Sem saber

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Daniel's POV

Eu achava que, talvez, eu devesse um pedido de desculpas a ela.

Embora eu não soubesse por que motivo exatamente eu deveria estar me desculpando.

— Cristina — eu começaria a dizer se eu conseguisse reunir coragem o suficiente para me desculpar.

Mas depois do vocativo, a minha boca se abria e fechava incontáveis vezes sem produzir qualquer outro ruído. Era tão raro eu não ter o que falar com ela que encarei minha imagem no espelho sem acreditar naquele silêncio inusitado.

Eu não poderia abordar Cristina sem um monólogo ensaiado. Ela seria capaz de me cortar com uma única frase. A forma gélida que ela tinha me encarado horas antes era indicativo suficiente para que eu compreendesse que ela não queria proximidade e que tentar contato era, no mínimo, burrice minha.

Eu só não entendia bem o porquê do seu comportamento. E aquela dúvida estava me consumindo.

― Cristina ― tentei de novo, treinando em frente ao meu reflexo. Vi quando minha imagem engoliu em seco, mas continuei: ― Me desculpe se...

Se o que?, pensei frustrado comigo mesmo.

Meu reflexo balançou a cabeça em negativa. Eu estava naquela tortura autoimposta há alguns bons minutos. O dia tinha começado como qualquer outro. Cristina tinha saído cedo para trabalhar no filme "Amor Infinito" cujas filmagens estavam para serem encerradas nos próximos dias em Rosa Branca. Quando se despediu de mim após o café da manhã, não percebi nada de diferente nela; ao contrário, parecia estar bem humorada e carinhosa.

Ao longo do dia, também não identifiquei nenhuma mudança drástica em seu comportamento; ela continuava a me enviar mensagens descontraídas em seus intervalos, fazendo planos para jantarmos a sós mais tarde, quando ela retornasse das gravações.

Jantar que ela, aliás, surpreendentemente, cancelou assim que voltou com uma seca desculpa de que estava com dor de cabeça e iria dormir.

E mais surpreendente ainda foi quando ela, em vez de dormir no quarto de hotel em que eu estava hospedado e ela estava dormindo todos os dias, ela preferiu dormir na pensão de minha tia-avó.

Quando a perguntei a respeito, ela disse que não havia nada errado — naquele tom de que havia, definitivamente, algo muito errado. Quando insisti, desta vez por mensagem, ela respondeu:

Sono. Boa noite.

Eu tinha encarado aquela mensagem com olhos confusos como se ainda fosse um adolescente que nunca beijou e estava vivenciando sua primeira paixão que visualiza a mensagem e não responde.

Meu peito se apertou quando pensei que ela podia ter desistido de nós dois. Afinal, por mais que eu sentisse que a conhecesse e pertencesse a ela desde o primeiro momento, ainda me apaixonando cada dia mais no nosso dia-a-dia, nas pequenas coisas, nas cumplicidades que compartilhávamos, nas descobertas que fazíamos... Aquilo não significava que ela também se sentisse assim.

Minha mente à mil por hora formulava uma hipótese: talvez ela estivesse arrependida. Talvez ela tenha percebido que eu não era, no fim das contas, sua alma gêmea. Talvez sequer fosse suficiente para ela que eu fosse sua alma gêmea. Talvez eu não me igualasse ao Danilo. Talvez tudo que tínhamos passado para ficarmos juntos a constrangesse demais para terminar, de uma vez, comigo.

Não.

Algo dentro de mim sabia que não era aquilo. Eu podia conhecer Cristina há pouco tempo nessa encarnação, mas eu era hábil a ler seu olhar. Sua expressão sempre espelhava o mesmo que a minha quando nos encarávamos. Seu sorriso era honesto, largo, exultante quando ela me olhava e aquilo refletia em seus olhos castanhos.

DanCris Fanfic ChallengeOnde histórias criam vida. Descubra agora