Forço meus olhos a se abrirem contra luz clara que vinha em direção a janela. Levanto minha cabeça do estofado onde estava deitado, deixando perceber uma grande mancha de baba que eu havia deixado ali.
Olho ao redor enquanto passo a mão em bochecha amassada e noto que nós simplesmente apagamos no saguão de hotel, sem ao menos ter tempo de voltar e deitar em nossas camas confortáveis, era possível sentir isso na pele, já que minhas costas gritavam de dor.
Os meninos estavam espalhados por todo o lugar, uns no chão e outros jogados nas poltronas que haviam ali. Parece que só eu tomei todo o espaço do sofá.
A bagunça do lugar era inquestionável, glacê espalhado por todo o chão, copos com resto de bebida dentro, confete por todo lado, como aquilo havia virado uma grande confusão? Nós ficamos festejando o dia inteiro, até acordar no dia seguinte de manhã, minha cabeça não consegue compreender de onde tiramos tanta disposição.
Ando pelo o saguão, desviando de toda aquela bagunça, tentando chegar até Namjoon, que estava deitado no chão com a coroa de papel cobrindo seu rosto. Paro ao seu lado e me agacho, sussurrando um "Namjoon" na tentativa de acordá-lo. Retiro a coroa de seu rosto, é quando ele tenta se acostumar com a claridade e despertando.
- O que aconteceu? - ele pergunta com a voz roca e coçando seus olhos.
- É, você teve uma grande festa. - digo estendendo minha mão para ajudar levantá-lo, ele se levanta mesmo cambaleando um pouco.
- Eu sou o rei do mundo, esqueceu? Eu mereço. - ele diz rindo e apontando para a coroa.
- Ah é? E que vai arrumar essa bagunça? - digo percorrendo meus olhos pelo saguão.
- Ah, é verdade, droga. - ele diz enquanto se espreguiça. - Eu esqueci desse detalhe. Porém eu estou com fome. - ele leva sua mão a sua barriga, era realmente possível ouvir sua barriga roncar.
- É, mas já passou do horário do café da manhã. - olho no meu relógio conferindo o horário.
- Façamos assim, eu acordo os meninos para me ajudar a limpar isso tudo e você vai até o mercado comprar coisas para a gente, pode ser? - ele diz juntando suas mãos em forma de piedade. Eu concordo instantaneamente, pois não precisaria arrumar toda aquela bagunça.
Depois de pegar o necessário, caminho em direção ao mercadinho que havia ali por perto. Novamente minha atenção é prendida no carrossel abandonado que havia ali. Eu apenas observo de longe, enquanto passava por ele.
Chego ao mercado, percorro meus olhos pelas prateleiras tentando escolher a dedo o que levar, mas era obvio que tudo que eles iriam comer seria apenas besteiras. Finalizo minha compra e com as sacolas em mãos, eu me dirijo de volta.
Me pego fazendo alguns questionamentos sobre esse lugar novamente, era estranho o quanto tudo era tão perfeito. Havia crianças brincando umas com as outras, correndo pelos os campos abertos por ali, desviando das rosas que era tomado por ele. Casal de velhinhos de mãos dadas, tomando sorvete em um carrinho que estava perto da calçada, passo por eles e eles me cumprimentam com um enorme sorriso.
Como um lugar pode ser tão doce e delicado dessa forma? Era possível que não existisse um defeito nessa cidade?
É quando me deparo novamente com o carrossel, dessa vez eu paro e o observo. Era como se fosse totalmente o contraste de todo o resto ao redor. Tudo estava tão vivo e harmonioso, mas quando chegava aqui, parecia algo sem vida. Por que as crianças passam por aqui e não cogitam a possibilidade de utilizar ele? Era tão abandonado, tão vazio, por que algo assim estava bem no meio de uma cidade como essa? Em qualquer lugar que fosse, sempre passávamos por ele.
Noto uma pequena movimentação por trás dele, será que alguém finalmente iria utilizá-lo? Esperava ver alguma criança, mas quem surge era um homem.
Mas esse homem é totalmente diferente de todas as pessoas de Omelas. Ele tem suas roupas rasgadas, os olhos pesados e confusos. Seus olhos transmitem um vazio e uma tristeza tão profunda e sombria que chega a me dar arrepios. Seu rosto não havia expressão, era parecido com o homem que vi, saindo da cidade, no primeiro dia.
Quanto mais perto ele se aproximava de mim, mais eu sentia uma sensação ruim, parecia que eu podia sentir sua dor, ela tomava todo o lugar, fazendo aquele clima de leveza desaparecer instantaneamente. Eu esperava que ele apenas passasse por mim, mas minha presença chama sua atenção.
- É triste, não é jovem? Uma coisa tão bonita e frágil estar tão abandonada e sozinha assim. - ele diz parando ao meu lado, notando minha curiosidade pelo Carrossel.
Eu paraliso, eu tentava mover meus lábios para que pudessem dizer algo, qualquer coisa, mas nada acontece. Meus olhos apenas o acompanham quando ele para na minha frente. Ele olhava dentro dos meus olhos, tão profundo que parecia estar olhando a minha alma.
- Por... por que... você parece tão... triste? - são as únicas palavras que saem da minha boca.
- As vezes algumas coisas são fardos demais para carregar, mas não deixe se enganar por algo que parece ser perfeito demais. - ele dizia com lagrimas nos olhos.
- Ei! - Vicky grita do outro lado do carrossel, fazendo o homem pular com um susto.
Depois de olhar para trás rapidamente, ele agarra meu braço com certa pressa, fazendo as sacolas que eu estava nas mãos caírem.
- Não deixe esse lugar te enganar, não deixe. Você é a única esperança. - ele diz baixo, em um tom de desespero.
Depois de sua frase, ele solta meu braço gentilmente e corre para longe, para fora da cidade. Eu não suporto o peso de minhas pernas e caio de joelhos no chão. Inexplicavelmente, eu sinto uma dor e meu peito, uma tristeza que antes eu nunca tinha sentido.
- Você está bem? - Vicky diz enquanto se aproximava e me ajudava a levantar. - você está chorando?
Eu passo a mão em meu rosto e o sinto úmido, eu estava chorando mas eu não sabia o porquê, eu não sabia nem que havia lagrimas rolando por ele.
- Quem... quem é aquele homem? - digo enquanto ainda sinto as lagrimas caírem.
- Ele está saindo de Omelas, ele não pertence a este lugar. - ela tinha um tom firme, enquanto o observava indo para bem longe dali.
- Mas... - ela surpreendentemente me interrompe.
- Vamos, o pessoal deve estar com fome. - ela pega algumas sacolas que estavam caídas e segue em frente na direção do hotel.
Pego as que sobraram e a sigo de volta. Quando entramos, estava tudo completamente arrumado e os meninos estavam rindo alto como se estivessem se divertindo novamente.
Eu não consigo acompanhar eles, eu não paro de pensar no que aconteceu a alguns minutos atrás. Estavam todos tão entretidos e hipnotizados que demorou alguns minutos até que percebessem minha presença com as comidas.
Decido não comentar sobre o que tinha acontecido, estavam todos tão contentes e empolgados naquele momento que tive receio que isso os atrapalhasse de alguma forma, decido não contar pelo menos até descobrir o que aquilo significava.
Cada minuto que passava, mais pego pelas surpresas eu era. Era incrível como finalmente Suga e eu estávamos realmente amigos, não havia sido apenas uma conversa quando ele estava bêbado e não se lembraria, ele realmente falou aquilo para valer. Eu teria aproveitado muito mais a minha reaproximação de Suga naquela tarde se as palavras daquele homem não estivessem rodando pela minha mente.
" Não deixe se enganar por algo que parece ser perfeito demais", "Você é a única esperança"
Seu olhar vazio olhando em minha direção, era uma imagem que não saia da minha cabeça. Seu desespero e tristeza era algo que me dava arrepios até agora.
Realmente, tem alguma coisa muito estranha nesse lugar.
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Spring Day • jjk + pjm
Fanfic"Às vezes é difícil ver a verdade simples que está na sua frente. Você diz a si mesmo repetidamente que está fazendo a coisa certa. Mas e se a coisa certa for seguir aquele sentimento que você tem em seu intestino, Mesmo que isso signifique perder a...