Hope 03

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― Sobre a proposta de antes... Já decidi. Eu quero escutar a sua voz todos os dias – Falei para o espelho, treinando pela vigésima vez ao imaginar a expressão de Alexander, como se eu fosse atrevida ao bastante para pedir isso a ele. Eu estava perdendo o restante de sanidade que possuía, e isso era um fato.

Meneei a cabeça ao balançar meus cabelos antes de dar as costas ao espelho que tinha no banheiro e seguir para a sala, liguei a televisão imaginando que o barulho seria suficiente para que eu esquecesse a voz dele, mas não foi.

Continuei recordando de sua voz e agora de sua expressão.

Qual o meu problema?

Pensei realmente frustrada ao deitar no sofá sem me preocupar com o frio que iria sentir, já que usava apenas uma blusa branca que chegava até o meio das minhas pernas. Fechei os olhos, os abrindo em seguida assim que lembrei que não havia perguntado sobre o salário quando sai da cafeteria.

― Amanhã posso perguntar a ele – Sorri ao pensar em sua voz novamente.

***
Eu não estava ansiosa por talvez escutar a sua voz novamente.

É claro que não.

Eu apenas estava curiosa sobre o meu salário.

Foi o que me peguei falando a mim mesma ao abrir a porta da cafeteria no dia seguinte, um pouco mais cedo do que eu deveria chegar, e como esperava, encontrei Alexander sozinho limpando as mesas.

Olhei para os lados apenas para ter a certeza de que Paul não estava por perto antes de observá-lo com mais cuidado. Mesmo na calça jeans e blusa branca, ele continuava sendo atrativo e eu duvidava muito que ele conseguisse ficar feio com qualquer coisa que colocasse.

― Apenas pare e volte aos seus sentidos – Acabei falando em voz alta. Fechei os olhos por alguns segundos esperando que ele se virasse e me olhasse como uma estranha, o que não aconteceu. Ele estava me ignorando novamente. Provavelmente ele vivia imerso em seus próprios pensamentos para nunca perceber quando eu estava por perto ou me ignorava de proposito. – Alexander? – O chamei ao me aproximar, tocando em seu ombro, e assim como da última vez, ele se virou assustado. – Desculpa novamente – Acabei falando ao sorrir. – Bom dia cheguei um pouco mais cedo espero que não tenha problema – Ele negou ao balançar a cabeça. Eu queria escutar a sua voz. – Paul já chegou? – Ele negou novamente sem dizer uma única palavra. Continuei o encarando esperando que ele falasse alguma coisa, mas Alexander parecia envergonhado por algum motivo. Ele abaixava seus olhos constantemente. – Vou me trocar – Suspirei ao passar por ele assim que percebi a minha frustração em não conseguir escutar a sua voz pela manhã. Fui em direção a sala dos funcionários, encontrando o meu avental em cima da mesa dobrado como da última vez. Retirei a blusa da bolsa, troquei de roupa e coloquei o avental ao manter um sorriso no rosto.

O meu objetivo do dia era escutar a voz dele novamente.

Mas assim que abri a porta acabei me deparando com Paul. Por mais que eu estranhasse o comportamento dele, precisava admitir que ele era bonito e seu sorriso dava a impressão de ser carismático.

― Chegou bem cedo – Ele falou ao me olhar de cima a baixo. – De qualquer forma, tem tempo livre hoje após o trabalho? – Acabei afirmando por reflexo. Eu não tinha outros planos, mas queria ter perguntado o motivo antes. – Precisa aprender linguagem dos sinais – Falou friamente fazendo com que eu me lembrasse da condição ao ser empregada.

― Sem problemas, mas por que preciso aprender? Tem muitos clientes que não conseguem escutar? – A minha pergunta pareceu ser ridicularmente patética diante de seu olhar de desprezo misturado com perplexidade. – Bem, realmente não me importo, só estava curiosa.

― Ainda não percebeu? – Ele perguntou com um olhar repleto de perplexidade. – Alexander é surdo. Ele não consegue escutar.

O olhei aguardando que ele sorrisse e falasse que estava brincando, mas isso não aconteceu.

― Mas ele respondeu quando falei com ele – Comecei a repassar todas às vezes em que tinha falado alguma coisa com ele em minha mente.

― Leitura labial – Paul deu de ombros como se estivesse explicando as vogais a uma criança. Ele realmente não era uma pessoa com bom temperamento. – Ele não é surdo de nascença e como você pode perceber, ele consegue falar, mas não se sente bem fazendo isso. Pensei que já tinha contado isso para você. – Ele desviou o olhar ao falar isso. – Quando terminar, não vá para casa. – Falou ao passar por mim e entrar na sala me deixando confusa para trás.

Eu nunca tinha imaginado que ele não pudesse escutar, o que na verdade fazia de mim uma pessoa lerda. Sempre que eu o chamava, ele não atendia e quando o tocava se assustava.

Devo ter parecido indelicado e cruel para ele. O que ele deve estar pensando de mim?

Se eu estivesse em seu lugar, me sentiria solitária e acharia que poderia estar se divertindo as minhas custas.

Assim como fizeram comigo.

Ergui a cabeça ao ir em direção a ele, na entrada da cafeteria. E como se fosse um sinal do universo, ele se virou ficando de frente para mim. Alexander ainda segurava o regador quando manteve o seu olhar em mim.

― Me desculpa. Eu fui grosseira com você, quero dizer, deveria ter percebido que não conseguia escutar mesmo que Paul não tivesse me falado. Prestarei mais atenção e vou aprender como me comunicar com você. – Disse séria ao encará-lo. Ficamos daquela forma por mais algum tempo até que a vergonha ficou estampada em minha cara. Alexander não falava nada, apenas mantinha o seu olhar em mim, enquanto eu havia falado tudo aquilo por impulso. Virei de costas prestes a me esconder em algum lugar por alguns minutos quando parei. A sua voz continuava linda.

― Não precisa se desculpar por algo assim. – Eu realmente queria me virar para encará-lo, mas somente a sua voz era suficiente para me fazer suspirar e esquecer meus problemas. Esperava que se continuasse de costas, ele falasse ainda mais. – E não precisa se esforçar para falar comigo, posso ler seus lábios. – Ao escutar isso, me virei. Ele tinha o rosto levemente avermelhado ao mesmo tempo em que levou a mão até seus cabelos, bagunçando-os. Ele parecia realmente constrangido.

― Mas se eu não souber outra forma, será uma conversa unilateral, não? – Falei sorrindo levemente. – Por mais que você possa ler meus lábios, existem outras formas de comunicação. Eu quero conversar com você de forma apropriada e fazer com que se sinta confortável ao meu lado.

Mesmo que eu não consiga escutar a sua voz.

O rosto dele ficou ainda mais vermelho, o que estranhei. Eu não tinha falado nada demais, certo?

― Vou começar limpando o banheiro – Disse ao me virar fugindo de seus olhos, mas mantendo a recordação de sua voz em minha mente. 

CONTINUA.... 

Que coisa fofaaaa!!!!! Eu estou achando a Dana e o Alexander as coisas mais fofas de todo o universo.. 

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