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O autocarro pára em frente à praia de Matosinhos. Em tempos esta praia foi a coisa mais importante da minha vida. Passava aqui os serões com o André. Todas as tardes trazíamos morangos e comíamos juntos a ver o pôr do sol. Desde que o André me deixara que nunca mais tive de coragem de vir cá...até hoje...

Tiro os meus sapatos e ando à beira da água. Eu sabia que nada disto tinha sido um bom plano. Ando com a cabeça numa confusão desde que perdi o André e meti o Rodrigo no meio disto para atenuar a minha dor. Está na hora de decidir o que quero realmente na minha vida.

Sinto uma presença atrás de mim e a verdade é que tenho mesmo uma sombra atrás da minha. Olho para trás e dou um ligeiro pulo.

- O que estás aqui a fazer? - pergunto num ápice.

- Andam todos à tua procura! - diz o André com indiferença.

- Eu perguntei o que é que tu estás aqui a fazer! - digo já sem paciência.

-Calma. Eu venho em paz Leonor! - eleva os braços no ar. - Eu não quero discutir, muito pelo contrário. Quero normalizar as coisas!

-Normalizar as coisas? Tu achas que vamos normalizar as coisas que tu sozinho fizeste? - aponto para ele exaltada.

- Eu sei bem a merda de pessoa que fui. Eu fui completamente consumido pela fama e pelo poder. Achas que eu queria mesmo fazer aquilo?! Nós namorámos desde sempre!

- A sério que só vês isso agora André? Eu fiquei a sofrer aos bocados pelas porcarias que me disseste e tu nunca quiseste saber até ao dia de hoje! - as lágrimas teimam em sair.

- Faz um ano que eu quero resolver as coisas mas tinha medo de não conseguir falar contigo! - baixa o olhar.

- Tretas! - começo a andar.

- Por favor Leonor, deixa apenas esclarecer as coisas da minha parte!

- Eu não quero mais conversas contigo. Tu não tens noção do que fizeste à minha vida! - grito.

- E achas que eu me sinto bem em saber isso?! Juro-te por tudo que não Leonor. Eu todos os dias sonho com a merda que te fiz passar. Fico noites em claro a chorar!

- Chega de histórias André! - caminho para o passadiço rapidamente para me livrar da conversa do André.

- Eu só te peço perdão! - diz já sem forças.

- Chegaste tarde! - olho para ele e abalo.

Entro novamente num autocarro com destino à minha morada. Olho para o telemóvel e tinhas dezenas de mensagens e chamadas. Não me apetecia nada falar com alguém.

Chego a casa e num instante me sento no sofá. Passados uns 10 minutos ouço a campainha tocar. Espreito pela janelinha da porta e vejo que é a Ana e o Pedro. Respiro fundo e abro então a porta.

- Por onde tens andado? - pergunta Ana assim que me vê e abraça-me com força.

- Calma, está tudo bem! - afago-lhe as costas.

- Podias pelo menos ter respondido a uma das nossas trinta mensagens! - diz o Pedro a rir.

- Desculpem, eu sei que não fui correta. Apenas não queria falar com ninguém no momento!

- Compreendo. - diz a Ana e mete a sua mão no meu ombro. - Podemos jantar contigo?

- Aceito pizza! - diz o Pedro.

- Não se incomodem por favor. Vaiam jantar juntos e namorar!

- Mas nós queremos passar contigo! - diz a Ana com beicinho.

- Como vocês quiseres! - sorrio.

Acabo por perceber que tenho os melhores amigos de sempre!!

- Já disseste alguma coisa ao Rodrigo? - pergunta o Pedro.

- Ainda não. Nem vontade disso tenho!

Mal acabo de dizer as palavras e a campainha de casa toca. Olho para eles e eles para mim.

- Leonor, abre a porta. Eu sei que estás aí! - ouve-se a voz do Rodrigo no outro lado da porta.

- O que é que eu faço? - pergunto a eles.

- É melhor abrires! - responde o Pedro e Ana confirma.

Caminho até à porta. Respiro fundo e abro então a mesma.

- Por onde andaste crlh? - entra com velocidade dentro de minha casa.

- Podes falar mais baixo, se faz favor?

- Com que então só o teu namorado é que não sabia de ti! - diz a olhar para a Ana e para o Pedro.

- Pára com os dramas Rodrigo. Que queres? Manda lá vir agora!

- Eu sabia que ainda gostavas do outro. A sério, és uma porca!

- Cuidado com a língua! - diz o Pedro.

- Ai eu é que sou uma porca?! Tu é que te aproximaste de mim por causa da pouca fama que ainda tenho nas redes sociais. Andas atrás do cu das outras da universidade e eu é que sou porca! - grito.

- Ouve Leonor. - mete o dedo à minha frente. - Tu ainda tens muito para aprender!

- Não chega já? - grita a Ana.

- Cala-te puta! - diz o Rodrigo e num instante ele leva um murro de Pedro.

O chão começa a ficar encharcado de sangue. O Rodrigo ria-se feito cínico.

- Vocês vão pagar por isto! - ri-se e sai de minha casa com a mão no nariz a sangrar.

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