Capítulo 37

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Pov. William

Maldição. Foi para isso que eles vieram? Para isso que eles estão aqui? Eu não importo para eles como alguém da família, sempre tem sido assim, apenas os três. Quando meu pai ainda estava vivo eles também eram dessa forma. Odiavam a fazenda, de estar aqui, por isso que eles ficavam na cidade por meses e voltavam para passar o mínimo de tempo com o meu pai, ele se sentia muito mal já que ele os adorava, mas não lhe devolviam a mão.

Assim passaram os anos até que meu pai ficou doente e faleceu. Minha mãe e meus irmãos estavam viajando pelo Caribe, tentei entrar em contato com eles, deixando milhares de mensagens na recepção do hotel mas eles nunca me responderam. 20 dias depois do falecimento do meu pai, eles chegaram como se nada tivesse acontecido, rindo e felizes.

Minha mãe entrou direto no escritório a procura do meu pai, mas ao não encontrá-lo, começou a procurá-lo pela casa. Como não conseguiu encontrá-lo em lugar nenhum ela perguntou pra mim. Eu disse a verdade para eles e de minha boca não saíram palavras bonitas, eu gritei com eles e bati no meu irmão.

A única coisa que se escutava no lugar era o choro incontrolável da minha mãe e da minha irmã e o soluço do meu irmão. Eu não os via porque estava cheio de ira e via tudo vermelho. Queriam que eles fossem embora, que eles me deixasse sozinho com a minha dor, como tantas vezes eles haviam feito.

Uma semana depois, eles me convenceram a comprar a parte deles da fazenda que o meu pai lhes deixou, eles não queriam saber de nada disso. Eu comprei a fazenda e eu lhes pagaria mensalmente já que não tinha o valor total naquele momento. Trabalhei sol a sol. Eu tinha 19 anos na época quando tudo aconteceu, era um jovem sem experiência que estava arriscando muito ao tentar se fazer cargo de uma fazenda que estava indo à ruína.

Um ano depois de fazer fazenda  começar a produzir alguma coisa, mas não era tanto quanto eu pensava. Comecei a estudar e graças aos céus, ou sorte seja o que for, chegou a dona Nila, a mãe de Edward. Ela era uma índia da região, ela conhecia muito sobre a terra e então me ajudou, e eu também fiquei muito amigo do seu filho, com o tempo nós ficamos muito unidos, eu lhe deleguei muitas tarefas, nós dois éramos o que mais trabalhamos até que a fazenda seguiu em frente.

Com o tempo comecei a comprar os terrenos vizinhos e nos transformamos a maior fazenda da região. Mas só eu, ninguém da minha família esteve comigo quando comprei o primeiro terreno, quando nasceu o primeiro cavalo ou o primeiro bezerro, ou a primeira colheita das árvores ou simplesmente o fato de que algo nascesse.

Tão pouco estiveram nos maus momentos, como na primeira tempestade onde muitos animais morreram afogados, ou quando eu ficava doente, ou quando ficava devastado quando o negócio não ia bem. Eles nunca estiveram comigo, jamais.

Pensei que era melhor assim, mas com o tempo a gente se sente só, sei que Edward e Lara estavam comigo, mas não é o mesmo. Minha família biológica nunca se fez cargo dos seus atos, eles pensam que estão fazendo certo quando na realidade estão se equivocando grandemente e o pior é que não tenho a vontade de corrigir isso. Não quero saber nada deles.

Uma mão pequena e fria acaricia a minha bochecha, limpando as lágrimas que eu não sabia que escorriam pelas minhas bochechas. Ao levantar os meus olhos me encontro com uns olhos azuis bonitos mas tristes. Ela é a luz que me guia na escuridão, a única pessoa que estar comigo sem se importar com nada mais que nós mesmos.

Eu novo a cadeira até que ela fica encostada na parede. Sem dizer nada, Alice se senta no meu colo e me abraça. Escondo o meu rosto na curva do seu pescoço e choro.

Choro como um menino pequeno, choro como eu nunca havia chorado antes, nem sequer quando eu tinha seis anos e quebrei a perna. Somos um enredo de corpo e mãos, mas eu a preciso. Eu a preciso mais do que nunca. Eles já me destruíram muitas vezes, já não quero sofrer mais.

Não sei quantos minutos passamos assim, eu já havia parado de chorar e só restava apenas os espasmos do meu choro. Tiro o meu rosto do meu esconderijo, ela me olha e com suas mãos limpa o rastro que as minhas lágrimas haviam deixado. Eu a olho fixamente pensando: Como foi que ela se converteu em alguém tão importante para mim? Quando eu fiquei tão dependente dela?

- "Como você entrou aqui? Eu tinha certeza de que havia trancado a porta." - eu digo.

- "Sim, estava fechada. De fato, eu bati na porta muitas vezes, mas você não respondeu. Eu pedi a chave reserva para Lara e destranquei a porta. Eu devolvi a chave para ela para não perdê-la. Quando eu entrei você estava em um mundo muito triste e de muita dor. Te observei por bastante tempo. Não sabia o que fazer. Por isso que quando eu vi que você estava começando a chorar, eu me aproximei. Eu não gosto de te ver assim." - ela me diz.

- "Eu estou ferido. Eles já me fizeram muito mal, por isso eu não quero que eles fiquem perto de mim. Eles não só destruíram meu pai mas destruíram a mim também. Eu não quero que eles fiquem aqui, você já se deu conta de como minha mãe é e eu não preciso dela do meu lado. Uma mulher com esses tipos de pensamentos e essas crenças, não é uma boa companhia." - eu digo enquanto um beijo na ponta do seu nariz.

- "O que você vai fazer com bebê?" - ela me pergunta.

- "Não quero saber de nada disso. Brenda se meteu em problemas, minha mãe também é culpada disso, mas está na hora que ela assuma os erros que cometeu." - digo com um grunhido.

- "E você vai deixar que esse bebê, que também tem o seu sangue seja criado por uma pessoa que você nem sabe como vai tratá-lo?" - ela me diz.

Eu fico olhando para ela, não havia pensado nisso. Sei que eles são culpados mas esse bebê é inocente, não tem culpa pelos erros dos seus pais.

- "E o que você quer? Quer criar esse bebê? Por favor Alice. É isso que eles querem, largar essa criança aqui e seguir com as suas vida como se nada tivesse acontecido." - eu me levanto da cadeira e a deixo sentada sobre ela, enquanto caminho de um lado para o outro como um leão em enjaulado.

- "William, é melhor nós fazermos isso do que alguém que não conhecemos. Sem contar que estaria em família, tanto Lara como eu cuidaria dele, e de certa forma nos ajudaria para quando tivermos o nosso."

- "É sério que você quer cuidar de um bebê que não é seu?" - ela assentiu. - "Eu não sei Alice. Se fizéssemos isso, eu estaria atado a minha irmã e eu não quero isso." - eu digo derrotado.

- "Eu não vejo problema. Ela se referiu a esse beber como um problema e se nota a léguas de distância que ela não tem instinto maternal. A forma que ela olhava para o licor que estava em cima da mesa, me fez pensar que Marisa a trouxe para cá para evitar alguma coisa. William eu acho que sua irmã tem um vício com o álcool. Pode ser que seja maus irmãos e uma mãe ruim com você, mas pode ser que Marisa se sente culpada e esteja evitando algo pior."

- "Eu não sei, não quero continuar falando sobre isso. Quero estar na cama com você, não importa se estamos fazendo amor ou tendo sexo duro, quero estar abraçado com você e poder dormir um pouco. Amanhã será um novo dia e talvez eu possa tomar uma decisão concreta, não quero fazer isso levado pela ira que sinto nesse momento." - ela sorri pra mim. - "Porque você está sorrindo?"

- "Porque você é uma pessoa melhor do que tentar aparentar e o melhor disso que você é só meu." - ela me beija.

- "Seu, apenas seu."

De mãos dadas vamos em direção ao nosso quarto, preciso descansar e pensar bem. Mas o mais importante é poder dormir. Preciso tomar uma decisão com a cabeça fria e não me deixar levar pelas más lembranças. E como Alice disse, esse bebê não tem culpa de nada, ele é um ser inocente e a única coisa que ele deve sentir é amor e mais nada.

Solto um longo suspiro pensando:

Que vida é essa minha?

Livro 1: Olhares de Amor (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora