Hope 06

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Não estava esperando que ele me atacasse assim que eu passasse pela porta de sua casa, obviamente que não, mas eu realmente fiquei surpresa em como ele se comportou a partir do momento que passamos pela cerca de sua casa. Ele manteve uma distancia a todo instante sempre olhando para baixo, como se estivesse desconfortável ou envergonhado por algum motivo que eu desconhecia. O seu jardim conseguia ser exatamente como imaginei, repleto de flores. As flores estavam espalhadas diversificando-se pelas cores e espécies. Alexander era uma pessoa realmente gentil. Uma vez, meu avô havia me dito que poderia conhecer a verdadeira personalidade de alguém apenas observando a forma como a pessoa cuidava de uma planta.

Se fosse assim, Alexander era gentil e extremamente cuidadoso. Ele era o tipo de pessoa que eu sempre imaginei não existir.

E talvez fosse por isso que eu sempre o olhasse e sua voz me fascinasse.

Provavelmente era por isso que eu mantinha a minha atenção em suas costas largas enquanto ignorava o meu nervosismo por estar entrando em sua casa. A primeira impressão que eu tive foi que parecia uma casa organizada demais para um homem viver sozinho, pelo menos dadas as minhas experiências anteriores em visitar homens que moravam sozinhos. A sala tinha um sofá cinza de dois lugares, uma poltrona ao lado da janela, uma televisão de tela plana e um tapete felpudo. Era reconfortante e acolhedor, mas ainda assim não parecia ter nenhum objeto pessoal além de dois livros que estavam no chão.

― Sua casa fica longe? – Alexander perguntou atraindo a minha atenção. Virei, o encarando segurando o sorriso que insistia em sair sempre que escutava sua voz. Neguei com um aceno de cabeça dizendo em seguida que morava a poucos minutos, e ele pareceu se preocupar já que olhou para o relógio em seu pulso. – Vou fazer alguma coisa para comer. Sente, fique confortável. – Ele disse me olhando fixante como se aguardasse alguma resposta, apenas concordei ao me sentar no sofá. No mesmo segundo, ele se virou e sumiu da minha vista.

Alexander era uma pessoa gentil demais.

Gentil o suficiente para que eu possa começar a pensar bobagens.

Meneei a cabeça ao colocar a bolsa no sofá, escorregar o meu corpo até sentar no chão e pegar os livros. Eu sempre fui uma pessoa curiosa e com certeza não deixaria aquela oportunidade passar. Queria conhecer mais sobre a pessoa que me ajudou para encontrar uma forma de ajuda-lo. Basicamente senso comum.

Os dois livros eram sobre culinária.

― Ele trabalha bastante. Deveria descansar mais – Acabei falando ao colocar os livros no lugar novamente e erguer o rosto, deparando com Alexander. Muito tempo atrás, antes de tudo acontecer, não era o tipo de pessoa que se assustava com facilidade ou se impressionava com a gentileza das pessoas, contudo agora tudo fazia com que eu tivesse uma reação um pouco exagerada. Quando vi seus olhos, me olhando fixamente, fiquei nervosa e um pouco assustada. Ele se movia silenciosamente. – Vamos começar a aula? – Perguntei como uma forma de esconder o que vinha em meu interior. Ele negou antes de me agraciar com a sua novamente.

― Tem algo que não come ou que não pode comer? – Sua pergunta poderia ser vista como algo casual, mas para mim demonstrou mais uma vez uma gentileza que eu não recebia há muito tempo.

― Sou do tipo que come de tudo – Sorri – Coisa que você nem imagina posso comer – Mais uma vez, ele ficou vermelho ao sorrir levemente antes de me dar as costas e sair da sala. Alexander parecia ser uma pessoa bem tímida.

Ele tem namorada?

Se ele fosse casado teria alguma coisa dela na sala, certo?

Não estava preocupada com o fato dele ser casado, mas sim dela entender errado a situação. Sim, era apenas isso.

Você é casado?

Não era uma boa forma de perguntar isso. Não posso ser tão direta.

A sua casa é grande. Mora sozinho?

É um pouco mais sutil. Talvez eu use isso.

Ou talvez eu possa ficar quieta. Ele ser casado ou ter alguém em sua vida não me diz nada. Somos apenas uma funcionária desesperada e um gentil empregador.

― Está pronto – Avisou afastando meus pensamentos indevidos mais rápido do que eu realmente esperava. Fez um sinal para que eu o seguisse, levantei e fui em sua direção. Andei por um breve corredor antes de olhar para duas portas próximas a cozinha. Uma deveria ser o seu quarto e a outro o banheiro. – Espero que goste – Sua voz tão sedutora se tornou realmente gentil. Olhei em sua direção, surpresa por ver o vaso de flores no centro da mesa oval. – Sente-se – Apontou para a cadeira em frente a sua, todavia o que realmente atraiu a minha atenção foi a comida que estava servida no prato em minha frente. Macarrão com frutos do mar. Meu prato favorito.

Como uma boa convidada não me fiz de rogada e esperei que ele falasse  para  comer. Comecei a comer sem nem ao menos olhar para ele, ansiosa demais para comer algo que gostava. Ansiosa para comer algo do meu passado sem me recordar de tudo que aconteceu. Mastiguei da forma mais educada que conseguia naquelas circunstancias sem nem me dar conta que algumas lágrimas escapavam de meus olhos contra a minha vontade. Deveria estar parecendo uma louca.

Assim que parei de comer, limpei meus olhos com o dorso da mão e o encarei aguardando enxergar em seus olhos medo ou talvez compaixão pelo meu estado instável, contudo ele sorriu e disse que estava feliz por eu ter gostado da comida.

Ele era algum anjo?

― Sim, estava muito gostosa. Obrigada – Agradeci novamente fazendo o sinal que havia aprendido. – Ah, sua casa é muito bonita. Deve ser difícil dormir sozinho sempre, não é? – Ele não respondeu por alguns instantes. Alexander encarou-me sem nem piscar por alguns segundos até pigarrear, desviando o olhar, acomodando-se na cadeira.

― Como sabe...? – Sua voz pareceu trêmula, abalada provavelmente, mas ainda assim encarou-me. Seu rosto estava ligeiramente avermelhado.

Deveria falar que foi uma forma sutil de perguntar se ele era casado ou se tinha namorada?

― Não vi nenhum toque feminino na sala, por isso perguntei - O que não era exatamente uma mentira. – Desculpa se isso te incomodou. Parece que eu consigo te deixar desconfortável com muita facilidade. – Sorri sem graça antes de suspirar.

Eu deveria ir embora?

― Não fico incomodado. Você não faz com que eu me sinta assim – Eu realmente gostava do som de sua voz, mas talvez tenha sido a primeira vez que fiquei mais impressionada pelo seu olhar firme do que pela sua voz. – Na verdade, fico relaxado ao seu lado.

Relaxado?

Eu era a única que ficava nervosa quando estávamos juntos?

Mesmo que eu ainda fosse à única nervosa fiquei feliz em escutar isso. Fiquei feliz por me sentir especial.

Especial para a pessoa que havia me ajudado.

― Isso é bom – Respondi sem saber ao certo o que deveria falar naquela situação. Desviei o meu olhar, constrangida, até escutar o barulho da cadeira. Ele estava retirando os pratos da mesa.

Uma convidada ajudava, certo?

Fiz o mesmo ansiosa por ser útil para o meu chefe quando parei atrás dele segurando o meu prato. Ele não pareceu ter percebido, já que no segundo seguinte nossos corpos colidiram, ou melhor, ele se virou, grudando nossos corpos. O prato que eu segurava caiu no chão se partindo em quadro pedaços, o braço dele em algum momento rodeou a minha cintura impedindo que eu caísse, e logo nossos corpos estavam grudados.

Alexander manteve o seu olhar em meu rosto. Fixamente. Longamente sem nem piscar. Meu olhar acabou indo em direção aos seus lábios e sem pensar fechei meus olhos.

― Você se machucou? – Ele perguntou aparentando desespero.

Se machucar a minha dignidade contasse, sim.

Neguei ao abrir os olhos, colocando minhas mãos em seu peito, o afastando. Agradeci, me desculpei pelo prato quebrado e pedi para ir ao banheiro.

Eu havia feito uma merda gigante.

Qual era o meu problema, afinal? 

CONTINUA...

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