Por Pouco

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Premiações não possuíam o glamour que Cristina tinha idealizado quando adolescente.

Hoje, com uma carreira consolidada e incontáveis eventos muito semelhantes ao qual estava, o glamour tornara-se apenas desconforto em um vestido de algum designer famoso, flashes ofuscantes durante o tapete vermelho e músculos faciais doloridos de tantos sorrisos que precisava estampar no rosto.

Fazia anos que Cristina havia reparado que todas premiações seguiam um mesmo roteiro: artistas sentados a mesas espalhadas pelo salão luxuoso, um apresentador que se acreditava cômico e discursos que transitavam entre tediosos e emotivos. Tudo era desenhado para ser uma chatice.

Apenas uma coisa tornava aqueles eventos, mesmo anos depois, atraentes. E não era a placa que possivelmente levaria para casa ao fim do evento.

Era, sim, os dedos do seu marido entrelaçados aos seus por quase todo o tempo.

Daniel sabia o quanto Cristina se sentia deslocada naqueles eventos. Parecia sentir quando sua ansiedade aflorava com a câmera apontada para si em busca de uma reação negativa, e então acariciava as costas de sua mão, desenhando formas aleatórias com seu dedão. Se percebia que seu tédio estava grande, levava a mão dela até seus lábios para deixar um beijo. Porém, na maior parte do tempo, apenas pressionava sua mão contra a dela, entrelaçando os dedos em um apoio silencioso.

Daniel era o companheiro perfeito para todos os eventos, pensou o olhando de canto do olho enquanto ele fingia concentração no discurso de um cinematografista. Suas linhas de expressão ficavam sempre atenuadas quando ele estava distraído, assim ela sabia que o marido estava com a mente em outro lugar.

Apertou sua mão. — Ei, no que está pensando? — sussurrou em seu ouvido, aproveitando para encostar seu nariz no pescoço dele e sentir seu perfume.

Ele sorriu de canto. — Se a Priscila está conseguindo domar nossos filhos.

— Você sabe que...

Uma salva de palmas interrompeu sua fala e os dois fingiram empolgação junto a platéia. Nenhum deles fazia idéia a que estavam aplaudindo.

Assim seguiu a noite. Carícias sob a mesa, sorrisos cúmplices e Cristina buscando desculpas para se aproximar o suficiente e sentir a colônia do marido.

Quando anunciaram sua vitória, Daniel abriu o maior sorriso da noite e deixou um selinho em seus lábios antes de se levantarem. Ele permaneceu de pé durante sua fala como se ele não fosse quem a tinha ajudado a escrevê-la naquela manhã.

Horas e flashes depois, os dois se dirigiram ao carro, declinando os convites para festas após a premiação. Os dois eram reservados e não era apenas o fato de serem assim que os faziam rejeitar os convites: seus filhos serviam como uma desculpa conveniente.

— Meus pés estão me matando — Cristina lamentou ao se aproximarem de casa, seus saltos no chão do carro. Esperando o portão do condomínio abrir, a mão de Daniel que estivera sobre a perna da esposa pelo trajeto subiu até seu rosto. — Você me deve uma massagem quando chegarmos em casa.

Ele fingiu indiferença. — Quem disse?

Eu estou dizendo — declarou quando o carro começou o familiar caminho até a casa deles. Subiu sua mão pela nuca do marido, o ponto fraco dele. — Vai negar?

— Jamais — apesar do tom sério, sorriu. — Há algo mais que eu esteja devendo? — pausou ao estacionarem em frente da casa. — Algo que poderíamos fazer enquanto nossos filhos estão dormindo?

Cristina tentou escondeu o sorriso. — Não sei... Não lembro bem.

Daniel entrou em sua provocação e, em segundos, aproximou seus lábios dos da esposa, mordiscando-os com lentidão antes de aprofundar o beijo, o sorriso dela formando ainda com as bocas pressionadas uma contra a outra.

DanCris Fanfic ChallengeOnde histórias criam vida. Descubra agora