35 - UM AMOR DE SOBRINHA

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"Meu amor, que saudade a tia estava de você. Vem aqui me dar um abraço." Clara falou para Tati, sua sobrinha que estava isolada num cantinho da casa. "Quer conversar um instante?" A menina assentiu a seguindo.

Tatiana era uma garota diferente das outras, ela tinha as mesmas características de timidez de Deise e era sensível como Amanda, mas se dava muito bem com Clara, aliás, as únicas pessoas com quem ela era capaz de conversar por algum tempo eram as tias que sempre a ajudavam nos seus problemas de relacionamento com a sociedade. Claramente sua tia preferida era Maria Clara, com quem ela mantinha contato diariamente contando cada detalhe do seu dia.

Elas foram conversar no quarto de Clara.

"Eu sinto tanto a sua falta, tia." Disse logo de uma vez ao entrar no quarto. "Porque você não volta logo? Você vai voltar algum dia, não vai? Eu gostava quando morava aqui."

Clara suspirou e sabia que algo acontecia. Tati provavelmente também gostava de garotas e ainda estava na fase da descoberta, por esse motivo se identificava tanto com a sua tia 'assumida', mas o que Tati precisava entender era que na sua família ninguém a julgaria pela sua orientação sexual e que ela precisava se sentir segura por ser quem é, tendo a sorte de ter a família que tem.

"Porque você quer tanto que eu volte, Tatiana? Algo aconteceu?"

"Você é a pessoa que mais me entende."

"Não meu amor, eu sou a pessoa com quem mais você conversa, é diferente." Ela disse fazendo a menina ficar pensativa. "Você já contou para a sua mãe alguma coisa das quais me conta?" Ela negou com a cabeça. "Porque não? A sua mãe é uma mulher incrível e tá pertinho de você o tempo todo."

"Eu não consigo falar com ela, tia."

"Porque? Você acha que ela não está interessada em saber as coisas pelas quais você passa?" Clara pegou o celular e mandou uma mensagem às irmãs.

"Não é isso, na verdade ela me pergunta o tempo todo, mas eu sempre falo que está tudo bem e não conto mais nada."

"Por que, Tatiana? Por que você não dá uma chance para ela?" A menina abaixou a cabeça e falou timidamente.

"Eu tenho vergonha e medo." Clara sorriu e levantou sua cabeça segurando em seu queixo.

"Linda da minha vida, vergonha eu até entendo e para deixar bem claro, eu não apoio você ter vergonha de quem você é, sendo tão maravilhosa assim, mas medo, meu amor, medo não. Tendo a família que você tem, o pai e a mãe que você tem, não tem motivos para ter medo."

"E se eles mudarem comigo?" Perguntou esfregando as mãos ansiosamente.

"Eles não vão, não se você não mudar com eles. As coisas eventualmente mudarão, mas será consequência das evoluções das coisas que acontecerão, mas eu duvido que o amor que sentem por você diminuirá um só milímetro por você abrir seu coração para eles."

"Eu vou pensar no que você disse."

"Certo, mas enquanto isso, você tem meu telefone e sabe que pode me ligar qualquer hora do dia ou da noite que eu estarei lá para você."

"Eu sei." Falou fazendo bico.

"Se você me permitir quero te dar um bônus."

"Tipo um presente?" Perguntou com o sorriso iluminado.

"Sim." Foi até a porta e pediu para as irmãs entrarem. "Que tal três por uma?" As outras duas tias entraram no quarto e se sentaram perto dela que ficou sem entender nada.

"Como assim? O que quer dizer."

"Tá vendo essas duas pessoas aqui?" Apontou para as suas gêmeas. "São as duas pessoas mais maravilhosas do mundo inteiro para se contar quando se está numa situação difícil. Eu juro. É possível que elas deem conselhos opostos para um mesmo caso, mas elas nos fazem refletir para tomar as melhores decisões."

Ladras de Beijos e Corações (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora