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Olá, olá. As coisas não saíram como o planejado, mas nada como o tempo para curar tudo.

Bip... Bip... Bip...

Era o som ensurdecedor que tomava todo o cômodo. Inês respirou fundo e o cheiro de álcool tomou conta de seu nariz, os olhos estavam pesados, contudo os forçou para abrir e a claridade incomodou, mexeu levemente seu corpo e sentiu a mão aquecida por outras enormes. Inês murmurou sentindo dor, piscou algumas vezes, olhou ao redor e viu Victoriano embaçado sentado na poltrona.

— Oi, amor. — a voz dele ainda estava longe.

Inês fechou os olhos com força mais uma vez, não soube quanto tempo demorou para abri-los novamente e mais um gemido escapou de seus lábios.

— Victoriano... — sussurrou o nome de seu amor.

— Estou aqui, amor. — afagou os fios negros da esposa.

— Estou com sede. — murmurou e tocou seu rosto que estava próximo a seu corpo.

Victoriano esperou um momento, deixou que os dedos da esposa esquentassem sua pele e então se ergueu. O copo com o canudo foi aproximado da boca de Inês que sugou com vontade o secando, tomou mais meio copo e encarou Victoriano que estava com o rosto abatido.

— O que aconteceu? — perguntou.

— Você... Você desmaiou. — abaixou a cabeça por um momento. — Você sabia? — a encarou novamente.

— Sabia o que? — franziu o cenho.

— Que estava grávida... — a voz saiu num sussurro.

— O que? — os olhos se arregalaram de imediato e a mão que estava ao lado de seu corpo foi direto ao seu ventre.

O silêncio tomou conta do quarto, Inês se lembrou de sua primeira gravidez, dos primeiros sintomas que teve, do quanto passou mal e foi parar no hospital. Inês parecia num looping infinito... primeiro Benigno e agora, agora tinha perdido realmente seu bebê.

— Eu perdi... — não era uma pergunta e sim uma afirmação.

— O médico disse que não tinha muito que fazer, iria acontecer de qualquer maneira. — a voz de Victoriano estava quebrada.

Inês levou as duas mãos ao rosto e um soluço rasgou sua garganta, por mais que não soubesse da gravidez, perder um filho era doloroso. Victoriano se ergueu no mesmo instante, agarrou o corpo da esposa e a amparou num abraço forte, também estava sentindo a perca. Era seu primeiro filho e já o tinha perdido antes mesmo de ter conhecimento de que estava chegando.

Inês se aferrou aos seus braços, apertou seu corpo no dele e chorou, chorou, chorou muito até sentir seu corpo pesar. Victoriano também derrubou suas lágrimas grossas, respirou fundo beijando os cabelos da esposa enquanto os afagava para que se acalmasse.

— Me perdoe... E-eu, faço tudo errado. — Inês sussurrou e se ele não estivesse tão perto, não a teria ouvido.

— Não foi sua culpa amor. — A fez olhar em seus olhos.

— Foi sim!

— Amor, se tem um culpado, sou eu. — secou suas lágrimas. — Não te dei descanso o dia e a noite inteira.

— Eu também queria. — soluçou.

— Não podemos nos culpar, foi uma fatalidade. — beijou sua testa.

— Eu não fui capaz de segurar um filho seu. — o abraçou. — Me perdoa.

— Nos ainda vamos ter chance de encher aquela casa de crianças, só precisamos seguir a risca o que o médico recomendar.

POR VOCÊ - IyVOnde histórias criam vida. Descubra agora