Hope 01

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Quando levantei da cama naquele dia, não esperava ir para uma entrevista no lugar que me fazia tão bem. Se isso fosse um sinal do universo, iria agarrar aquela chance com tudo o que eu pudesse.

Foi o que pensei ao andar em direção ao loiro que mantinha um sorriso no rosto até me ver parada em sua frente. Ele estava limpando as mesas quando o cutuquei.

― Alexander me entregou isso – Estendi o papel em sua direção, mas ele se limitou a olhar de relance para o papel e olhar para atrás de mim, como se estivesse sendo informado da situação naquele momento. Virei-me encontrando Alexander calado, nos encarando. – Meu nome é Dana Malford e gostaria do trabalho. Qual o dia disponível para a entrevista?

O loiro pareceu suspirar exibindo uma expressão cansada ao pegar o papel da minha mão e rasga-lo em poucos pedaços sem ao menos hesitar.

― Meu nome é Paul. Comece amanhã, venha pela manhã.

― Isso foi a entrevista? – Perguntei realmente surpresa. – Isso é alguma brincadeira?

― O gerente quis te contratar, o que eu posso fazer? – Ele deu de ombros. – E separe alguns dias na semana para ficar após o trabalho. Precisa aprender linguagem de sinais, se quiser, é claro. – Ele pareceu não se importar com o que acabava de acontecer ali. Eu tinha sido empregada sem nem ao menos ter uma entrevista. O que estava acontecendo naquela cafeteria?

― Não estou reclamando, sabe? Eu realmente preciso do trabalho, mas tem certeza que está tudo bem contratar assim?

Em momentos como esse, odiava a forma como sempre permanecia sendo a garota certinha. Eu deveria estar agradecendo aos dois loucos em minha frente e não procurando problemas. Mas antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, Paul simplesmente ergueu a mão em um gesto para que eu me calasse e sorriu.

― Apenas venha amanhã. Se não funcionar, você será demitida. Qual o problema em algo simples? –A sua forma de pensar era exageradamente simples. – Mas por curiosidade, como sabe o nome dele? – Sua pergunta foi feita ao me encarar e quando mencionei que ele havia dito o seu nome encontrei perplexidade em seu rosto. – Você realmente tem sorte, Dana – Disse ao me dar as costas e seguir para a outra mesa, limpando-a. Percebi que estava sendo ignorada quando ele recepcionou dois novos clientes.

Pelo menos tenho um trabalho.

Foi o que consegui pensar ao retornar para a mesa e fechar o notebook.

― Ah, não perguntei sobre salário. Não é como se eu pudesse escolher – Acabei sorrindo de minha situação ao olhar para o meu copo de suco que estava pela metade. Sentei na cadeira com o objetivo de terminar o suco, mas meus olhos acabaram seguindo o silencioso Alexander enquanto ele se movia com rapidez, considerando a sua altura, pela cafeteria ajudando Paul na limpeza. Somente continuei pensando o quanto estava louca durante todo o momento em que fiquei no local até me levantar e sair apressada.

Não queria que eles mudassem de ideia.

Voltei para o apartamento que eu alugava andando e quando cheguei o encontrei bagunçado da mesma forma que deixei antes de sair. O apartamento possuía apenas uma cozinha, um quarto-sala e um banheiro. Ele era pequeno, aconchegante e barato. O lugar perfeito para alguém que não tinha dinheiro.

― Mas a voz dele era realmente bonita – Falei em voz alta assim que me joguei na cama sem me preocupar com nada. – Eu espero escutar mais vezes.

Por mais egoísta ou insano que pudesse soar, o que realmente tinha me feito feliz ao ser empregada não era o salário, mas a possibilidade de escutar a voz dele novamente. Uma voz que conseguia acalmar meu coração e fazer com que meu passado fosse esquecido.

Fechei meus olhos decidida a dormir boa parte do dia para economizar com a comida.

― Fundo do poço. – Murmurei ao fechar os olhos. – Mas tudo vai melhorar.

Continuei pensando desta forma como uma prece silenciosa até adormecer.

***

Eu estava realmente nervosa. Foi a única coisa em que conseguia pensar ao retornar para a cafeteria no dia seguinte ao ser contratada. Acabei indo próximo ao horário que sabia que abria, mas antes que me aproximasse da entrada, eu o vi. Alexander. O silencioso homem que apenas encarava as pessoas com frieza mantinha um sorriso gentil no rosto e um olhar caloroso em seus olhos. Não sabia que ele poderia fazer tantas expressões. Sem consegui me mover, permaneci parada, o observando por alguns instantes. Seus braços fortes, sua altura, seus cabelos e suas pernas. Meus olhos miravam todo o seu corpo de forma inconsciente.

Ele estava parado regando algumas flores que estavam plantadas do lado de fora. Seu olhar parecia realmente calmo e doce ao encarar as flores, e por alguns instantes senti que eu era um tipo de intrusa. Senti que estava estragando o momento especial dele.

Eu sou alguma tarada?

Meneei a cabeça ao endireitar o meu corpo, respirar fundo e seguir em sua direção. Não deveria estar observando daquela forma o homem que havia em dado uma chance quando todos se negaram. Alexander e o Hope representavam uma segunda chance em minha vida, apenas isso.

Foi o que precisei pensar incontáveis vezes antes de o saudar, sendo ignorada completamente. Ele nem ao menos olhou em minha direção ao manter a sua cabeça baixa regando as flores.

― Alexander, bom dia – Falei pela terceira vez, sendo ignorada novamente.

Talvez ele tenha se arrependido de ter me contratado.

Hesitei antes de tocar em seu ombro, o assustando. Alexander se ergueu rapidamente e deu dois passos para trás, como se eu representasse uma ameaça para ele, o que era exageradamente impossível dado a sua altura e ao seu tamanho. Ele tinha braços fortes e sua altura deveria ser um metro e noventa. Eu não representava perigo algum para um homem daquele tamanho, em vista que eu tinha um metro e sessenta e cinco.

― Desculpa, te assustei? – Perguntei realmente por educação, mas ele assentiu fazendo com que eu me assustasse com a sua resposta. Como ele poderia ter se assustado comigo? Talvez estivesse distraído. – Desculpa – Sorri sem graça ao olhar em volta rapidamente – Tinha te chamado antes, mas não me escutou. Hoje é o meu primeiro dia, mas não sabia que horas chegar. – Mantive o sorriso no rosto estranhando o seu silêncio e a forma como ele desviava o olhar por alguns segundos, como se estivesse desconfortável. – Se estiver arrependido vou entender, sabe? Pode ser sincero – Eu estava quebrada financeiramente, mas ainda tinha alguma dignidade, certo?

Uma pena que dignidade não pagasse as contas.

Já estava começando a me arrepender de ter tido alguma esperança quando escutei sua voz novamente, e sem perceber acabei segurando a respiração. A sua voz ainda conseguia acalmar meu coração frenético.

― Eu não estou arrependido – Ele disse desviando o olhar – Só me assustei. É melhor entrar e esperar por Paul. – O encarei ainda perplexa em como sua voz conseguia ser tão linda. E somente quando ele finalmente me encarou, percebi que estava olhando fixamente para ele. – A porta está aberta.

Somente assenti ao passar por ele aproveitando-me para sentir o seu aroma.

Como tudo nele consegue ser tão hipnotizante?

O seu perfume conseguia me deixar encantada tanto quanto a sua voz.

Continua....  

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