embora?" Deise sugeriu e Marjorie aceitou de bom grado.

Juntaram suas coisas, se despediram de algumas pessoas que estavam lá e foram para o carro. Chegando lá, Deise ficou um pouco séria e Marjorie se lembrou que a cunhada havia lhe dito que tinha uma pergunta importante para fazer.

"Deise, você quer saber se eu amo a Clara, não é?"

"Na verdade, eu ia perguntar quais as suas reais intenções com a minha irmã, mas isso serve." disse em tom de brincadeira para aliviar a tensão e então continuou. "Porém eu prefiro que você não me fale nada."

"Mas acho que foi por isso que você quis me acompanhar à academia, ou não?

"Até que você é bem esperta, cunhada." disse tranquila, o clima estava bem agradável para esse tipo de conversa.

"Pois é, aquela história de torta de três sabores diferentes estava meio estranha, acreditei desacreditando." Entraram no carro. "Mas, você tem certeza que vai voltar para casa sem resposta?"

"Sabe Marjorie, esse tipo de coisa que eu fiz hoje, quer dizer, me passar por Clara para te fazer companhia, nós, as irmãs, sempre fazemos umas pelas outras por motivos variados, mas dessa vez eu fiz por amor, nós temos uma conexão tão intensa e profunda que eu consegui ter um vislumbre do amor que Clara sente por você."

"Você está falando sério?"

"Eu juro que estou. Nos entendemos até mesmo sem palavras, quer dizer, principalmente sem palavras, pois às vezes maquiamos o que falamos, mas o que sentimos não pode ser maquiado."

"Meu Deus! Eu nunca ouvi uma coisa tão linda como essa." Disse emocionada.

"É lindo sim, eu sei que ela ama você, e ama muito, e por isso é que tenho certeza de que ela precisa e merece saber em primeira mão o que você sente por ela. Então, por favor, converse com a minha irmã e lhe fale a verdade, seja ela qual for."

"Você está certa, vou fazer isso amanhã. Hoje eu vou para a minha casa, descansar e processar tudo o que aconteceu nessas vinte e quatro horas e amanhã eu converso com ela na festa."

"Isso parece perfeito para mim." disse abrindo a porta do carro para sair.

"Para onde vai? Te levo em casa."

"Não precisa, é sério. Vá para casa e descanse, nos vemos amanhã." se abraçaram, Marjorie foi para a sua casa e Deise pegou um táxi voltando para casa de Clara.

Quando Deise chegou em casa, foi recebida em festa pelas irmãs que estavam muito orgulhosas dela.

"Você arrasa, Deise!" Amanda falou. "Descascou aquele banana." bateram as mãos no ar.

"Você definitivamente é nossa heroína." Clara disse mostrando o vídeo que Marjorie tinha lhe enviado.

"Obrigada, garotas, mas não foi nada. Tive que quebrar algumas regras para ter êxito, mas não me envergonho disso." Deise falou como não sendo grande coisa. "O importante é que deu resultado."

"Deise, você conversou com Marjorie sobre aquele outro assunto?" Amanda perguntou à Deise porque viu que Clara estava um pouco ansiosa para saber.

"Conversamos muitas coisas, e também sobre isso, porém, eu não trouxe nenhuma resposta. Sinto muito amores, mas vocês precisarão esperar até amanhã para ter a resposta." Clara lamentou por isso, mas achou que foi melhor assim, se Marjorie não a amasse, ela preferia descobrir por conta própria, sem intermediações.

Já era noite e elas estavam se divertindo arrumando tudo para a reunião do dia seguinte, mas de vez em quando Clara era pega olhando para o tempo, ela definitivamente estava muito ansiosa.

O amor era algo com o qual ela não estava acostumada a lidar, se sentia vulnerável, sensível, ansiosa, feliz e triste ao mesmo tempo. Aquele final de semana seria crucial para sua vida, finalmente saberia se para ela valeu a pena se permitir sentir essas coisas de forma tão intensa e se entregar sem reservas.

O fato agora era, ela estava na chuva, se encharcaria se fosse necessário, mas não desistiria, não se acovardaria, não exitaria em se jogar de cabeça se fosse o caso em algo que ela acreditava se verdadeiro e real, pelo menos da parte dela era cruelmente real, tão real que chegava a doer.

O amor dói, às vezes.

Só lhe restava a expectativa de que essa dor fosse recíproca, aí deixaria de ser um potencial incômodo e passaria a ser altamente prazeroso.

Só lhe restava esperar.

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Ladras de Beijos e Corações (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora