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Poxa Vitinho...

— Você está saindo com aquela garota? — Cristina perguntou sem rodeios, não era boba e o sorriso dele não era de uma pessoa que estava mascarando seus sentimentos.

Inês que estava voltando para encontrá-los parou ao ouvir a pergunta. Inês travou no lugar, não poderia ser vista de onde estava, sabia que Cristina não tinha meias palavras, se estava perguntando era por estar desconfiada e seu corpo todo tremeu com a possibilidade de seu esposo estar saindo com Natasha.

Cristina esperava pela resposta assim como Inês que ao ver o sorriso de Victoriano precisou se segurar na parede para não cair no chão, as pernas fraquejaram, o coração parecia uma escola de samba e sem conseguir esperar pela resposta, voltou pelo caminho que veio.

— Isso é um sim, Victoriano Santos? — Cristina perguntou já sentindo todo seu corpo esquentar de raiva, não era possível que ele estivesse fazendo isso com Inês.

— Olha pra mim? — abriu os braços. — Eu sou homem. — foi tudo que respondeu e ficou de pé olhando o horizonte.

Cristina o observou, sentiu seu estomago doer com a meia resposta, ele era um homem por não trair ou era um homem que tinha desejos? Cristina sabia perfeitamente que o casamento dos dois não envolvia intimidade e sua resposta não ajudava muito em sua dedução.

— Você sabe que é um homem casado né? — Cristina o fuzilou com o olhar.

Cristina se recusava a acreditar que ele pudesse fazer isso com Inês, não o perdoaria se ele estivesse a traindo. Ninguém poderia comparar o que aconteceu no passado, Inês errou, mas agora era fiel a um casamento fracassado e ele? Victoriano era um homem lindo, maravilhoso, rico e qualquer mulher ficaria louca para estar em seus braços, mas ele era casado e não poderia estar traindo assim a sua família. A família que ele mesmo escolheu ter.

— Eu não acredito que está fazendo isso com a sua família. — tornou a dizer diante do silêncio dele.

Victoriano não precisava responder aquela pergunta, se Cristina realmente o conhecesse saberia que jamais seria capaz de trair Inês, mesmo que o casamento deles não passasse de uma fechada, não iria responder porque sabia que o que respondesse chegaria no ouvido de sua esposa e não queria mais problemas. Só que ele não sabia que Inês já havia ouvido a pergunta e precisaria de uma resposta para acalmar seu coração e Cristina não teria para dar.

Era um casamento muito complicado sem duvidas, mas Victoriano sabia muito bem quem era e seu silêncio deveria bastar para todas aquelas perguntas. Cristina esperou que ele respondesse qualquer coisa que fosse, mas nenhuma palavra veio e ela se levantou chateada.

— Você é um idiota! — Cristina ralhou e saiu dali para ir atrás de sua amiga.

Victoriano a deixou ir, gargalhou negando com a cabeça, voltou para o interior da casa, precisava de um banho gelado, depois iria até a cidade para resolver alguns problemas e passaria na bodega de Matias para conversar com ele. O banho foi longo, relaxante para o dia quente que fazia e ao abrir a porta do banheiro deu de cara com Inês o esperando.

— Será que pode pelo menos jantar com sua família? — Inês perguntou sem rodeios. — Ou pelo menos a que você enche a boca pra dizer que é sua?

Victoriano passou a toalha nos cabelos, a outra o cobria da cintura para baixo, passou por Inês em completo silêncio e isso a enervou mais. Que diabos estava acontecendo? Agora sequer merecia ser respondida por ele? Levantou num solavanco da cama e explodiu.

— Da pra pelo menos me responder, caralho? — Inês o encarava, o rosto já avermelhando de raiva.

— Não grita. — a encarou de volta. — Eu estarei aqui para jantar, não vi minha filha de manhã e estou com saudades. — pegou a roupa e voltou para dentro do banheiro.

Inês se sentiu uma idiota, como poderia ter esperança de salvar seu casamento com uma pessoa que não se importava nem em respondê-la descentemente, secou as lágrimas que molhavam seu rosto e saiu do quarto batendo a porta tão fortemente que Victoriano fechou os olhos dentro do banheiro. Cristina estava sentada na sala, esperava pela amiga e se assustou com o modo que a viu descer as escadas.

— Isso é um completo erro! — esbravejou sem conseguir conter as lágrimas. — Victoriano nunca vai me perdoar, nunca vai entender que eu era uma jovem inconsequente como varias outras. — apontava para o nada. — Eu posso sentir o nojo dele por mim e agora sequer consegue me responder com um pouco de educação.

Cristina respirou fundo, levantou e a abraçou forte tentando consolá-la.

— Você precisa ao menos tentar, não conseguiram conversar desde que disseram sim na frente daquele juiz, eu pensei que com o tempo, com a chegada da Vick, vocês ao menos conseguiriam ser amigos, mas estava tão enganada. — se sentia triste pela situação dos dois. — Por que não conta pra ele o que sente? Fala a verdade, diz que o ama e se não der certo, eu serei a primeira em te apoiar nesse divorcio.

— Eu não aguento mais. — soluçou em seus braços.

— Eu sei, mas ainda acredito que vocês possam se resolver se deixarem o silêncio de lado e começarem a falar com a verdade.

Inês nada mais falou, seu coração estava partido, doía tanto que lhe faltava ar, mas ao recordar de que ele ainda estava pela casa, afastou da amiga e limpou o rosto.

— Vamos sair daqui, daqui a pouco passamos na escola e pegamos a Vick. Respirou fundo para afogar mais uma vez seus sentimentos.

Cristina concordou, não poderia forçar muito ou não conseguiria que eles ao menos conversassem, faria o possível para que Victoriano se abrisse que deixasse sua esposa entrar em seu coração para tomar conta de todo o amor que guardava desde sempre e Inês não poderia desistir, não agora que tinham chegado longe. As duas saíram de casa e não demorou muito, Victoriano também deixou a fazenda.

(...)

Já passava das onze da noite quando a caminhonete de Victoriano estacionou em frente à casa, desceu com um pouco de dificuldade, estava bêbado, tinha passado na bodega de Matias e se esquecido do resto do mundo, inclusive do jantar com sua família. Quando conseguiu entrar em casa, encontrou apenas uma luz sobre a mesa, caminhou até ela e encontrou uma mesa farta de comida que fez seu estomago roncar de fome, sentou-se e começou a comer.

A comida estava uma delicia, comeu com tanta vontade que precisou parar por um momento para respirar, olhou a mesa novamente e só assim lembrou-se de que dia era, do jantar que havia prometido que estaria, mas não chegou. O coração apertou, o remorso tomou conta do seu coração, sua consciência lhe gritou que estava fazendo tudo errado e com dificuldade levantou, caminhou para o andar de cima e ao entrar no quarto não encontrou ninguém.

O vazio o preencheu, um vento gelado soprou em sua nuca e ele caminhou até a cama para ver o que tinha ali e para sua surpresa era um vestido junto de um bilhete que leu com dificuldade.

"Obrigada pela noite maravilhosa que nos proporcionou."

Victoriano se sentiu um completo cretino, tinha deixado sua família em casa e passado o resto do dia no bar na companhia de seus amigos, chegou bêbado, jantou o que era para ter dividido com sua família e agora... Ele caminhou rapidamente ao quarto da filha, precisava se desculpar, mesmo sabendo que uma desculpa não seria o suficiente. Victoriano vivia vacilando com Inês, sempre que ela pedia para que ele estivesse em casa como naquela noite, ele simplesmente chegava de madrugada e agora seu coração estava acelerado ao perceber que a filha não estava em sua cama.

O fazendeiro olhou para os quatro cantos do quarto, mas seu olho focou apenas na cômoda onde ficam as roupas de sua menina, a bebedeira foi embora rapidamente, não era possível que Inês tivesse ido embora com sua filha, passou as mãos no cabelo e voltou até seu quarto e ali também faltava algumas coisa de sua esposa. Inês não seria capaz de deixá-lo depois de todos aqueles não, não era possível, mas era claro que era e sua consciência o acusava de ter contribuído para perder sua família.

As pernas tropeçaram uma na outra, não iria perder sua família, iria atrás das duas e as traria para casa, mesmo não sabendo para onde tinham ido.

Até mais!

POR VOCÊ - IyVOnde histórias criam vida. Descubra agora