Capítulo 34

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Pov. Alice

- "E você vai me contar?" - William pergunta enquanto estamos deitados na cama.

É um dia cinza, talvez quase preto. Outra tempestade está se aproximando, e o senhor dominador aqui decidiu que era melhor ficarmos no casarão e descansar. Quando era bem cedo, ele falou para Edward reunir os animais e os deixassem nos currais, já que ele tinha certeza de que a chuva seria mais forte do que a anterior e não queria perder nenhum animal.

São por volta das 3hs da tarde. Já havíamos almoçado e como não tem televisão aqui é hora de conversar. Embora eu não goste muito do tema da conversa que William está planejando, mas é melhor contar para ele de uma vez por todas.

- "Você realmente quer saber sobre isso?" - eu pergunto.

- "Sim. Eu preciso conhecer cada coisa sobre você. Sem contar que Evan me disse que não foi uma situação muito boa e que quase custou a sua vida. Só quero saber o que você passou por causa dos seus problemas alimentares." - suspiro resignada.

Esse homem não vai se dar por vencido enquanto eu não contar para ele.

- "Está bem, eu vou te contar. Mas quero que você se sente de frente para mim. Eu gosto de estar abraçada com você, mas eu quero olhar para o seu rosto." - eu digo.

- "Como você quiser, patroa." - ele diz brincando.

Pego uma almofada e a abraço. Eu não gosto de lembrar desse episódio da minha vida, já que acabei ferindo o meu pai; que é a pessoa que eu mais amo nesse mundo, sem contar William.

- "Bom, isso aconteceu quando eu tinha 15 anos. Foi a consequência de uma briga entre a Aline, Helena, Simone e eu." - eu suspiro.

- "Quem é Simone?"

- "Era a ex-cozinheira lá de casa. O problema foi que Helena queria bife mal passado para o jantar, só que meu pai e eu não gostamos muito de carne mal passada. Por esse motivo, Simone fez o bife dos dois jeitos, bife mal passado para Helena e Aline, e um bife ao ponto para o meu pai e eu. Quando Helena descobriu isso, ela começou fazer um escândalo, já que segundo ela Simone havia estragado o bife. Então ela começou a insultar Simone e acabei me metendo para defender a cozinheira."

- "E o que aconteceu?" - ele me perguntou.

- "O que aconteceu foi que tanto Helena quanto Aline deixaram de insultar Simone e começaram a me insultar. Me disseram de tudo, começaram dizendo que eu sou uma tonta até dizendo que eu sou a bastarda mais esquecida da história. Obviamente tudo isso foi dito por Aline, apoiada por Helena." - eu digo.

- "Mas que filhas da pu..."

- "William! Não seja vulgar ao falar. Isso é muito feio." - eu o repreendo.

- "Sinto muito querida. Me desculpa. Pode continuar..."

- "Nessa época eu estava sob tratamento, já que o meu corpo tem um tratamento muito estranho." - eu digo.

- "Como assim estranho?"

- "Eu tenho muita facilidade para perder peso, mas tenho grandes dificuldades para ganhar peso. Por exemplo, durante três ou quatro dias posso comer como uma baleia, e se eu tiver sorte consigo ganhar 100 gramas. Segundo o médico, eu tinha problemas de autoestima que era provocado por Aline e Helena."

- "Evan nunca fez nada para mudar isso?"

- "Meu pai fez de tudo para que levantassemos a bandeira branca, até ameaçou Helena com o divórcio e ela se assustou com isso. Eles acabaram chegando a um acordo, enquanto uma não pisava nos calos da outranão haveria briga, até que um dia aconteceu a briga por causa do bife."

- "O que aconteceu?"

- "A pouca autoestima que me restava desapareceu e apareceu a raiva de mim mesma. Eu me odiava por não ser como Aline, por não ser tão bonita como ela. Me odiava por não entender a minha forma de agir e inclusive a minha forma de pensar. Nesse momento a minha mente começou a me julgar por tudo o que elas me disseram."

- "Te julgar? Como assim?" - ele pergunta sem deixar de me olhar.

- "O que aconteceu foi o seguinte. Eu comecei a pensar que se eu não existisse seria melhor para todos, eu já não seria mais um peso para ninguém e a minha mente aceitou isso com gosto. Então quando eu não comia e me olhava no espelho e via os ossinhos, me dava vergonha e medo ao mesmo tempo, mas quando eu comia e me olhava no espelho, eu me achava uma bola e corria para o banheiro para eliminar toda a comida para fora do meu corpo."

- "Quanto tempo durou isso?"

- "Três meses. Eu tinha um check-up para fazer e eu estava evitando ir, meu pai descobriu e me levou quase arrastando para o médico. O médico começou a me examinar até que se deu conta do meu estado."

- "Como o seu pai não se deu conta da sua perda de peso?"

- "Eu usava roupas largas. Eu sempre as usei e dessa forma passava despercebido pelo meu pai, mas não passou despercebido pelo médico. Quando ele disse para que eu ficasse de roupas intimas e viu meu estado físico quase desmaiou, e mandou chamarem o meu pai que me esperava do lado de fora."

- "O que aconteceu?" - eu suspirei pesadamente.

- "Meu pai quase teve um infarto. Em seus olhos eu podia ver todos os tipos de sentimentos, mas não fui capaz de continuar olhando para ele e baixei o olhar para o chão. Meu pai e o médico chegaram a um acordo, fizeram uma mudança em meu tratamento e meu pai iria ficar de olho em mim."

- "Não acho que foi isso que colocou a sua vida em risco."

- "Não foi. Só que durante esse processo de perda de peso drástica, eu acabei adoecendo."

- "De que?"

- "Pneumonia. Meu corpo não tinha defesas e por isso adoeci. Isso aconteceu praticamente de um dia para o outro. Mas resumindo toda a história, tive um parada cardíaca e acabei caindo em coma por duas semanas e quando acordei, tive que fazer dois meses de fisioterapia para fortalecer minhas articulações."

- "Quanto você pesava antes do episódio e quantos quilos você perdeu?"

- "Eu pesava 54 quilos, mas eu cheguei a pesar 36 quilos. O médico me disse que eu podia comer tudo o que eu quisesse mas que nunca mais deixasse de comer, ja que isso é que fazia eu demorar a me recuperar. Segundo ele, a perda de peso para mim é muito ruim, já que me custa muito para recuperá-los. Pra falar a verdade, os 18 quilos que eu perdi em três meses, eu só consegui recuperar depois de um ano e meio." - digo sussurrado.

- "Se depender de mim para que você não deixe de comer, acredita que eu farei."

- "Eu não divido disso senhor Lawford. Aliás, você tem vários métodos para me fazer comer, não é?"

- "Oh, disso não duvide senhora Lawford. E uma dessas formas é essa." - ele diz me dando um sorriso de lado.

William pega o meu pé e me arrasta até que eu fique esparramada na cama. Ele coloca um pedaço de fruta em sua boca e me beija. Passa o pedaço de fruta para a minha boca. Quando ele se separa de mim, eu mastigo o pedaço de fruta e o engulo.

- "Está vendo que eu posso te fazer comer?"

- "Eu nunca duvidei disso." - digo de modo sarcástico.

- "Ah, senhora Lawford eu não gostei desse tom. Então você me pagará."

Suas mãos se concentra em meu ponto fraco me fazendo rir como uma louca em um ataque de cosquinhas, normalmente não são do meu agrado, mas quando William faz, me encanta.

Livro 1: Olhares de Amor (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora