Capítulo 9

5.2K 424 13
                                    

Pov. Alice

A maneira que William reagiu me deu muito medo, em seus olhos eu consegui ver a fúria em direção a minha pessoa. Ainda não entendo porque. Eu não sou Aline. Eu não seria capaz de ferir as pessoas como ela fez. Não sei aonde estou mas encosto as minhas costas na parede e deslizo contra ela até ficar sentada no chão.

Olho para o meu braço e há pequenos hematomas nele, que ao tocar doem. Abraço a mim mesma e choro em silêncio.

Não quero estar aqui. Ele não me quer nem mesmo como amiga e o pior é que ele não me respeita. Penso que uma cabra tenha mais valor que eu. Sinto falta do meu pai e de Dona Rita. Eu não pertenço a esse lugar.

Como pude aceitar isso? Por acaso não bastava toda a estupidez e os insultos que eu recebia por parte da minha mãe e minha irmã? O que eu ganho por ter me casado com ele, se eu nem sequer quero o seu dinheiro?

Paro de chorar, seco as lágrimas e me levanto do chão. Entro na primeira porta que eu encontro e para minha surpresa é um quarto de costura, todas as coisas estão cheias de pó, mas acho que ainda estão boas.

Saio de lá e entro em outro quarto. Esse é diferente. É metade biblioteca e metade escritório. É bonito. Eu ficaria lendo aqui com gosto.

Um bocejo escala dos meus lábios. Há alguns colchonetes em um canto, por isso pego um, o acomodo no chão e me deito.

E não demoro nada para cair nos braços de Morfeu.

Pov. William

Onde demônio está? Todo mundo na fazenda está procurando Alice.

Depois da briga no corredor voltei para a cozinha terminar o meu café da manhã, me sentindo a pior pessoa do mundo. Eu disse para Lara que se Alice quiser ajudar na cozinha, que a deixasse, ela assentiu com a cabeça e me disse que era o melhor mas pediu para que eu não a machucasse.

Porque todo mundo me diz isso?

Também a informo que eu estarei fora durante o dia todo por causa de alguns negócios importantes mas qualquer coisa que a minha esposa precisar, que a ajudasse e fizesse isso sem protestar.

William isso não vai arrumar as coisas. Você cometeu um erro e se não começar a se desculpar, de nada serve. - me repreende o seu subconsciente mas eu o ignoro completamente.

Depois de uma manhã e uma tarde produtiva volto para a fazenda. Haveria gostado de trazer Alice, poderia ter percorrido a fazenda a cavalo.

Ao entrar em casa tudo está calmo, vejo Lara passando de um lado para o outro, procurando algo ou alguém. Um calafrio percorre o meu corpo, Alice terá ido embora por causa do que aconteceu essa manhã?

- "Lara. O que está fazendo?" - pergunto, ela para de andar e fica tensa.

- "Patrão." - ela diz surpresa.

- "O que está acontecendo?"

- "A patroa não está."

- "Como assim não está?"

- "Não está patrão. Procurei por ela na casa toda e nada dela aparecer. O pior é que ela não comeu nada e de manhã ela não comeu nem um quarto do café da manhã. O senhor Hawley me pediu para vigiá-la, principalmente quando for relacionado a comida." - ela suspirou frustrada.

Agora estou mais preocupado. Como Lara disse, de manhã Alice não terminou de tomar café, ela já está muito magra, não pode continuar com isso.

Enquanto você não parar de tratá-la como merda, talvez poderia acontecer. - meu subconsciente me recorda.

Nesse momento vejo Evan chegar com uma bolsa.

- "Boa tarde William, posso ver a Alice?" - ele disse.

Isso tinha que piorar. Justamente quando vou responder, Edward chega.

- "Patrão, a patroa não está em lugar algum. Os homens a procuraram por toda a fazenda. Pá, será que ela não está com sua família?" - Edward olha pro lado e quando vê Evan fica tenso.

- "William, onde Alice está?" - Evan pergunta preocupado.

- "Não sei. Hoje de manhã nós discutimos e depois eu estive fora o dia todo. Cheguei a pouco tempo em casa mas ninguém sabe onde ela está." - eu reconheço.

- "Ela chorou?"

Vejo que as mãos de Evan estão cerradas em punho, que estão ficando brancos por causa da pressão.

- "Sim, ela chorou." - eu tento ser o mais sincero possível.

- "Eu já sabia que essa não era a melhor decisão. Você nunca poderia ser a melhor opção para Alice. Ela precisa de um homem que a ame, não que faça ela pagar pelos erros de sua irmã. Não sei porque eu concordei com isso. Eu preferia ter a minha família destruída mas a minha filha estaria a salvo, longe de você, longe de pessoas que querem fazer mal a ela."

Merda! Eu sou tão ruim com ela? SIM!!! - grita o meu subconsciente. Eu o fulminó com os olhos, cavo um buraco no chão e o coloco na sepultura por ser intruso.

- "Não diga isso. Eu não sou uma pessoa ruim." - eu digo.

- "Você não tem que dizer nada. Alice não é como as mulheres do povoado. Ela é abnegada, responsável, malditamente bela e muito sensível. Ela jamais machucaria ninguém, não é do seu feitio." - não acredito em tudo isso. Eu a vi sacar as suas garras e minha bochecha pode confirmar.

- "Eu não acredito nisso. Aline me disse que Alice é um monstro." - eu digo.

- "Você ainda acredita nela depois do que ela fez? - Evan grunhiu. - "Não posso acreditar que você seja tão idiota. A fazenda tem alguma biblioteca ou um quarto de costura?" - que mudança de atitude, eu o olho sem compreender.

- "Tem sim, mas estão fora de uso. Porque?"

- "É mais provável que ela esteja ali. Eu tenho certeza disso." - ele disse.

Andamos pelo corredor. Eu abro vou para o quarto de costura e Evan foi para a biblioteca. Reviso do quarto de costura mas não a encontro. Saio do quarto de costura e vou para a biblioteca e o que vejo me deixa gelado.

Alice está sentada no colo do seu pai, com o rosto escondido no seu pescoço e chorando muito forte. Evan tenta consolá-la, ao me ver ele diz pra ela e vejo Alice ficar tensa dos pés a cabeça e volta a chorar.

- "Eu quero ir embora." - ela sussurra.

- "Bebê, você tem que ficar por uns dias, para que as pessoas não suspeitam que isso é uma farsa." - ela nega agarrando mais a ele.

Me parte a alma vê-la assim e o pior é que isso tudo é minha culpa. Eu causei o seu choro, sua dor e sua raiva. Esses dois últimos dias, eu não tenho tratado ela nada bem e na verdade isso não faz eu me sentir melhor.

- "Pequena você tem que comer." - ela nega com a cabeça. - "Não me venha com essa historinha outra vez, senhorita. Você vai comer e ponto." - ele repreende.

- "Eu vou comer, se você me tirar daqui." - ela diz baixinho.

Não quero que ela se vá.

- "Você não vai embora. Você é a minha esposa e como tal, você tem que estar aqui comigo." - eu digo.

Evan me olha como se eu fosse um bicho estranho. Passam alguns minutos que mais parecem longas horas.

- "Está bem, mas com uma condição." - ela diz ainda contra o pescoço do seu pai.

- "Qual?" - Evan e eu fizemos ao mesmo tempo.

- "Que meu pai fique comigo por uma temporada." - ela diz.

Evan e eu nos olhamos assombrados. O que eu faço? Não quero um estranho em minha casa. Já tenho o suficiente com Alice, mas não quero que por minha culpa aconteça algo com ela. Ela está magra, muito magra. Sem saber o que fazer ou dizer, eu suspiro.

O que devo fazer?

Livro 1: Olhares de Amor (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora